Lúcia Guimarães

É jornalista e vive em Nova York desde 1985. Foi correspondente da TV Globo, da TV Cultura e do canal GNT, além de colunista dos jornais O Estado de S. Paulo e O Globo.

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Lúcia Guimarães

Donald Trump vê suas décadas de impunidade chegarem ao fim

Decisão unânime sobre ex-presidente deixa pouco espaço para Suprema Corte aceitar rever o caso

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As más notícias não param. Depois de meio século de impunidade, a sorte de um senil playboy nova-iorquino está mudando em várias frentes. Donald Trump tem até a próxima segunda (12) para pedir à Suprema Corte para aceitar examinar a detalhada e fulminante decisão de uma corte de apelação que o considerou um cidadão comum e passível de ser julgado pela tentativa de golpe de Estado em janeiro de 2021.

A decisão unânime, relatada em 57 páginas que hão de ser incluídas no currículo de escolas de Direito americanas, deixa pouco espaço para a Suprema Corte aceitar rever o caso. Mas é difícil prever o que fará o tribunal máximo dos EUA, aparelhado por Trump com uma supermaioria conservadora de 6-3 votos.

O ex-presidente dos EUA Donald Trump em tribunal de Nova York, em abril de 2023
O ex-presidente dos EUA Donald Trump em tribunal de Nova York, em abril de 2023 - Andrew Kelly - 4.abr.2023/Pool/Reuters

Se os juízes decidirem não aceitar a revisão, o julgamento de Trump pela tentativa de fraudar a eleição de 2020, adiado por causa dos recursos da defesa, poderia começar já no mês de maio, quando a candidatura do republicano já estaria garantida nas primárias eleitorais.

Nesta quinta (8), a Suprema Corte vai examinar os argumentos do estado do Colorado, onde a candidatura de Trump à Presidência em 2024 foi banida com base na 14ª emenda da Constituição. O Maine foi o segundo dos 50 estados americanos a aprovar a retirada de Trump da corrida presidencial, e ele também apela contra a decisão.

Ao contrário dos demagogos que clamam para Trump ser derrotado pela vontade popular nas urnas, não em tribunais —Trump já perdeu nas urnas e não aceitou a derrota—, a 14ª emenda está longe de merecer debate fútil sobre sexo de anjos. Ela desqualifica para cargos federais qualquer pessoa que tenha se engajado numa insurreição.

A emenda foi aprovada em 1868, com o país traumatizado pela Guerra Civil que matou entre 600 mil e 700 mil americanos. Os escravagistas do Sul, derrotados na guerra, se reagrupavam para concorrer em eleições federais e, embora os legisladores, há 150 anos, não sonhassem com uma figura grotesca como Trump, deixaram claro, ao votar a emenda, que a medida era destinada a proteger o futuro da república de rebeliões violentas.

Ninguém questiona o fato de que a Guerra Civil foi a revolta mais violenta da história do país, mas nem os rebeldes confederados tentaram invadir o Capitólio seguindo palavras de ordem de um presidente determinado a reverter o resultado de uma eleição.

Até o final da próxima semana, outro padrão de impunidade do ex-presidente, os crimes cometidos como empresário que raramente foram investigados pela Justiça nova-iorquina, deve enfrentar o freio violento de um veredito que pode chegar a US$ 370 milhões de multa por fraude fiscal em suas empresas. Somados aos US$ 83 milhões devidos por difamar uma jornalista que Trump estuprou na década de 1990, não é quantia que mesmo um titã imobiliário de Manhattan tenha guardada sob o colchão.

Em julho de 1974, a Suprema Corte votou contra o presidente Richard Nixon, que se recusava a entregar as fitas incriminadoras do escândalo de Watergate. Nixon renunciou sob pressão do seu Partido Republicano.

Mas a seguir, seu vice recém-empossado cometeu o que alguns historiadores consideram o pecado que ajudou a produzir o King Kong Trump. Gerald Ford indultou o comprovadamente criminoso Nixon de qualquer crime que ele tivesse cometido quando presidente. Ford alegava a intenção de pôr fim ao "pesadelo nacional". Pode ter deixado um pesadelo muito mais grave, de consequências globais, como herança.

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