Lúcia Guimarães

É jornalista e vive em Nova York desde 1985. Foi correspondente da TV Globo, da TV Cultura e do canal GNT, além de colunista dos jornais O Estado de S. Paulo e O Globo.

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Lúcia Guimarães
Descrição de chapéu Governo Trump

Com Trump, acaba o mito do empresário presidente?

Presidente e filhos provaram que democracia americana não estava preparada para família que encara governo como caixa automático

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A solução para a incompetência e corrupção na administração pública é eleger um empresário, certo? Como Donald Trump? Como Romeu Zema?

Se é possível destacar uma contribuição do governo Trump é nos desabusar da noção do mundo corporativo como um ninho de virtudes que se transferem para a gestão pública.

Mas Trump faliu quatro vezes, dirão os iludidos pelo bolorento partido fundado por João Amoedo, cujo único governador empresário foi apontado como o segundo pior do país em 2019.

Já o self-made bilionário Michael Bloomberg foi um bom gestor da cidade de Nova York por três mandatos seguidos, dirão. Volto ao ex-prefeito daqui a pouco.

O presidente Donald Trump após entrevista coletiva diária da Casa Branca
O presidente Donald Trump após entrevista coletiva diária da Casa Branca - Jim Watson - 17.abril.20/AFP

Os trabalhadores brancos que ajudaram a eleger Trump em 2016 frequentemente confundiam o notoriamente desonesto empresário nova-iorquino com o personagem que ele fazia no reality show da TV. Ele vai drenar o pântano de Washington, diziam, repetindo um slogan da campanha.

Durante quatro anos, o presidente, os filhos 01 e 03, a filha 02, reforçados pelo genro, provaram que a democracia americana não estava preparada para uma família que encara o governo federal como um caixa automático.

A gestão homicida da pandemia, desde o começo, com Trump e o genro à frente, foi caracterizada por uma inação que faz o personagem Macunaíma parecer um apressado Faria Limer a caminho de uma sessão de crossfit.

Trump não trabalha desde a eleição do dia 3 de novembro –que perdeu. Passa o tempo tuitando, espalhando conspirações, incitando violência e esperneando futilmente nos tribunais contra a derrota.

Quando sair da Casa Branca em 20 de janeiro, se é que não vai escafeder-se dias antes para evitar o que vê como humilhação, terá acumulado quase um ano dos quatro do mandato em visitas a uma de suas propriedades, jogando golfe ou engordando a própria conta bancária por cobrar serviços para receber líderes como o hoje rejeitado capitão presidente brasileiro.

Desde o inepto Herbert Hoover, em 1929, os americanos não elegiam um presidente que se vendeu tanto como empresário. Hoover, como sabemos, teve a distinção de ajudar a precipitar e agravar a Grande Depressão.

A asneira de que décadas como executivo e depois CEO da gigante Exxon fariam de Rex Tillerson um bom condutor da política externa americana resultou em caos e num desmonte sem precedentes do serviço diplomático americano, cuja formação é paga pelo contribuinte.

Ocuparam o gabinete Trump um elenco de corruptos e clientelistas preguiçosos que humilhariam a família protetora de Fabrício Queiroz. O mais longevo membro do gabinete, Wilbur Ross, passou quase todo o mandato presidencial sob investigação por violações éticas pelo próprio Departamento de Comércio.

E o competente gestor Michael Bloomberg? Foi bom prefeito, longe de perfeito, numa cidade onde o capital financeiro e o imobiliário concentram poder incomum. Embriagado por sebastianismo narcisista, Bloomberg convenceu a elite local de que a cidade não sobreviveria sem ele, em 2009.

Arrancou da Câmara de Vereadores uma autorização especial para que violasse o limite de dois mandatos e se elegeu para um terceiro. Queimou sua reputação e saiu impopular. Empresário precisa convencer um mercado a comprar produtos, e, sem obter lucro, quebra. Um país não é um mercado.

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