Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Juca Kfouri
Descrição de chapéu Coronavírus

O Fla-Flu da cloroquina

De repente, droga reforça o clima de antagonismo no país. Só faltava essa

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De todos que escrevem e falam sobre futebol no Brasil, apenas um poderia opinar sobre a cloroquina.

Cloroquina, cloroquina, que vai virar marchinha de carnaval.

Este um escreve aqui ao lado, e se chama Eduardo Gonçalves de Andrade, o doutor Tostão.

Médico e professor de medicina, segundo seus alunos, um senhor professor.

Quanto querem apostar a rara leitora e o raro leitor que ele não escreverá uma linha a respeito?

Porque tem noção do ridículo que é dar palpite sobre algo polêmico entre cientistas.

Mas o Brasil conseguiu ideologizar a cloroquina, cloroquina —que rima com vitamina e se encontra lá na esquina.

Será ela uma droga de direita?

A esquerda rejeita o remédio?

Vai que é de centro e serve em alguns casos e em outros não.

O que fazer?

Se consultar com um ex-capitão do exército que de remédios conhece, no máximo, os que comprou na farmácia, embora viva cercado de drogas em seu ministério e em casa?

Bolsonaro (sem partido) em visita a uma farmácia, sem equipamentos de proteção
Bolsonaro (sem partido) em visita a uma farmácia, sem equipamentos de proteção - Lucio Tavora/Xinhua

Ou com um playboy que chegou ao governo enganando o interior, como um dia encantou a capital, e agora surfa na onda da pandemia sem pudor?

Analistas políticos também não são os mais autorizados a tratar, tecnicamente, do tema.

Não se pode discutir a aplicação de um remédio como se fosse um jogo de futebol ou uma escolha eleitoral.

Quem jogou mais, Pelé ou Maradona?

Quem foi o melhor presidente da República, GV ou JK?

Elza Soares ou Elis Regina?

Arroz com passa ou arroz sem passa?

Ser ou não ser?

Ora, bolas, tenhamos todos um mínimo de sensatez para não entrar nesta bola dividida porque tudo deve ter limites.

E você, caso seja diagnosticado com a Covid-19, quer ou não uma dose de cloroquina, cloroquina —ou não entende patavina e deixa a cargo da medicina?

O New York Times publicou que Donald Trump é acionista do laboratório francês que fabrica o medicamento e por isso virou garoto-propaganda da cloroquina, cloroquina —a quem atribui força divina, apesar de ser sovina, tanto que sonega máscaras destinadas a outros países e desafina.

A guerra ao coronavírus tem ingredientes demais para que o país dos 200 milhões de médicos se mobilize em torno de algo sobre o qual não faz a menor ideia.

Sarriá de novo!

E a seleção brasileira perdeu outra vez para a Itália por 3 a 2...

Houve quem esperasse um truque do SporTV que transformasse a cabeçada de Oscar no empate em 3 a 3, mas a fabulosa defesa de Dino Zoff prevaleceu também no canal campeão.

O goleiro italiano admite que fez ali a maior defesa de sua longa carreira, tão longa que ao eliminar o Brasil no estádio de Sarriá, em Barcelona, tinha 40 anos.

Quem viu o jogo pela primeira vez há de concordar que naquele fatídico 5 de julho de 1982 a Itália mereceu a vitória, embora o empate fosse o resultado mais justo pela campanha dos dois selecionados até ali.

A Itália voltaria para casa de cabeça erguida e o Brasil seguiria em busca do tetracampeonato que, provavelmente, viria.

Ao olhar com olhos mais frios para 38 anos atrás, sinto muito mais que a ausência da taça a saudade de duas fabulosas figuras que brilharam na Copa de 1982: o Doutor Sócrates, que contava ter tido mau pressentimento ao empatar o jogo em 1 a 1 porque sonhara que faria o primeiro e o último gols brasileiros no torneio, e o fotógrafo J.B.Scalco, o Van Gogh dos Pampas, autor da fabulosa foto de Falcão ao comemorar o 2 a 2.

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