Lúcia Guimarães

É jornalista e vive em Nova York desde 1985. Foi correspondente da TV Globo, da TV Cultura e do canal GNT, além de colunista dos jornais O Estado de S. Paulo e O Globo.

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Henry Kissinger, criminoso de guerra, fará 100 anos com homenagens e impunidade

Exceto Biden, todos os presidentes dos EUA buscaram conselhos do homem responsável por crimes contra a humanidade

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Uma série de eventos marca, neste mês nos Estados Unidos, o centenário de um criminoso de guerra. Henry Kissinger morrerá impune e celebrado por políticos, jornalistas e think tanks de política externa.

Exceto pela precaução de não pisar em certos países para não correr risco de prisão, como aconteceu com o chileno Augusto Pinochet, o ex-assessor de Segurança Nacional e ex-secretário de Estado de Richard Nixon e Gerald Ford se gabava até o ano passado de ter sido convidado para visitar a Casa Branca por todos os presidentes no último meio século.

Henry Kissinger em visita à China em novembro de 2018
Henry Kissinger em visita à China em novembro de 2018 - AFP

Todos —menos Joe Biden, até o momento— buscaram conselhos do homem responsável pelo bombardeio indiscriminado no Sudeste Asiático que matou perto de um milhão de civis no Camboja e no Laos, sem contar o apoio ao golpe de Pinochet, aos militares do Paquistão na repressão brutal à independência de Bangladesh e o sinal verde para a Indonésia invadir o Timor Leste, matando mais de 100 mil timorenses.

Em menos de uma década, durante a Guerra do Vietnã —cuja negociação de paz Kissinger e Nixon sabotaram— sob Lyndon Johnson, em 1968, os americanos despejaram 4,7 bilhões de litros de pesticida –o mais conhecido deles o infame Agente Laranja, numa área que não chega à metade do estado de Alagoas. A campanha para desfolhar as densas florestas tropicais da região, destruindo colheitas de alimentos e contaminando o solo por décadas, não tem paralelo na história militar americana.

Um livro recém-lançado revisita o legado de destruição ambiental, mortes em tempos de paz e nascimentos com malformações congênitas da Guerra do Vietnã —e dificilmente será lido pela elite de Nova York e Washington que vai cantar parabéns para o grotesco autor de crimes contra a humanidade no próximo dia 27.

O autor de "The Long Reckoning: A Story of War, Peace and Redemption in Vietnam" (o longo acerto de contas: uma história de guerra, paz e redenção no Vietnã) é o veterano jornalista George Black. Como sugere no título, o autor britânico divide o livro em três partes, mas, na terceira, resiste à narrativa de final feliz sobre os esforços americanos de reparação e de limpeza do estrago ambiental, iniciativas que foram evitadas durante décadas de recusa em admitir a destruição causada. A herança ambiental da guerra foi pesquisada com precisão forense, em grande parte, pelos próprios vietnamitas.

Black afirma que "a verdade sobre as guerras é que elas nunca terminam". O comentário vale também para os rejeitados veteranos americanos da derrota –"os EUA não sabem perder guerras", lembra o autor— que continuam a morrer de múltiplos tipos de câncer e outras doenças por exposição ao Agente Laranja.

Black destaca ainda que os vietnamitas, uma população predominantemente nascida após o Acordo de Paz de Paris, em 1973, costumam receber veteranos militares dos EUA de braços abertos, sem exibir ressentimento. Talvez isto se explique em parte pelo fato de que os soldados dos dois países foram obrigados a se alistar para lutar. Mas como explicar a boas-vindas que tantos americanos continuam a estender ao monstruoso Henry Kissinger?

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