Lúcia Guimarães

É jornalista e vive em Nova York desde 1985. Foi correspondente da TV Globo, da TV Cultura e do canal GNT, além de colunista dos jornais O Estado de S. Paulo e O Globo.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Lúcia Guimarães
Descrição de chapéu Governo Biden

Enquanto republicanos recorrem a artilharia hipócrita, Biden pouco tuíta e trabalha

Governo anda tão tedioso que primeiro escândalo na Casa Branca é a manchete 'cachorro morde homem'

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

O comediante Randy Rainbow é conhecido por paródias políticas musicais que posta online. No último vídeo divulgado nesta semana, ele finge entrevistar Joe Biden e começa a cochilar, enquanto o presidente fala em detalhes sobre o combate ao coronavírus.

Quando queria insultar Biden, o ogro alaranjado que tirou o sono do mundo desde 2016 o chamava de Joe Dorminhoco. Era para destacar a idade de Biden, apenas quatro anos mais velho do que ele e fanático pela bicicleta ergométrica Peloton.

Há sinais de que os americanos gostam desta nova era de monotonia. E a ultradireita está arrancando os cabelos. Em meio à disparada de vacinação —média de mais de 2 milhões de doses por dia—, as manchetes da Fox News tratam de livros infantis e cultura do cancelamento.

O presidente Joe Biden antes de embarcar no Air Force One, em Washington
O presidente Joe Biden antes de embarcar no Air Force One, em Washington - Andrew Caballero-Reynolds - 26.fev.21/AFP

O governo anda tão tedioso que o primeiro escândalo na Casa Branca de Biden é a manchete “cachorro morde homem”. O pastor alemão Major, que o casal Biden adotou num abrigo de animais abandonados, deu uma mordidela num agente do Serviço Secreto.

Major é um amador se comparado a antecessores como Pete, o bull terrier de Teddy Roosevelt, que em 1903 caçou o embaixador da França e lhe estraçalhou as calças.

Por falar em Roosevelt, é o primo distante de Teddy quem está despertando comparações com Biden: o carismático Franklin, um dos mais consequentes ocupantes da Casa Branca, responsável por recuperar o país da Grande Depressão com o programa New Deal.

O pacote de ajuda da pandemia, de US$ 1,9 trilhão, que os democratas passaram sem votos de republicanos, contém provisões que mudarão o destino de americanos mais vulneráveis. Um estudo da Universidade Columbia estima que benefícios do pacote vão tirar da pobreza ao menos cinco milhões de crianças.

O retrato do centrista excessivamente conciliador, propagado pela esquerda do Partido Democrata durante a campanha eleitoral, vai precisar de retoques. Biden acaba de trazer para seu governo dois dos mais proeminentes especialistas em direito da era digital.

Lina Khan e Tim Wu, ambos de Columbia, não trocariam Manhattan por Washington se Biden não tivesse planos de enfrentar gigantes do faroeste desregulado como Facebook, Google e Amazon.

A imprensa política aqui não deu destaque devido a um pronunciamento do presidente no dia 28 de fevereiro. Ele fez uma defesa sem precedentes do direito de organização de trabalhadores que coincide com a luta dos empregados da Amazon no Alabama para formar um sindicato.

Em menos de dois meses, Biden justifica questionar um gesto do mais querido presidente das últimas décadas. Em 2016, Barack Obama chamou seu vice de lado e o pressionou a não se candidatar, convencido de que Hillary Clinton tinha mais chances de continuar seu legado. Em 2019, Obama voltou à carga e disse “você não tem que se candidatar, Joe”.

Mesmo que perca a maioria no Congresso em 2022, Biden pode garantir pelo menos um legado: o cessar-fogo unilateral que decretou nas guerras culturais. Enquanto republicanos continuam recorrendo à artilharia hipócrita em batalhas de identidade, Biden não morde a isca, pouco tuíta e segue trabalhando.

Numa conferência recente de ultraconservadores na Flórida, um homem que vendia camisetas com a cara de Biden exibindo um bigode de Hitler reclamou: “Não consigo me livrar delas nem se oferecer de graça”.

Governar em voz baixa dá nisso.

Erramos: o texto foi alterado

O cachorro do presidente Joe Biden que mordeu um agente do Serviço Secreto americano se chama Major, e não Champion. O texto foi corrigido.​

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.