Lúcia Guimarães

É jornalista e vive em Nova York desde 1985. Foi correspondente da TV Globo, da TV Cultura e do canal GNT, além de colunista dos jornais O Estado de S. Paulo e O Globo.

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Lúcia Guimarães
Descrição de chapéu Governo Biden

Terror criado no quintal

Departamento de segurança emite raro alerta sobre terrorismo doméstico nos EUA

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O Departamento de Segurança Nacional emitiu um raro boletim de alerta sobre terrorismo nesta quarta-feira (27). Boletins do departamento sobre aumento de ameaças são periódicos, mas quase sempre se referem a ameaças de grupos externos.

O boletim desta semana adverte o público para ataques de “extremistas violentos ideologicamente motivados”, revoltados com a posse de Joe Biden.

É a primeira vez que um presidente chega à Casa Branca sob a pressão de combater extremismo doméstico na escala que se vê hoje. Desta vez, o combate ao extremismo nos EUA vai incluir indiretamente mais do que escutas, drones ou espionagem. Joe Biden está implementando uma agenda social e de saúde que beneficia diretamente regiões rurais de trumpistas ferrenhos.

Ficou claro que a invasão do Capitólio, no dia 6 de janeiro, poderia ter resultado no pior episódio de terrorismo doméstico desde a explosão do edifício do governo em Oklahoma City, em 1995, que matou 168 pessoas.

Apoiadores do ex-presidente Donald Trump entram em confronto com policiais durante invasão do Capitólio
Apoiadores do ex-presidente Donald Trump entram em confronto com policiais durante invasão do Capitólio - Shannon Stapleton - 6.jan.21/Reuters

Se a polícia especial do Capitólio, abandonada pelo Pentágono, não tivesse conseguido levar o vice-presidente Mike Pence, a líder da Câmara, Nancy Pelosi, e outros líderes democratas para local seguro, é assustador imaginar o que os invasores teriam feito com políticos capturados. Afinal, eles pediam o enforcamento de Pence e mataram, num frenesi de linchamento, um policial.

Entre suspeitos identificados pelo FBI na investigação da invasão do Capitólio, 1 em cada 5 tem ou teve algum vínculo com as forças armadas do país, revelou um exame feito pela rádio pública americana, NPR.

A publicação especializada Military Times pesquisa, há anos, a infiltração de extremistas de ultradireita nas Forças Armadas. Numa consulta recente aos leitores –que tendem a ser militares de carreira–, um terço respondeu que testemunhou exemplos de ideologia supremacista branca entre as fileiras.

Há um fio que liga Oklahoma City ao Capitólio. São teorias conspiratórias, obsessão por armas, ódio ao governo e a crença na iminência de uma revolução. O responsável pela explosão, Timothy McVeigh, virou um mártir da causa, depois de ser executado exatos três meses antes do 11 de Setembro.

Para ele, a explosão seria apenas o primeiro sucesso a inspirar a revolta no país. Mas, mesmo simpatizantes da causa não tiveram estômago para o espetáculo de horror, que incluiu a morte de 19 crianças numa creche no edifício.

Nesta semana, um dos promotores envolvidos na investigação de Oklahoma City citou outro fator. Aitan Goelman lembra que as teorias conspiratórias de McVeigh e outros extremistas eram disseminadas, no começo dos anos 1990, em feiras de armas de fogo e compartilhadas em cópias de fitas VHS. A internet era jovem, não havia rede social nem vasta desinformação digital organizada.

Sabemos agora que Trump deu ordens a seu governo de ignorar o alerta que recebeu do FBI em junho de 2019, quando a agência federal disse que o terrorismo doméstico, não grupos como o Estado Islâmico, era a maior ameaça à segurança interna do país.

Mais de 75% dos autores de assassinatos ligados ao extremismo nos EUA, na última década, eram de ultradireita, revelou um estudo da fundação judaica Anti-Defamation League.

​Correção de curso à vista? O juiz Merrick Garland deve ser confirmado o próximo secretário de Justiça de Biden. A carreira de Garland foi definida por Oklahoma City, onde ele desembarcou encarregado da investigação, logo em seguida ao atentado.​

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