José Manuel Diogo

Diretor da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Brasileira, é fundador da Associação Portugal Brasil 200 anos.

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Descrição de chapéu Folhajus TSE

Judicialização da política leva Brasil a dilema entre 'democracia combativa' e 'justiceiros'

Atuação pujante do Judiciário se tornou indispensável, porque recentemente o Poder Executivo ameaçou a própria democracia

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Em uma democracia, os Poderes Judiciário, Executivo e Legislativo devem estar em equilíbrio. Quando um ou dois desses Poderes fraquejam, o terceiro tende a predominar, e, assim, a democracia corre riscos. A exaltação de um acarreta a exposição dos demais, enfraquecendo a estrutura como um todo.

O Brasil vive hoje uma fase de intensa fragmentação política. Com um Congresso formado por inúmeros partidos e um Executivo com desafios significativos de articulação, o Judiciário, em especial o STF, tem se destacado ao intervir na solução de problemas críticos que deveriam ser resolvidos por seus pares.

O presidente do TSE, o juiz Alexandre de Moraes, durante sessão na corte, em Brasília
O presidente do TSE, o juiz Alexandre de Moraes, durante sessão na corte, em Brasília - Adriano Machado - 30.jun.23/Reuters

Esse cenário de "judicialização da política" será consequência da fraqueza dos demais Poderes, mas a partir de um certo ponto pode também ser a causa. Quando Legislativo e Executivo se mostram incapazes de agir efetivamente e de chegar a consensos, a responsabilidade (e visibilidade) do Judiciário aumenta.

Devemos recordar que o Judiciário é, por natureza, uma instituição reativa, não proativa. Sua principal função é interpretar as leis, não criá-las, embora as demandas atuais possam indicar uma direção oposta.

O papel ampliado do Judiciário, especialmente do STF, apresenta desafios consideráveis. A necessidade de intervir em questões geralmente administradas pelos Poderes Executivo ou Legislativo força os juízes a atuarem de maneira mais visível, expondo suas decisões a um intenso escrutínio.

Isso nos leva a um dilema. Os juízes têm de manter a integridade do Estado de Direito e fazer cumprir a Constituição se os outros Poderes não o fazem. Mas correm o risco de serem vistos como "justiceiros", ultrapassando seus limites institucionais e assumindo um papel que tradicionalmente não lhes pertence.

Se o Judiciário parece ter excesso de poder, a democracia pode se enfraquecer, mas é preciso lembrar que essa "democracia combativa" se tornou indispensável, porque recentemente foram elementos do Poder Executivo a ameaçar diretamente a própria democracia, obrigando o Judiciário a sair em sua defesa.

Em uma democracia saudável, a harmonia entre os Poderes constitucionais é crucial, e todos devem estar cientes desse desafio, agindo com transparência, cautela e respeito pelos limites constitucionais. Em paralelo, os Poderes Executivo e Legislativo devem se esforçar para cumprir suas responsabilidades.

Os cidadãos têm papel crucial neste contexto. Devem exercer seus direitos democráticos, manter-se informados e cobrar seus líderes. A democracia é um esforço coletivo, e sua preservação requer a participação de todos os setores da sociedade. Ao ignorar isto, os servidores públicos, independentemente de seu poder de decisão, impedem o Brasil de se fortalecer na cena internacional.

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