Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Juca Kfouri

Apesar das vitórias, retrospecto recomenda calma com o ufanismo

Apenas uma vez, como favoritaça, a seleção brasileira ganhou a Copa do Mundo

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Nove gols contra as frágeis seleções africanas de Gana e Tunísia engrossaram o ufanismo quanto as chances da seleção brasileira na Copa do Mundo do Qatar.

Voltemos à história: desde que ganhou a primeira Copa, na Suécia, em 1958, a seleção sempre é apontada como uma das favoritas e faz sentido. Não necessariamente como a favoritaça, termo da lavra de Arnaldo Ribeiro.

Neymar (ao centro) comemora gol do Brasil contra a Tunísia com Lucas Paquetá (à esq.) e Raphinha
Neymar (ao centro) comemora gol do Brasil contra a Tunísia com Lucas Paquetá (à esq.) e Raphinha - Anne-Christine Poujoulat-27.set.22/AFP


A conquista do bicampeonato, no Chile, em 1962, foi a exceção, porque saiu do Brasil como tal e confirmou, mesmo sem o Rei Pelé.

Daí para frente as três conquistas, em 1970, 1994 e 2002, foram obtidas por times que não viajaram com tamanho peso.

O timaço considerado como o melhor da história das Copas pela FIFA, o do tri no México, deixou o país vaiado por quase 60 mil torcedores, no Maracanã, depois da magra vitória por 1 a 0 sobre a Áustria, gol de Rivellino, no segundo tempo, com arremate de fora da área. Pela primeira vez, então, Jairzinho, Gérson, Tostão, Pelé e Rivellino jogaram juntos, embora apenas por cerca de 20 minutos, quinteto que compunha o chamado "time do povo", mas que só convenceu o técnico Zagallo já em gramados mexicanos.

Nas demais vezes em que a seleção foi favoritaça deu-se mal.

Como em 1950, que dispensa detalhes, conhecidos até por quem nasceu ontem no Brasil —e no Uruguai.

Em 1982 também, porque quem tinha Toninho Cerezo, Paulo Roberto Falcão, Zico e Sócrates, não poderia perder, perder para ninguém. Pois perdeu, para a Itália, derrota tão doída que nem o palco de Sarriá existe mais, demolido 15 anos depois, como punição dos deuses dos estádios.


Brasileiro algum botava fé no time do tetracampeonato, em 1994, nos Estados Unidos, embora a cada jogo a imprensa estrangeira não entendesse porque éramos tão críticos da equipe de Carlos Alberto Parreira. O fato de pela primeira vez a seleção ter perdido um jogo nas eliminatórias, por 2 a 0, para a Bolívia, nas alturas de La Paz, era parte da explicação.

O penta, no Japão, em 2002, aconteceu quase como surpresa, porque até de Honduras a família Scolari havia perdido, na Copa América do ano anterior, por 2 a 0.

Certo jornalista, então, prometera virar cozinheiro se os hondurenhos eliminassem os brasileiros nas quartas de final. Ganhou um chapéu de Mestre Cuca e descumpriu a promessa.

Quatro anos antes, na França, Ronaldo Fenômeno e companhia eram favoritaços.

Contra os donos da casa, na decisão, veio a convulsão do craque e indiscutível 3 a 0 no Stade de France, enlouquecido pela Marselhesa em coro tão vibrante como quando os derrotados nazistas abandonaram Paris na Segunda Guerra Mundial.

E em 2006, de novo, os favoritaços do quarteto mágico, Kaká, Ronaldinho Gaúcho, Ronaldo Fenômeno e Adriano, levaram um baile outra vez dos franceses comandados por Zinedine Zidane, na Alemanha, e voltaram para casa pianinhos.

A rara leitora e o raro leitor serão dispensados de ler sobre o que aconteceu na segunda Copa do Mundo sediada pelo Brasil, em 2014. Porque ninguém merece.

Basta lembrar que era dado quase como uma impossibilidade a taça escapar em solo nacional mais uma vez. De fato, o impossível aconteceu. Só que não foi o hexa, e sim o 7.

Tudo isso para recomendar moderação no ufanismo, sem minimizar a satisfação das duas belas atuações brasileiras nos últimos amistosos antes do Qatar.

Cautela e canja de galinha…

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.