Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Juca Kfouri

Está chegando a hora de, como em 'Volver a los 17', recomeçar o que já fizemos

Precisamos sair do imobilismo imposto pela pandemia e soltar a voz nas estradas

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Como na canção consagrada pela argentina Mercedes Sosa (1935-2009), aproxima-se o momento de reviver o que fomos um dia, mais precisamente no ano de 1968, quando toda uma geração foi às ruas protestar contra a ditadura.

Como disse José Trajano, “os jovens terão de ficar em casa e torcer pelos avós”, referência aos que estão em vias de receber a segunda dose da vacina e que, 15 dias depois, talvez possam se manifestar pelas avenidas do Brasil.

E já há quem proponha a data, 26 de junho, 53 anos depois da célebre “Passeata dos 100 mil”, no Rio de Janeiro.

Multidão carregando faixas, em foto em preto e branco
"Passeata dos 100 Mil", manifestação da UNE (União Nacional dos Estudantes) contra o governo militar, no Rio de Janeiro, em 26 de junho de 1968 - Folhapress

Convenhamos que é ideia bem melhor que a do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, que quer botar 7.000 torcedores no estádio Mané Garrincha no dia 11 de abril, na decisão da Supercopa do Brasil entre Flamengo e Palmeiras.

O político quer assim premiar profissionais da saúde já imunizados, esquecido de que provavelmente Brasília e cidades-satélites seguirão precisando da assistência de nossos heróis.

Aos 49 anos, além do mais, o governador se revela um otimista, por fazer planos para daqui a 13 dias, numa região que também vive o caos promovido pelo menos ilustre de seus habitantes, o genocida.

Esse jogaço encontrou o mais simbólico dos estádios brasileiros para ser disputado, onde a corrupção em torno da Copa do Mundo de 2014 encontrou seu maior cemitério, enterrados lá o triplo do inicialmente previsto, nada menos que R$ 1.978.265.062,10, segundo o Tribunal de Contas do DF.

Era governador Agnelo Queiroz (PT), preso em 2017 e condenado definitivamente em 2020 pelo STJ por improbidade administrativa, ele que, médico, também presidiu a Anvisa.

A história é mesmo repleta de ironias, embora, no caso, trágicas.

“O arco das alianças penetrou em meu ninho
Com todo seu colorido passeou por minhas veias
E até a dura corrente com a qual nos prende o destino
É como um diamante fino que ilumina minha alma serena
O que pode o sentimento não o pode o saber
Nem o mais claro proceder, nem o maior dos pensamentos
Tudo o muda num momento qual mago condescendente
Nos afasta docemente de rancores e violências
Só o amor com sua ciência nos torna tão inocentes”
, diz a letra composta pela chilena Violeta Parra (1917-1967), que ao se suicidar deixou escrito que “é a vida quem comanda a morte e não o inverso”, ela, autora também de “Gracias a la vida”.

É hora sim de celebrar a vida, de sairmos do imobilismo imposto pela pandemia, esgotadas as panelas, inócuos os manifestos, hora de soltar a voz nas estradas.

Na última sexta-feira (26) o movimento “Direitos Já!” reuniu num ato virtual representantes de 14 partidos em apoio à CPI da Pandemia, e em desagravo ao comunicador Felipe Neto.

Frente ampla na prática, o arco incluiu antibolsonaristas do PSL, o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS), o deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ), o ex-prefeito Fernando Haddad (PT-SP), o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP), a senadora Simone Tebet (MDB-MS), a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), o guerreiro padre Júlio Lancelotti, incansável representante de Dom Paulo Evaristo Arns aqui na Terra, nada menos que 80 pessoas.

Oitenta que representam hoje algo próximo de 70% do país.

Que também serão representados por nós, os de 1968, pelo nosso futuro, de nossas filhas e filhos, netas e netos, por vocês, rara leitora e raro leitor.

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