Joel Pinheiro da Fonseca

Economista, mestre em filosofia pela USP.

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Joel Pinheiro da Fonseca

Tem certeza que quer mais quatro anos de Bolsonaro?

Se reeleito, presidente terá autorização popular para ir ainda mais fundo na destruição institucional

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Quando Roberto Jefferson atirou contra os policiais federais que foram prendê-lo, tivemos um exemplo vivo de como é o discurso bolsonarista trazido à prática. Usou de seu sagrado direito de possuir armas à vontade para resistir contra uma autoridade que ele considera injusta e ditatorial.

Um jornalista que cobria a prisão de Roberto Jefferson foi agredido e teve que ir para o hospital. Não é a primeira vez e não será a última: quando a imprensa é demonizada, a violência popular é sua consequência natural. O próprio Bolsonaro não se furtou de insultar jornalistas e até espalhar calúnias graves, como a de que uma jornalista teria se prostituído para conseguir material contra ele.

O presidente Jair Bolsonaro (PL) - Evaristo Sá - 24.out.22/AFP

Faltam cinco longos dias para a eleição. Quais surpresas sujas podem estar guardadas para esta reta final? Que operações de WhatsApp, que fake news espetaculares, que chamados à ação?

Caso Bolsonaro perca, será um perdedor melhor ou pior do que Trump? Tentará algum tipo de sublevação popular contra o resultado das urnas, caso ele lhe desfavoreça? Acredito na solidez de nossa democracia e no fracasso de qualquer intentona desesperada. Mas o mero fato de que as perguntas acima são cabíveis já salienta o quanto as instituições mais elementares da democracia estão sob ataque do governo que deveria protegê-las.

O governo Bolsonaro é pródigo em conjurar inimigos: no início do mandato era o Congresso. Hoje, o Congresso encontra-se efetivamente comprado pelo orçamento secreto —a legalização do tipo de transação que antes estamparia as manchetes dos jornais. Formalmente legal apesar da baixa transparência, irriga a corrupção que se espalha por todo o território nacional. Mais do que nunca, o Orçamento virou uma moeda de troca com o baixo fisiologismo e garantiu a reeleição do centrão.

Com os órgãos de investigação e controle, impera a lógica da submissão e do aparelhamento. Um PGR subserviente, policiais federais e fiscais ambientais competentes afastados de suas posições, militares agraciados com milhares de cabides comissionados.

O último obstáculo tem sido o Supremo, que ele agora terá números no Senados para alterar a seu bel-prazer: além das duas nomeações previstas para o próximo mandato, poderá emplacar o impeachment de Alexandre de Moraes e, se julgar necessário, o aumento do número de cadeiras, sempre com aliados.

Enquanto a mera sobrevivência da democracia se transforma no assunto principal da vida pública nacional, é fácil perder de vista as diversas áreas de atuação do governo, que deveriam ser aquilo que justifica sua existência: os serviços que ele presta à sociedade. Educação, meio-ambiente, saúde, relações exteriores, tudo terra arrasada.

Na economia, as promessas utópicas de Paulo Guedes deram lugar aos gastos bilionários para comprar votos. Henrique Meirelles já estima um rombo da ordem de R$ 400 bilhões para 2023, como resultado das "bondades" do período eleitoral. Qualquer ilusão de "teto de gastos" já foi aniquilada pelo Ministério Guedes.

Se Bolsonaro vencer, terá recebido a autorização popular para ir ainda mais fundo em sua agenda de destruição institucional, e terá um Congresso ainda mais amigável que o atual. Sendo assim, antes de votar no domingo, pergunte-se: o Brasil merece passar por mais quatro anos disso?

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