Luciana Coelho

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

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Descrição de chapéu Maratona Séries

'Solos', aposta da Amazon com Morgan Freeman, é gororoba com distopia

Série sci-fi se calça em monólogos pseudofilosóficos sem conseguir fazer pensar nem divertir

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Se "Black Mirror" e "Modern Love" tivessem um filho, seria "Solos", que estreia nesta sexta (25) no Amazon Prime Video. A linhagem promissora e o elenco superlativo, no entanto, não evitam que essa série-antologia de ficção científica seja, nos melhores momentos, mediana.

São seis quase-monólogos de personagens sozinhos em cena, como pede a pandemia, que contracenam com versões de si mesmo ou com inteligências artificiais (há uma versão "coach" do HAL de "2001" na melhor das historietas, que traz Helen Mirren).

Há ainda um epílogo, no qual Morgan Freeman surge com Dan Stevens ("Downton Abbey") à beira-mar. A essa altura, nem o homem que já foi Deus consegue salvar a história.

Os sete episódios funcionam de forma independente, ainda que guardem pequenas conexões, e seguem uma toada científico-existencialista que escorrega nas reflexões propostas em "Black Mirror".

São contos sobre memórias, perdas e medos ambientados num futuro próximo, em que a tecnologia possibilita clonagem, viagens no tempo e no espaço ou a perpetuação da espécie sob formas que hoje desconhecemos. Os textos foram entregues a gente do calibre de Freeman, Mirren, Uzo Aduba, Anne Hathaway, Anthony Mack, que os encenam com a competência habitual.

Mas a doçura que caía tão bem em "Modern Love", da mesma plataforma, porque ali se combinava com a acidez e a verossimilhança trazidas de vidas reais e produzia no espectador ternura, desta vez cria uma mistura indigesta.

Com a pretensão de criar algo grandioso, "Solos" acaba sendo mal concatenada, uma miscelânea recheada de frases grandiloquentes atravessadas por piadas pop fora de ritmo.

A prova do crime é que o melhor momento da série está no terceiro episódio, protagonizado por Helen Mirren, no qual a premiada atriz britânica conta a um computador crônicas de seu passado enquanto navega pelo espaço. Há um ar cafona, mas a pungência que Mirren põe nas palavras ofusca os deslizes --inclusive a tal versão "coach" de HAL, Stanley Kubrick que os perdoe.

David Weil, o roteirista que concebeu "Solos", traz no currículo outra bomba de decepção, "Hunters", que pôs Al Pacino para caçar nazistas à moda de Quentin Tarantino sem dosar drama, humor e história com algum cuidado. A julgar por esses dois trabalhos, a saraivada de referências que o autor faz questão de exibir parece ter sido absorvida em um resumão no estilo pré-vestibular.

É assim que a série se mostra: algumas questões de atualidades (a incontornável referência à pandemia de coronavírus está lá), um verniz filosófico mal pincelado, um merchandising de assistentes virtuais, alusões cinematográficas, tudo cozido às pressas numa gororoba.

Sim, há pessoas capazes de elaborar um grande prato cheio de ingredientes sofisticados a partir de macarrão instantâneo. David Weil, definitivamente, não está entre elas.

Os sete episódios de 'Solos' estão disponíveis na Amazon Prime a partir desta sexta (25)

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