Jaime Spitzcovsky

Jornalista, foi correspondente da Folha em Moscou e Pequim.

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Israel e o dilema EUA-China

País quer se aproximar de Pequim, mas enfrenta resistência de Washington

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Protagonistas de uma das mais sólidas parcerias no cenário internacional, Donald Trump e Binyamin Netanyahu encontram nas relações com a China fonte de intensa fricção. 

Washington pressiona o aliado histórico a limitar os laços com Pequim, mas o governo israelense resiste e busca um equilíbrio, para proteger vínculos com os EUA e, ao mesmo tempo, surfar na maré econômica chinesa.

Neste ano, em meio à crescente guerra comercial sino-americana, a Casa Branca advertiu Israel sobre a aproximação com Zhongnanhai, sede do governo chinês. O secretário de Estado, Mike Pompeo, declarou que seu país poderia “reduzir o compartilhamento de informações” com o aliado, enquanto John Bolton, assessor para assuntos de segurança nacional, defendeu freios na cooperação israelense com a China nos campos da tecnologia e telecomunicação.

Netanyahu, apesar da pressão, coloca Pequim em posição de destaque na sua bússola diplomática. Visitou o país em 2013 e 2017, além de, em outubro passado, recepcionar o vice-presidente chinês, Wang Qishan, em Jerusalém. 

 

À época, Netanyahu falou em costurar acordo de livre comércio com o gigante asiático, num processo ainda em negociação e que corresponderá a um passo audacioso para aprofundar o relacionamento em franca expansão nos últimos anos. 

Israel corteja o investimento e o mercado chinês, enquanto a China busca inovações israelenses em agricultura, tratamento de água, segurança cibernética e contra terrorismo.

Pequim também mira Israel como peça importante na estratégia de ampliar sua presença no Oriente Médio, região fulcral na chamada “Nova Rota da Seda”, projeto chinês arquitetado para aumentar influência econômica e política por meio do investimento em infraestrutura numa escala global. 

 

Empresas da China já ganharam contratos para expandir portos israelenses em Haifa e Ashdod. Capital chinês adquiriu a Tnuva, maior empresa israelense de laticínios, a Adama, titã na área de agroquímicos, e investiu em startups, enquanto o intercâmbio em tecnologia avança também em cooperações entre universidades.

A China também mantém laços relevantes com o Irã, arqui-inimigo de Israel. Os EUA, naturalmente, citam Teerã como forma de pressionar o governo israelense a rever sua estratégia.

Em 1953, o então premiê de Israel e patriarca da independência, David Ben-Gurion, publicou o ensaio “Israel entre as Nações” e apontou a importância de “potências ascendentes no Oriente”, referindo-se à China e à Índia. Naquele momento, Pequim ainda vivia como refém da ortodoxia maoísta, enquanto os indianos navegavam no dirigismo estatal e na anemia econômica.

Oriundos de campos ideológicos distintos, Ben-Gurion (socialista) e Netanyahu (direita) convergiram na aposta nos países orientais, criando arestas com Washington. Nos anos 1950 e 1960, a estratégia do primeiro fracassou, pois China e Índia, movidas pela lógica da Guerra Fria, rejeitavam o flerte.

Livres da amarras ideológicas do século 20, Israel e os gigantes asiáticos se aproximam, enquanto o governo Trump aumenta a pressão para frear a aproximação

Até o momento, Netanyahu demonstra habilidade para navegar entre Washington e Pequim.

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