Latinoamérica21

www.latinoamerica21.com é uma mídia pluralista comprometida com a disseminação de informações críticas e verdadeiras sobre a América Latina.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Latinoamérica21
Descrição de chapéu LATINOAMÉRICA21 Brics Rússia

A posição particular do Brasil sobre a Guerra da Ucrânia

País não assinou documento da Cúpula da Democracia que condenou invasão russa

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Enrique Gomáriz Moraga

Ex-pesquisador da Flacso (Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais) no Chile

É evidente que Lula da Silva e Joe Biden encaram uma situação doméstica similar, ambos enfrentando o desafio de poderosos populismos de direita que são, por sua vez, aliados um do outro (Trump e Bolsonaro). Isso exige que tenham um nível especial de colaboração, como manifestado na visita de Lula a Washington em fevereiro passado.

No entanto, no âmbito da política externa, as coisas são diferentes. Lula tem uma estratégia própria em matéria de segurança, assim como aliados econômicos, os países Brics, que além de Brasil, Índia e África do Sul, incluem China e Rússia.

Joe Biden e Lula na Casa Branca, em fevereiro - Alex Brandon - 10.fev.23/Pool via AFP

Naturalmente, esta circunstância não é nova: Brasil e Estados Unidos há muito tempo jogam o jogo duplo de serem aliados e concorrentes no cenário internacional. Mas a Guerra da Ucrânia elevou poderosamente suas frequentes divergências. Embora tenha votado na Assembleia da ONU para condenar a invasão russa da Ucrânia, o Brasil tem dado amplas evidências de ter uma perspectiva distinta da de Washington e de seus aliados europeus sobre a evolução da guerra.

O exemplo mais marcante aconteceu na Cúpula da Democracia organizada por Biden no final de março, quando o Brasil se negou a assinar a declaração final, que continha um parágrafo no qual condenava a Rússia por cometer crimes contra a humanidade. Lula emitiu uma carta onde explicava que aquele não era o lugar para fazer tais declarações, que deveriam ser tratadas nas Nações Unidas. Os esforços do Departamento de Estado não conseguiram mudar a posição do Brasil, embora os demais países do Mercosul (Argentina, Uruguai e Paraguai) tenham aceitado assinar a declaração.

Joe Biden no encontro virtual Cúpula para a Democracia, na Casa Branca - Jonathan Ernst - 29.mar.23/Reuters

Outro exemplo da posição diplomática particular de Brasília se manifestou no Conselho de Segurança da ONU, onde o Brasil ocupa uma cadeira temporária, quando foi debatida a proposta da Rússia de conformar uma comissão especial para investigar a sabotagem do gasoduto Nord Stream, já que as pesquisas realizadas por Suécia, Dinamarca e Alemanha não são totalmente confiáveis. O Brasil, junto à China, votou a favor da proposta russa de criar uma comissão internacional independente.

Além disso, as relações econômicas estão se estreitando no interior do Brics. Após a renovação do Banco de Desenvolvimento do grupo, a ex-presidente Dilma Rousseff foi eleita por unanimidade como presidente do novo banco.

Enquanto a Presidência de Lula promove a diplomacia direta para conhecer as possibilidades de deter a guerra, o assessor de Lula para assuntos internacionais, Celso Amorim, visitou Moscou e Paris para reconhecer o terreno. Em seu retorno ao Palácio do Planalto, seus comentários não refletiram muito otimismo.

Tudo indica que, além do Brasil, os países Brics, com exceção da Rússia, têm interesses políticos e econômicos convergentes para deter a Guerra da Ucrânia o quanto antes. Algo que colide com a decisão de Moscou e de Washington de continuar a guerra até conseguir algum tipo de vitória estratégica. Mas o prolongamento da guerra tem agora um padrão de medição mais perfilado. Estimativas feitas por centros de pesquisa de segurança no final do primeiro ano da guerra apontam um custo em vidas humanas inaceitável para a comunidade internacional.

Cálculos conservadores falam de 30 mil civis mortos e cerca de 250 mil combatentes mortos. A escalada das hostilidades em torno da cidade de Bajmut eleva os cálculos do custo em vidas humanas em mais de 60 mil combatentes em dois meses, a imensa maioria deles jovens menores de 30 anos. Essa atrocidade exige moralmente uma resposta de todos os atores da comunidade internacional.

A conclusão é óbvia: se surgisse uma iniciativa de dentro do grupo Brics, formulada por algum país ou por vários parceiros, que pudesse deter esse massacre, não só alcançaria para o grupo um êxito em relação aos seus próprios interesses como teria dado uma contribuição inestimável para toda a humanidade. Tudo parece indicar que o grupo assessor de Lula conhece ambos os lados da questão.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.