Lúcia Guimarães

É jornalista e vive em Nova York desde 1985. Foi correspondente da TV Globo, da TV Cultura e do canal GNT, além de colunista dos jornais O Estado de S. Paulo e O Globo.

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Lúcia Guimarães

Como o populismo econômico de esquerda define o governo Biden

Livro narra a ascensão de três expoentes democratas: Elizabeth Warren, Bernie Sanders e Alexandria Ocasio-Cortez

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Uma pergunta que ouço com frequência de amigos brasileiros intrigados com a falta de um desafio à pré-candidatura do ancião Joe Biden à reeleição é: cadê os candidatos mais jovens e viáveis? Alô, alô, diva Alexandria Ocasio-Cortez?

Um livro excelente, lançado nesta semana nos Estados Unidos, ajuda a explicar esse fenômeno. Não há a menor intenção da deputada nova-iorquina conhecida como AOC, nem do popular —e igualmente ancião— Bernie Sanders, ou mesmo da eloquente senadora Elizabeth Warren, de fazer algo para dificultar a escolha do presidente Biden como candidato do Partido Democrata à reeleição em 2024.

Pessoas interrompem pronunciamento de Joe Biden durante evento de campanha em igreja na região de Charleston, na Carolina do Sul
Pessoas interrompem pronunciamento de Joe Biden durante evento de campanha em igreja na região de Charleston, na Carolina do Sul - Sean Rayford - 8.jan.24/Getty Images via AFP

O motivo? Eles estão ocupados governando. Ok, exagero um pouco, mas o fato é que Warren e Sanders, derrotados como pré-candidatos em 2020, acabaram vencendo, digamos. Junto com AOC, a mais jovem deputada eleita para o Congresso, eles entraram na Casa Branca pela porta do chefe de gabinete dos dois primeiros anos da Presidência Biden, Ron Klain.

Sem fazer alarde, Warren, Sanders e Ocasio-Cortez trabalharam com afinco para influenciar a transformação do sonolento candidato centrista Biden em um presidente que comanda uma agenda econômica populista que faria Bill Clinton ter um faniquito e Barack Obama pedir seus sais.

(Perdão, obamistas derretidos, mas o presidente do "yes, we can" disputa com o antecessor Clinton o topo do panteão de democrata mais neoliberal a ocupar a Casa Branca.)

Joshua Green é o autor de "The Rebels: Elizabeth Warren, Bernie Sanders, Alexandria Ocasio-Cortez and the Struggle for American Politics" (ou os rebeldes, Elizabeth Warren, Bernie Sanders, Alexandria Ocasio-Cortez e a batalha pela política americana).

Green é um veterano repórter político da Bloomberg, e em um best-seller anterior examinou a revolta populista que elegeu Donald Trump com a ajuda de Steve Bannon.

Ao cobrir a eleição de 2016, em que a expectativa de todos —inclusive de Trump— era uma vitória garantida de Hillary Clinton, ele percebeu que a população americana continuava revoltada com a solução para enfrentar a grande recessão de 2008, quando Obama se elegeu pela primeira vez: salvar bancos e montadoras de automóveis e abandonar a classe média subitamente desempregada e devastada com o furo da bolha imobiliária criada pelos empréstimos "sub-prime", direcionados a clientes de baixa renda.

Esta revolta gerou o Tea Party, o movimento rebelde conservador que infligiu derrotas legislativas a Obama logo no segundo ano de seu governo. Em 2016, quando perguntava ao potencial eleitor de Donald Trump quem seria sua segunda opção nas urnas, Green ouvia: Bernie Sanders. Quando fazia a mesma pergunta ao simpatizante do socialista Bernie, ouvia: Donald Trump. Era o populismo econômico explodindo na esteira da orgia financeira da primeira década do milênio.

O livro situa o "pecado original" no momento em que o Partido Democrata abandonou os ideais do New Deal de Franklin Roosevelt no ano de 1978. Jimmy Carter, um presidente enfraquecido, enfrentava a crise do petróleo, inflação e desemprego altos. O recém-formado lobby financeiro convenceu Carter e os democratas de que a solução era cortar impostos e "formar capital."

A torneira do financiamento de campanhas democratas começou a jorrar. O crash de 2008 foi resultado direto daquelas décadas de namoro do partido com Wall Street e de descaso com os trabalhadores afetados pela globalização.

Biden entra no quarto ano de mandato com indicadores econômicos para comemorar, mas protegido do corpo a corpo com a mídia e a população assustada com sua idade.

Podemos esperar que o trio Warren, Sanders e Ocasio-Cortez apareça nos comícios defendendo energicamente sua reeleição e um legado que, no momento, prefere não alardear como seu.

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