Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Juca Kfouri

Da ganância da máfia das apostas à nojenta homofobia, pobre futebol brasileiro

A ganância cria máfias de apostas assim como cria as pirâmides financeiras

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Há quem diga, e não são poucos, que o ser humano é um projeto que não deu certo.

Houvesse dado e não teríamos tanta gente na miséria pelo mundo afora, tanta fome e tanta ganância.

Ganância fartamente responsável pela miséria porque, é sabido, poucos têm muito e muitos têm pouco ou nada têm.

"A cada um de acordo com suas necessidades, de cada um de acordo com suas possibilidades", eis a utopia que segue apenas como utopia, cristã ou marxista.

Tudo isso para lamentar mais um escândalo no futebol brasileiro, com tantos jogadores envolvidos por se deixar seduzir por quadrilha de apostadores que se aproveitam da terra de ninguém das casas de apostas, criminosamente deixadas livres para operar diante da inação do governo passado.

Imagem colorida mostra homem, da cintura para cima, de costas,  carregando documentos embaixo do braço esquerdo; ele veste um colete preto onde está escrito polícia Gaeco, que é abreviação para Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado
Agente do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) de Goiás recolhe documentos durante operação Penalidade Máxima, que investiga fraudes dm apostas no futebol - Divulgação/MP-GO

Dinheiro, poder e vaidade compõem o trio responsável pela miséria humana.

Ninguém almoça ou janta duas vezes por dia, embora tantos não façam nem sequer uma refeição diariamente.

Como ninguém usa dois carros ao mesmo tempo, ou usa dois relógios, desde que não seja árbitro de futebol, ou veste duas camisas.

Quem tem dinheiro quer mais e mais e mais. Para quê? Fazer uma lápide com pedras preciosas? Ser cremado com fogo sagrado?

O poder é quase sempre voltado para os interesses de quem tem mais a ver consigo mesmo do que com os interesses da maioria e os vaidosos, em busca de notoriedade, são capazes dos gestos mais ridículos.

Canastrões são capazes de ir à velórios para aparecer mais de quem é velado, como pudemos ver recentemente nas cerimônias em torno do rei do futebol e da rainha do rock.

O resultado está aí: uma porção de atletas com suas carreiras precocemente encerradas porque se deixaram levar pela mentira do dinheiro fácil.

Uns se envolvem com pirâmides financeiras, outros com criptomoedas, há os que promovem empresas inidôneas e a esperteza engole o esperto, porque ou a polícia pega ou a sociedade despreza.

Dia desses um manobrista de famoso restaurante nos Jardins, em São Paulo, contava de cliente que chegou com o espelho retrovisor avariado de sua Mercedes Benz. Para surpresa dele, ao sair do estabelecimento, o endinheirado cidadão, orgulhosamente bolsonarista, acusou o pobre trabalhador pelo dano no apetrecho.

Edilson Pereira de Carvalho era árbitro Fifa e hoje tem seu nome lembrado só como protagonista da Máfia do Apito.

Porque assim terminam muitos espertalhões em quaisquer atividades.

Envolvidos com joias árabes, milícias, sonegadores, estelionatários, tudo por grana ou pela bobagem de ser citado nas redes antissociais.

O Mazelas Humanas FC tem jogadores, treinadores, cartolas, até assessores de imprensa e garotos-propaganda. Só não tem vergonha na cara.

Nem o mínimo de solidariedade com quem mais precisa.

E assim caminha a humanidade na rota da mediocridade.

Daí, o cidadão vai ao estádio de Itaquera para ver o chamado Majestoso, vê jogo paupérrimo tecnicamente, 1 a 1 num festival de erros de passes e, pior, inaceitável, um bando de cafajestes passa a entoar cantos homofóbicos sem parar, mesmo com a correta interrupção da partida e apelos para que cessassem com a demonstração preconceituosa, mal-educada, representativa do nível cultural e de desumanidade dos responsáveis.

Mas, lembrem-se a rara leitora e o raro leitor, desesperar, jamais!

Um dia o Brasil será justo e civilizado.

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