Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Juca Kfouri

Ganhou quem tinha de ganhar. Mas, de fato, é preciso mudar o torneio da Fifa

Taça Intercontinental era mais divertida e proposta da Fifa de fazer novo Mundial parece inviável

Real Madrid foi campeão mundial ao vencer o Al Ain
Real Madrid foi campeão mundial ao vencer o Al Ain - AP/Kamran Jebreili
São Paulo

O Real Madrid não está jogando o melhor futebol do mundo, mas ninguém negará que, com o time atual, poderá jogar amanhã.

Duro teria sido ver o Al Ain campeão mundial. Quem?

Torneios com mata-mata frequentemente não consagram o campeão como o melhor time e não há o que fazer.

Porque, por exemplo, não se pode jogar uma Copa do Mundo em turno e returno e pontos corridos para apontar o melhor.

Por outro lado, como pensar um Mundial de Clubes sem representantes de todos os continentes, argumentam os mais rigorosos, muitas vezes beirando à pura chatice, embora as recentes classificações do Mazembe, do Raja Casablanca, do Kashima Antlers e do Al Ain fortaleçam suas ponderações.

Pois é. Fato é que a Taça Intercontinental era mais divertida e a proposta da Fifa de fazer um novo Mundial, com 24 participantes e a cada quatro anos parece inviável.

A Europa não quer e ponto final.

Nem sabemos como e onde será o próximo Mundial, sabemos apenas que o terminado nos Emirados Árabes foi um fiasco, com média de público inferior a 18 mil torcedores por jogo, menor até que a do Brasileiro.

Porque recheado de clubes insignificantes, a ponto de o jornal The New York Times ter publicado um artigo, antes da final, anunciando que o Real Madrid disputava um torneio anônimo contra um time que você nunca ouviu falar (“Real Madrid, in a Tournament You Never Heard Of, Plays a Team You Never Heard Of”).

Só faltava mesmo o representante do país sede ser o campeão ao se aproveitar dessas chances que o futebol proporciona e do momento que o time madridista poderia ter propiciado.

Bastaria para botar todos os campeões mundiais em dúvida, apesar de, cá entre nós, para ficar apenas entre os brasileiros que chegaram lá, além do Santos e do Flamengo, nenhum outro ao ganhar o título era o melhor do mundo.

O Santos de Pelé era, no início dos anos 1960 e, também, o Flamengo de Zico no princípio dos 1980.
São-paulinos dirão o mesmo do seu time, no começo dos anos 1990, mas inferior ao Milan de Baresi e Maldini e dos holandeses Rijkaard, Gullit e Van Basten, tricampeões italianos no mais atraente e disputado campeonato nacional de então, com campanha invicta em 1991/1992, timaço montado por Fabio Capello. 

O Tricolor tinha Raí no auge, Cerezo no ocaso, Cafu e Muller ainda verdes, Palhinha e, sobretudo, Telê Santana.

Em 1993, quando os tricolores derrotaram o Milan, os holandeses não estavam mais e nem o Milan tinha sido o campeão europeu, mas o Olympique de Marselha, que acabou punido por ter manipulado resultados no Francês.

Lembremos que na era do Mundial já organizado pela Fifa, embora o Corinthians de 2000 fosse muito bom, não era superior ao Real Madrid com quem empatou no Morumbi.

Depois, o São Paulo e o Corinthians ganharam finais sempre por 1 a 0, com Rogério Ceni e Cássio eleitos os melhores dos jogos, como o Inter, com gol de Gabiru, bateu o Barcelona de Ronaldinho Gaúcho, Xavi e Iniesta.

Se nem mesmo a Copa do Mundo de seleções aponta sempre o melhor, que o digam a Hungria de 1954, a Holanda de 1974 e o Brasil de 1982, que dirá a de clubes, num modelo que força a barra da geografia e esquece que as fronteiras do Planeta Bola são bem diferentes.

Aliás, a bem da verdade, assim como a NBA aponta o melhor time do basquete mundial, a Liga dos Campeões da Europa desempenha o mesmo papel, apesar do Chelsea de 2012 ser a exceção para confirmar a regra ao vencer o Barcelona.

A Fifa que se vire.

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