Jaime Spitzcovsky

Jornalista, foi correspondente da Folha em Moscou e Pequim.

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Xi Jinping rompe prática de antecessores e sinaliza permanência no poder

Tensão com EUA e fantasma do Partido Comunista Soviético são senhas para discurso de regime forte

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A década prestes a começar trará momentos cruciais nas disputas entre EUA e China, enquanto o líder Xi Jinping aprofundará a concentração de poderes, a ganhar novos sinais em recente encontro do Partido Comunista Chinês, em Pequim.

Em outubro, o hermético mundo dos mandarins testemunhou uma de suas cerimônias mais relevantes. Realizou-se reunião plenária do Comitê Central, uma das principais instâncias da labiríntica
estrutura de poder do partido.

Analistas se debruçaram a fim de traduzir movimentações políticas. O ex-premiê australiano Kevin Rudd escreveu: “Em meio a uma onda de promoções de figuras leais a Xi, nenhum potencial sucessor emergiu —como já havia ocorrido no passado—, proporcionando o sinal mais forte até agora da permanência de Xi no poder num futuro previsível”.

Ao destruir horizontes de uma sucessão e intensificar concentração de poderes, o líder chinês quebra tradições criadas por Deng Xiaoping, o arquiteto das reformas responsáveis pela decolagem
econômica iniciada em 1978.

O modus operandi da elite comunista se baseava na liderança coletiva, minada agora pela estratégia personalista dominante em Pequim.

Deng, ao implementar as mudanças, almejava tirar a China da pobreza, recuperar o prestígio global do país e, sobretudo, manter o Partido Comunista no poder. Mas Deng entendia que a manutenção do regime de partido único dependia de um afastamento em relação à tragédia histórica capitaneada por seu antecessor, Mao Tse-tung (1893-1976).

A revolução de 1949 impôs um culto à personalidade responsável por transformar Mao em um imperador vermelho.

De olho na modernização, Deng criou mecanismos para evitar a repetição de um cenário maoísta e introduziu, além da liderança coletiva, o conceito de “líderes discretos”.

A ideia consistia em exaltar a “reconstrução nacional”, em vez de cultuar soberanos. Efígies de Deng Xiaoping em cartazes, selos postais ou moedas são raridades. Nomes de líderes comunistas, escolhidos a dedo pelo arquiteto das reformas, como Jiang Zemin e Hu Jintao, ecoavam com parcimônia na mídia internacional.

Deng também introduziu a prática de os mandarins governarem, em média, por até dez anos. Xi rompeu a lógica, dissolveu a liderança coletiva e assumiu elevado protagonismo, além de enterrar perspectivas de limites à sua permanência no poder.

Xi substituiu Hu Jintao no comando em 2012, na primeira troca de guarda sem influência de Deng (1904-1997). E o atual líder chinês, em vários discursos, destacou um objetivo fundamental: evitar o mesmo destino do Partido Comunista da União Soviética, ou seja, a debacle.

Sobre o fracasso da URSS, Xi costuma destacar a “liderança fraca e hesitante” do último secretário-geral no Kremlin, Mikhail Gorbatchov. A leitura corresponde à senha para, em nome de evitar uma derrota à soviética, justificar a concentração de poderes.

Os tempos desafiadores nas relações com os EUA também alimentam o discurso de Xi sobre a necessidade de um “poder fortalecido”. Na próxima década, portanto, vai prosseguir a modernização econômica, e o regime vai apertar amarras.

A pergunta é até quando sobreviverá a fórmula “economia aberta, política fechada”.​

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