Lúcia Guimarães

É jornalista e vive em Nova York desde 1985. Foi correspondente da TV Globo, da TV Cultura e do canal GNT, além de colunista dos jornais O Estado de S. Paulo e O Globo.

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Com juízes sob suspeita, Suprema Corte dos EUA vai decidir sobre imunidade de Trump

Instância máxima da Justiça americana tem frequentado manchetes com denúncias de corrupção e nacionalismo cristão

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"Houve dias em que cheguei no escritório depois do anúncio de uma nova decisão, fechei a porta e chorei."

O desabafo é incomum por ter sido feito numa palestra recente por Sonia Sotomayor, a juíza da minoria liberal da Suprema Corte dos Estados Unidos. Sotomayor comentou o que chamou de trauma do impacto de decisões cada vez mais radicais da sólida maioria conservadora, como a abolição do aborto legal, há dois anos.

Um homem branco vestindo uma toga de juiz posa com uma expressão séria em frente a uma cortina vermelha
O juiz da Suprema Corte dos EUA Samuel Alito pose para foto oficial na sede do tribunal em Washington - Erin Schaff - 23.abr.21/Reuters

Nas últimas semanas, o tribunal máximo da Justiça dos EUA tem frequentado manchetes com denúncias de corrupção e nacionalismo cristão, concentradas nos dois talvez mais obscurantistas magistrados, Samuel Alito e Clarence Thomas —este, acompanhado por infâmia desde as célebres audiências de confirmação, em 1991, quando foi acusado de assédio sexual pela professora de direito Anita Hill.

Pesquisas nacionais, de 2023, confirmam uma alta histórica na desconfiança dos americanos nos nove juízes da Corte. Eles têm cargo vitalício e não respondem a qualquer outra instituição. O presidente da Corte, John Roberts, acaba de recusar um pedido do Comitê de Justiça do Senado para comparecer a uma sessão e responder perguntas sobre gritantes conflitos de interesses de Alito e Thomas.

Em novembro passado, Roberts só fez uma concessão, emitindo uma declaração de princípios éticos de conduta que, por serem voluntários, de nada valem. Os princípios foram anunciados após as primeiras revelações escandalosas sobre Thomas, engordado como um suíno há décadas com viagens luxuosas e presentes pelo amigo bilionário Harlan Crow, que tem, no momento, interesse financeiro em quatro casos diante da Corte.

Thomas não é o único a avacalhar a toga, só o mais ousado –recebeu mimos que somam mais de US$ 4 milhões nas últimas duas décadas. Ele se recusa a se abster de julgar casos relacionados à tentativa de golpe de Estado para impedir a posse de Joe Biden, em janeiro de 2021, embora sua fanática mulher, Ginni, tenha passado a tarde da invasão do Capitólio mandando mensagens de texto para o então presidente da Câmara, suplicando que ele sabotasse a confirmação dos votos do Colégio Eleitoral para manter Donald Trump no poder.

Em maio, o jornal The New York Times revelou que, após a invasão do Capitólio, uma bandeira americana invertida, associada à insurreição, foi desfraldada na frente da residência de Samuel Alito. Ele botou a culpa na mulher, Martha-Ann, mas mentiu, porque logo depois o Times provou que outra bandeira extremista usada pelos invasores havia passado meses na porta da casa de praia do casal Alito, em Nova Jersey.

Uma bandeira não é uma camiseta. Samuel Alito não tem imparcialidade –muito menos estatura moral— para julgar o caso mais importante diante da corte: a decisão, esperada até o fim do mês, sobre a imunidade de Trump, acusado de múltiplos crimes federais e estaduais, entre eles, o de incitar a tentativa de golpe.

Nesta semana, uma ativista democrata se fez passar por conservadora numa festa e gravou em segredo Samuel e Martha-Ann Alito confessando todo seu radicalismo, homofobia e rancor pela maioria dos americanos que apoiam a separação entre igreja e Estado.

Sobre sua visão do país, estas foram algumas frases do destemperado juiz Alito: "Precisamos devolver o país à religiosidade"; "um lado vai ter que vencer"; "não dá para transigir".

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