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A Fox News e as consequências de desinformar nos processos eleitorais

Emissora pagou US$ 787 milhões a fabricante de software e máquinas eleitorais

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Os processos eleitorais em regimes democráticos, ou seja, onde há incerteza nos resultados e o partido governista pode ser derrotado, tornaram-se fenômenos midiáticos globais. Há algumas décadas, as eleições em um país despertavam pouco interesse em outras latitudes, ou mesmo em países da mesma região. Mas hoje, graças ao imediatismo da conversa digital, encontramos especialistas e cidadãos interessados nos processos eleitorais de países alheios à realidade de suas próprias nações. O interesse por essas eleições inclui não só o dia da votação mas a fase pré-eleitoral e, sobretudo, a pós-eleitoral, ainda mais se os resultados forem contestados ou até mesmo impugnados perante instâncias judiciais.

O acesso à conversação digital, somado ao auge da polarização política, transformou os processos eleitorais em verdadeiros espetáculos, nos quais simpatizantes e detratores dos candidatos usam as redes sociais para expressar sua conformidade ou insatisfação com os resultados.

Os meios de comunicação, por sua vez, aproveitaram essa situação para maximizar seu impacto. Muitos deles se tornaram a fonte exclusiva de informação de alguns grupos, de modo que têm o compromisso de publicar conteúdos que coincidem com as convicções de seus consumidores e as reforçam. Esse processo deteriorou notavelmente a qualidade do jornalismo e incentivou o extremismo em certos grupos que aceitam de forma dogmática o que seus meios prediletos publicam.

A desinformação e a confiança nos processos eleitorais

Há anos, organizações e agências internacionais, bem como órgãos eleitorais, buscam soluções para que a desinformação não afete a confiança nos processos eleitorais. No entanto, não tem sido uma tarefa fácil, pois é um problema multifatorial e foi demonstrado que a desinformação viaja muito mais rapidamente e é mais atraente do que o posterior "fact-checking".

Uma das narrativas mais atraentes (e nocivas) no marco dos processos eleitorais é a da fraude. Ou seja, sem elementos que sustentem a denúncia, promove o desconhecimento dos resultados por supostas práticas fraudulentas.

Charge de Iotti sobre ataques dos militares às urnas eletrônicas - Iotti

Segundo o diretor do Departamento de Cooperação e Observação Eleitoral da OEA, Gerardo de Icaza, "quando a ideia de fraude controla a opinião de um setor, é difícil encontrar o antídoto ou argumento que possa convencê-lo do contrário. Além disso, a mídia encontra nas alegações de fraude uma oportunidade tentadora de gerar ratings e vender jornais com publicação de manchetes sensacionalistas".

Infelizmente, essa situação não é extraordinária, pelo contrário, podemos dizer que, de uma forma ou de outra, a maioria dos últimos processos eleitorais na região foi vítima dessa narrativa.

As eleições do ano passado no Brasil foram um esforço enorme, tanto para o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) quanto para os fact-checkers, que tiveram que enfrentar uma avalanche de desinformação na fase pré-eleitoral, bem como na pós-eleitoral. Durante os meses prévios à jornada eleitoral, o próprio presidente Jair Bolsonaro afirmou que as urnas eram vulneráveis e que havia possibilidade de fraude. Isso gerou desconfiança em um sistema de votação que funcionou corretamente por mais de 20 anos.

Posteriormente, após sua derrota, a desinformação se centrou em alimentar a narrativa de fraude, o que levou a manifestações de dezenas de milhares de apoiadores do então presidente exigindo que sua vitória fosse reconhecida.

Outro caso que teve impacto global foi a alegação de fraude feita pelo ex-presidente Donald Trump, que, juntamente com seu advogado Rudolph Giuliani, percorreu estúdios de televisão e tribunais assegurando que haviam sido vítimas de fraude em massa. Algumas redes de notícias, como a Fox News, difundiram ativamente essa narrativa, acusando até mesmo alguns desenvolvedores de tecnologia, como Dominion Voting Systems ou Smartmatic. Alguns dos jornalistas da rede e convidados em seus programas afirmaram que as máquinas de votação haviam sido adulteradas e, portanto, a eleição de Joe Biden foi fraudulenta.

As empresas acusadas fizeram justiça com as próprias mãos e entraram na Justiça, acusando a famosa rede de notícias de difamação. A Dominion Voting Systems pediu US$ 1,6 bilhão por danos, e a Smartmatic, US$ 2,7 bilhões.

Em 31 de março, pouco mais de dois anos após as eleições de 2020, o Tribunal Superior de Delaware determinou que nenhuma das declarações que a Fox News fez sobre a Dominion era verdadeira e ordenou um julgamento para determinar se a rede havia agido com dolo real. Diante desse cenário, a emissora fez um acordo com a empresa no valor de US$ 787 milhões para evitar o julgamento.

A democracia é um bem intangível e inestimável, mas atacar e questionar suas instituições de forma injustificada e irresponsável deve ter um preço.

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