Lúcia Guimarães

É jornalista e vive em Nova York desde 1985. Foi correspondente da TV Globo, da TV Cultura e do canal GNT, além de colunista dos jornais O Estado de S. Paulo e O Globo.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Lúcia Guimarães

Execução de juiz lembra passado de violência política nos EUA

Assassinato em Wisconsin fez correr frio na espinha de observadores do clima de violência no país

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Qualquer americano nascido na década de 1950 sabe dizer onde estava na tarde de 22 de novembro de 1963, quando uma rede nacional de rádio anunciou os tiros que mataram o presidente John F. Kennedy.

Assassinatos políticos são traumas nacionais e podem mudar a história dos países. A morte de Abraham Lincoln, quando a Guerra Civil se aproximava do fim, em 1865, provocou uma onda de luto, não só no Norte, mas também no Sul escravagista que saiu derrotado na guerra.

John Hinckley Jr. é escoltado pela polícia em Washington após ser preso por atirar contra o então presidente dos EUA, Ronald Reagan
John Hinckley Jr. é escoltado pela polícia em Washington após ser preso por atirar contra o então presidente dos EUA, Ronald Reagan - 30.mar.81/AFP

Desde que Ronald Reagan foi gravemente ferido por John Hinckley Jr. em 1981, um presidente não esteve mais tão exposto a um atentado. Mas, ainda candidato, Barack Obama atraiu tantas ameaças de morte que o Serviço Secreto o colocou sob proteção geralmente reservada a presidentes após a posse.

Na madrugada desta quarta-feira (8), um homem foi preso perto da casa de Brett Kavanaugh, juiz da Suprema Corte. Ele estava armado e disse aos policiais que queria matar o magistrado, depois que vazou a opinião dele alinhada à maioria de conservadores na Corte a favor da recriminalização do aborto.

Na sexta-feira (3), um assassinato no estado de Wisconsin fez correr um frio na espinha de observadores do clima de violência política e racial nos EUA. O juiz aposentado Jack Roemer foi encontrado morto em casa. Estava sentado e com as mãos atadas. No porão, o atirador, que tinha virado a arma para a própria cabeça, agonizava. O assassino Douglas Uhde morreu no hospital. Ele era criminoso de carreira e havia recebido sentenças impostas por Roemer. Foi descrito por amigos como antigoverno.

A polícia encontrou uma lista de outros possíveis alvos, que incluía o atual governador de Wisconsin, o democrata Tony Evers, o líder republicano do Senado, Mitch McConnell, e a governadora de Michigan, a democrata Gretchen Whitmer, que escapou de um dos mais ousados planos de atentado político.

Em 2020, seis homens ligados a milícias de ultradireita foram acusados de planejar o sequestro e o eventual assassinato de Whitmer como instrumento para começar distúrbios e impedir a posse de Joe Biden. Foi o maior complô recente de terrorismo doméstico a ir julgamento, mas o caso contra quatro dos indiciados ruiu, em parte, por erros do FBI. Dois deles se confessaram culpados em delação premiada.

O comitê da Câmara que investiga a invasão do Capitólio, em janeiro de 2021, ouviu de testemunhas que Donald Trump, assistindo à invasão pela TV, expressou apoio aos invasores que gritavam "enforquem Mike Pence!". O então vice, que garantiu naquele dia a certificação da vitória de Biden, esteve a 60 segundos do grupo que rompeu a segurança e chegou ao ponto de onde ele foi retirado pelo Serviço Secreto.

Só na semana passada ficamos sabendo que, na véspera da invasão do 6 de Janeiro, o chefe de gabinete de Pence convocou o principal agente do Serviço Secreto responsável por sua escolta e avisou que Trump ia se voltar contra o então vice-presidente em público e criar uma ameaça à segurança dele.

São detalhes que, no passado, associamos a milicos de republiquetas centro-americanas.

Na terça-feira (7) o Departamento de Segurança Nacional publicou um alerta sobre terrorismo doméstico, explicando que o "ambiente de alta ameaça" se deve a movimentos de extremistas motivados por ideologia, religião, raça e "eventos atuais". A nota se refere especificamente à esperada decisão da Suprema Corte sobre o aborto e às eleições de meio de mandato, a serem realizadas em novembro.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.