Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Juca Kfouri

Submeter jogadores ao perigo do coronavírus deveria ser impensável

Como exigir que os atletas não se abracem, não troquem seus fluidos?

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

O San-São agradou e serviu para Pablo se recuperar diante dos olhos, pela TV, do torcedor tricolor.

Desértico, o Morumbi parecia um gigante mal-assombrado.

Mudo, recebeu o gol do visitante na primeira finalização, com quase meia hora do clássico. Calado, não pôde festejar os dois tentos da virada, de São Pablo.

São Paulo e Santos disputaram clássico sem público no último sábado (14)
São Paulo e Santos disputaram clássico sem público no último sábado (14) - Eduardo Knapp/Folhapress

Não há o que justifique fazer jogos sem torcida, muito menos submeter os jogadores ao risco do coronavírus.

Lave as mãos, não toque no próximo, mantenha distância e...gooool!!!

Como exigir que os jogadores não se abracem, não troquem seus fluidos?

Submetê-los a tamanho perigo deveria ser impensável.

Mas se da CBF e da FPF não se pode esperar outra coisa, e se da cartolagem dos clubes também não, os principais interessados, as vítimas potenciais, os atletas, deveriam ter dito não, se negado a jogar, como fez LeBron James quando a NBA cogitou em manter os jogos, mas sem público.

Cadê o sindicato? Ora, o sindicato...

Se a noite do sábado (14) no Morumbi foi triste, pior ainda aconteceu à tarde, em Limeira, com 14 mil torcedores para ver Internacional e Palmeiras, num 0 a 0 penoso.

Só as cabeças usadas apenas para equilibrar as cartolas justificam a presença do torcedor no Limeirão, distante 145 quilômetros do Morumbi. Aliás, que ficasse a 2.000, porque nada justifica, em lugar nenhum do mundo nos dias atuais, reuniões com mais de cinco pessoas, e assim mesmo se o motivo for urgente e não houver ninguém com mais de 60 anos nela.

Diante da pelegada que fez do sindicato meio de vida, basta dizer que seu presidente, Rinaldo Martorelli, ocupa o trono desde 1993, há mais tempo do que durou a última ditadura no Brasil, é útil ler o que escreveu o desembargador da Justiça do Trabalho Jorge Luiz Souto Maior: "Se as confederações associativas não suspendem a realização das atrações esportivas, cumpre às entidades que a integram, notadamente quando ostentam a posição de empregadoras dos atletas que lhes prestam serviços, comunicar a sua não participação nos eventos. E se as entidades não o fazem, caberá aos atletas, individual ou coletivamente, exercer o direito, que é também uma obrigação, de não trabalhar, isto é, de não realizar a correspondente prática esportiva.

A realização de partidas de futebol com portões fechados é uma medida incompatível com a gravidade do problema porque não evita o deslocamento de diversos profissionais, incluindo jornalistas, aos locais do evento, e expõe os atletas ao risco extremo dos contatos diretos.

Os jogadores de futebol têm, portanto, o direito e a obrigação de não participar dos jogos marcados com portões fechados". Como fizeram os do River Plate.

O magistrado se refere aos casos de jogos sem torcida, mas adverte que o mesmo argumento vale ainda mais para os com, numa situação de pandemia.

Diante do sábado tão gritantemente estapafúrdio, supunha-se que alguma voz menos irresponsável da CBF ou da FPF se levantasse para suspender os jogos do domingo (15).

Qual o quê! A CBF demorou a agir.

Foram mantidos em Itaquera, sem público, e em Mirassol, com.

Para esta segunda-feira (16), sem, está previsto o dérbi campineiro. Deve ser cancelado.

Aqui não se deseja o mal de ninguém, mas na hipótese de algum participante de todos esses eventos adoecer, ou morrer, caberá processar os irresponsáveis.

LINK PRESENTE: Gostou desta coluna? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.