Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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A emenda Diniz é pior que o soneto

Entre o futebol bonito e as incertezas, a opção deixa perguntas sem respostas

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O presidente da CBF sempre deixou claro que o substituto de Tite deveria ser alguém comprometido com a volta do futebol vistoso da seleção brasileira. Então, a contratação de Fernando Diniz é coerente.

Ao escolher Diniz como interino até a prometida, porém ainda povoada por nuvens, chegada de Carlo Ancelotti, Ednaldo Rodrigues, o baiano pouco falante, o que é raro entre seus conterrâneos, por ironia, optou por treinador que não tem o italiano como modelo —quem o tem como tal é exatamente o antecessor Tite.

Fernando Diniz durante entrevista na sede da CBF, no Rio de Janeiro
Fernando Diniz durante entrevista na sede da CBF, no Rio de Janeiro - Eduardo Anizelli-5.jul.23/Folhapress

Aí, a coerência inicial é contraditada pelo passo seguinte.

E a permanência de Diniz à frente do Fluminense é grave equívoco.

Sem duvidar dos princípios éticos do jovem técnico, ele está em beco sem saída. Nas Laranjeiras e na CBF.

Se convocar o zagueiro Nino e o volante André, terá o respaldo das convocações anteriores de ambos.
Se não convocar o veterano goleiro Fábio, o experiente Paulo Henrique Ganso e o veloz Keno, arrumará problemas no elenco. (É impensável chamar Felipe Melo.)

Fábio continua pegando até pensamento, Ganso talvez seja o 10 que há tanto faz falta, e Keno é opção considerável pelos lados. Como fazer?

Mais: apreciador de jogadores refinados, Diniz deve ter na cabeça jogadores como o zagueiro Murilo, meio-campistas como Gabriel Menino e Raphael Veiga, atacantes como Artur, Dudu e o surpreendente Rony. Some aos seis o goleiro Weverton, e ai dele se chamá-los todos. Abel Ferreira e Leila Pereira serão capazes de invadir a sede da CBF com a Mancha Alviverde.

Diniz irá à Europa ver jogadores brasileiros? Está combinado que não. Então, vê-los pela TV basta? Prejuízo para a seleção.

Por menos que Diniz aceite, ou reconheça, é óbvio o conflito de interesses.

São previsíveis as crises de confiança diante, por exemplo, de erros de arbitragens no Campeonato Brasileiro a favor do Flu. Por mais que todos saibamos, menos a cúpula palmeirense, que erra-se para todos os lados indiscriminada e incompetentemente dado o nível baixo do VAR e da arbitragem, repletos de assopradores de apito tão ruins como a maioria dos treineiros brasileiros.

Imaginem a rara leitora e o raro leitor que o Tricolor desande a perder jogos e o, pela CBF, indenizado clube (sem trocadilho, mas com…) resolva demiti-lo.

Sim, até será uma solução para a entidade, mas e a credibilidade diante do torcedor?

E se, ao inverso de hipótese tão humilhante para Diniz, Ancelotti voltar a ganhar tudo no Real Madrid e receber proposta irrecusável para ficar do clube merengue?

Aqui já se escreveu não haver motivo para ter pressa com a seleção, mas, de fato, passa a ser desrespeitoso com sua imagem tanta nebulosidade em torno dela, ainda mais porque, ao mesmo tempo que a imprensa espanhola desmente a CBF, Ancelotti silencia, pois tem em contrato em vigor até 2024.
Tudo resumido, é possível concluir que Diniz sempre foi quem a CBF quis como solução caseira e não teve coragem de assumir.

Agora, vai que ele comece a trabalhar e a seleção se acerte. Quem garante que não fique, como se deu com o argentino Lionel Scaloni, 45, quatro anos mais novo que Diniz e cujo primeiro título foi conquistado já pela seleção nacional, a Copa América de 2021, no Maracanã?

Depois, bem, depois se sabe o que aconteceu no Qatar.

Diniz pode virar soneto. Por enquanto, é só pior emenda.

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