Lúcia Guimarães

É jornalista e vive em Nova York desde 1985. Foi correspondente da TV Globo, da TV Cultura e do canal GNT, além de colunista dos jornais O Estado de S. Paulo e O Globo.

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Lúcia Guimarães
Descrição de chapéu Governo Trump

Com absolvição quase certa no Senado, Trump enfrenta mais problemas legais

Defendido por advogados incompetentes, ex-presidente é investigado na Geórgia e em Nova York

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A abertura do julgamento do impeachment de Donald Trump provocou interesse viral pela comédia "Meu Primo Vinny". No filme de 1992, o ator Joe Pesci vive um malandro nova-iorquino que acaba de obter licença para advogar e é chamado para defender um jovem primo acusado, no Alabama, junto com um amigo, de um crime que não cometeu.

O primo advogado é inexperiente, crasso, e os momentos mais cômicos do filme se passam no tribunal, onde Vinny testa a paciência do juiz com sua ignorância. No resort de Mar-a-Lago, na Flórida, onde amarga o exílio das redes sociais jogando golfe e tramando vinganças, Donald Trump berrava com a TV ao perceber que a sua defesa parecia querer superar o personagem vivido por Joe Pesci.

Donald Trump, quando ainda era presidente, durante um comício na Geórgia - Jonathan Ernst - 5.dez.2020/Reuters

Aliados do ex-presidente, acostumados a relevar todo o amadorismo que dominou a Casa Branca até janeiro, estavam perplexos. O primeiro advogado a falar, Bruce Castor, garantiu rapidamente sua vaga como piada nos talk shows de fim de noite, num monólogo incoerente em que ele disse, “mudamos o que íamos dizer porque a apresentação dos democratas foi bem feita”.

De fato, o argumento apresentado pelos democratas, revivendo o terror da invasão do Capitólio, no dia 6 de janeiro, em discursos e montagem de vídeo, foi eloquente. Mas o desempenho de Bruce Castor apenas confirma o fato de que Trump é radioativo como cliente desde o primeiro impeachment. Além de notório caloteiro, o ex-presidente, depois do 6 de janeiro, é um beijo da morte para a reputação de escritórios de advocacia.

O contraste dos argumentos a favor e contra o impeachment na sessão de terça-feira (9) mudou o voto de apenas um senador republicano, Bill Cassidy, da Luisiana, que se juntou a cinco colegas do partido para votar a favor da constitucionalidade do julgamento de impeachment de um ex-presidente. Veteranos observadores do Senado consideram impossível reunir 17 votos de republicanos para condenar Trump, absolvido no primeiro impeachment.

A absolvição esperada não reflete falta de indignação de homens e mulheres que temeram pela própria vida enquanto a turba ensandecida esmurrava a porta de seus gabinetes. Reflete apenas a abdicação ética que domina um partido ainda refém do extremismo instigado por Trump.

Um levantamento do jornal The New York Times em 19 dos 50 estados americanos mostra que 140 mil eleitores republicanos cancelaram seu registro partidário desde a invasão do Capitólio.

A incompetência da defesa no Senado é o menor dos problemas do ex-presidente. Promotores da Geórgia anunciaram uma investigação criminal sobre os esforços de Trump para fraudar o resultado da eleição presidencial no estado. Uma peça importante, mas não a única, a ser investigada é o infame telefonema em que Trump mandou Brad Raffensperger, gestor eleitoral da Geórgia, “encontrar” o número de votos necessários para derrotar Joe Biden.

O estado de Nova York ainda é o epicentro dos problemas legais do ex-residente da Trump Tower em Manhattan. Trump enfrenta aqui processos civis e criminais que podem não resultar em prisão, mas em penalidades financeiras assustadoras para um empresário rejeitado por bancos e com mais de US$ 1 bilhão (R$ 5 bilhões) de dívidas que vencem nos próximos três anos.

Novas revelações sobre as semanas entre a eleição e a posse de Joe Biden deixam pouca dúvida sobre o fato de que Trump tentou viabilizar um golpe de Estado. Não há penalidade financeira imposta pela Justiça americana que repare esse crime.

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