Laura Müller Machado

Mestre em Economia Aplicada pela USP, é professora do Insper e foi secretária de Desenvolvimento Social do Estado de São Paulo

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Descrição de chapéu Fies Enem

Pé de Meia deve reduzir um terço da evasão escolar, busquemos a meia do outro pé

Programa do governo para estudantes precisa ser reforçado com comunicação eficiente

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Sabemos que, entre os jovens de 15 a 17 anos em 2022, 1,2 milhão não concluirá a educação básica. Isso representa 13% do total de jovens brasileiros, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua.

O estudo "Consequências da violação do direito à educação" aponta que o valor da perda por conta da evasão é de R$ 395 mil ao longo da vida de cada jovem que abandona os estudos. Empregabilidade, remuneração e longevidade são as dimensões mais afetadas. Com todas essas consequências, qual é o motivo que leva esse 1,2 milhão de jovens a deixar os estudos? Quais são as causas desse fenômeno que afeta a juventude e o país como um todo?

A Pnad pergunta a quem concluiu o ensino fundamental e não está mais na escola qual o motivo de terem deixado o ensino médio. Os resultados são surpreendentes e muito diferentes entre homens e mulheres. Entre pessoas sexo masculino, com idade entre 15 e 21 anos, 50% dizem que deixaram a escola porque precisavam trabalhar, 27% afirmam que não tinham interesse em estudar e 8% apontam já terem concluído o nível de estudo que desejavam, o fundamental.

Bruno Santos/Folhapress
Alunos em escola de São Paulo; perda por evasão escolar pode chegar a R$ 395 mil ao longo da vida - Bruno Santos/Folhapress

O Pé de Meia, programa do governo federal de pagamento de uma bolsa de estudos aos vulneráveis matriculados no ensino médio público, certamente atua sobre a necessidade de renda dos 50% que evadiram por precisar trabalhar. No entanto, os 27% sem interesse pelo estudo e os 8% que disseram ter concluído o nível de estudo que desejavam talvez não mudem de decisão por conta da bolsa.

Esses jovens talvez precisem ser informados sobre a perda de R$ 395 mil que terão ao longo da vida. Ações complementares que comuniquem o prejuízo de abandonar a escola e que o futuro importa podem alavancar ainda mais o programa. Além disso, dado que a bolsa do Pé de Meia de R$ 200 mensais é menor do que a renda que o jovem pode obter no mercado de trabalho, é nosso dever explicar os impactos já mencionados.

São necessárias políticas adicionais e complementares à transferência de renda, como a construção de um projeto de vida e a comunicação do valor da educação para a juventude.

A evidência do programa canadense "Pathways to Education" (Caminhos para a Educação) mostra que essa comunicação, a transferência de renda aliada a mentorias sobre o planejamento do futuro e incrementos na qualidade educacional são a combinação de maior impacto na aprendizagem e na permanência dos alunos.

No caso das mulheres, as principais razões da saída da escola são diferentes: 26% deixam a escola por conta da gravidez, 23% saem porque precisam trabalhar, 19% respondem que não tinham interesse em estudar, 10% dizem que precisavam realizar tarefas domésticas ou de cuidados e 9% apontam já terem concluído o nível de estudo que desejavam.

Para além das ações já mencionadas no caso dos homens, fica evidente que também urge o avanço na política nacional de cuidados, na educação sexual prevista em lei e na efetivação dos direitos reprodutivos das mulheres. A escola precisa se organizar e dar flexibilidade visando a oportunidade de estudos a uma jovem que opte por ser mãe.

O Pé de Meia será um bom instrumento para combater a evasão por motivo de ausência de recursos financeiros. No entanto, para reduzirmos ainda mais os 13% de não conclusão do ensino médio atual, o programa necessita de todas essas ações complementares, que vão da educação de qualidade e da oferta de um projeto de vida à garantia dos direitos reprodutivos das mulheres e mais flexibilidade da escola para acolher as jovens mães.

Estamos gratos e animados com a bolsa de estudos para que os mais vulneráveis possam estudar, no entanto, a real universalização da conclusão do ensino médio depende de outras ações potencializadoras.

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