Nove gols contra as frágeis seleções africanas de Gana e Tunísia engrossaram o ufanismo quanto as chances da seleção brasileira na Copa do Mundo do Qatar.
Voltemos à história: desde que ganhou a primeira Copa, na Suécia, em 1958, a seleção sempre é apontada como uma das favoritas e faz sentido. Não necessariamente como a favoritaça, termo da lavra de Arnaldo Ribeiro.
A conquista do bicampeonato, no Chile, em 1962, foi a exceção, porque saiu do Brasil como tal e confirmou, mesmo sem o Rei Pelé.
Daí para frente as três conquistas, em 1970, 1994 e 2002, foram obtidas por times que não viajaram com tamanho peso.
O timaço considerado como o melhor da história das Copas pela FIFA, o do tri no México, deixou o país vaiado por quase 60 mil torcedores, no Maracanã, depois da magra vitória por 1 a 0 sobre a Áustria, gol de Rivellino, no segundo tempo, com arremate de fora da área. Pela primeira vez, então, Jairzinho, Gérson, Tostão, Pelé e Rivellino jogaram juntos, embora apenas por cerca de 20 minutos, quinteto que compunha o chamado "time do povo", mas que só convenceu o técnico Zagallo já em gramados mexicanos.
Nas demais vezes em que a seleção foi favoritaça deu-se mal.
Como em 1950, que dispensa detalhes, conhecidos até por quem nasceu ontem no Brasil —e no Uruguai.
Em 1982 também, porque quem tinha Toninho Cerezo, Paulo Roberto Falcão, Zico e Sócrates, não poderia perder, perder para ninguém. Pois perdeu, para a Itália, derrota tão doída que nem o palco de Sarriá existe mais, demolido 15 anos depois, como punição dos deuses dos estádios.
Brasileiro algum botava fé no time do tetracampeonato, em 1994, nos Estados Unidos, embora a cada jogo a imprensa estrangeira não entendesse porque éramos tão críticos da equipe de Carlos Alberto Parreira. O fato de pela primeira vez a seleção ter perdido um jogo nas eliminatórias, por 2 a 0, para a Bolívia, nas alturas de La Paz, era parte da explicação.
O penta, no Japão, em 2002, aconteceu quase como surpresa, porque até de Honduras a família Scolari havia perdido, na Copa América do ano anterior, por 2 a 0.
Certo jornalista, então, prometera virar cozinheiro se os hondurenhos eliminassem os brasileiros nas quartas de final. Ganhou um chapéu de Mestre Cuca e descumpriu a promessa.
Quatro anos antes, na França, Ronaldo Fenômeno e companhia eram favoritaços.
Contra os donos da casa, na decisão, veio a convulsão do craque e indiscutível 3 a 0 no Stade de France, enlouquecido pela Marselhesa em coro tão vibrante como quando os derrotados nazistas abandonaram Paris na Segunda Guerra Mundial.
E em 2006, de novo, os favoritaços do quarteto mágico, Kaká, Ronaldinho Gaúcho, Ronaldo Fenômeno e Adriano, levaram um baile outra vez dos franceses comandados por Zinedine Zidane, na Alemanha, e voltaram para casa pianinhos.
A rara leitora e o raro leitor serão dispensados de ler sobre o que aconteceu na segunda Copa do Mundo sediada pelo Brasil, em 2014. Porque ninguém merece.
Basta lembrar que era dado quase como uma impossibilidade a taça escapar em solo nacional mais uma vez. De fato, o impossível aconteceu. Só que não foi o hexa, e sim o 7.
Tudo isso para recomendar moderação no ufanismo, sem minimizar a satisfação das duas belas atuações brasileiras nos últimos amistosos antes do Qatar.
Cautela e canja de galinha…
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