Luciana Coelho

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

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Descrição de chapéu Maratona

'Em Nome do Céu', no Star+, reconta crime real para cutucar fundamentalismos

Minissérie com Andrew Garfield entremeia investigação de assassinato à origem da igreja mórmon

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Em 2003, o escritor e jornalista americano Jon Krakauer lançou "Pela bandeira do Paraíso", seu terceiro best-seller, no qual narra um crime grotesco ocorrido 19 anos antes no estado americano de Utah cuja motivação buscava explicação um século e meio antes.

Nada disso ficou velho. Ao contrário, a história de Krakauer, então já consagrado por "Na Natureza Selvagem" e "No Ar Rarefeito", ganhou peso em tempos de radicalismo e imposição de certezas.

Esse diagnóstico vem de Andrew Garfield, protagonista da transposição do livro para a minissérie que estreou em agosto no Star+ como "Em Nome do Céu". Ele interpreta Jeb Pyre, um detetive de polícia que conforme investiga um duplo assassinato se vê arrastar pelos cantos obscuros de sua fé, o mormonismo.

Garfield, ex-Homem-Aranha, já demonstrara intensidade como ator nas duas interpretações que lhe renderam indicações ao Oscar —o musical "Tick, Tick... Boom" e o drama de guerra "Até o Último Homem". Não é diferente aqui, ao fazer das dúvidas religiosas de seu personagem quase um antagonista em cena.

Seu Jeb guarda iguais proporções de fragilidade e de determinação ao confrontar as suspeitas em torno do assassinato de Brenda Lafferty (Daisy Edgar-Jones, de "Normal People"), uma aspirante a âncora de TV, e de sua filhinha de 18 meses, Erica, possivelmente por alguém próximo.

Conhecidos como uma família mórmon exemplar pela comunidade, daquelas na qual os demais se espelham, os irmãos Lafferty se afundam num torvelinho de crenças fundamentalistas, radicalismo antigoverno, evasão de impostos e senso de missão divina que acabam por extirpá-los da sociedade formal.

O roteiro do premiado Dustin Lance Black, que assinou joias como as cinebiografias "Milk" e "J. Edgar", é hábil ao manter no enredo a costura que o livro faz da investigação com a própria história dos primórdios da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, nome oficial do mormonismo —Krakauer, na época do lançamento, foi criticado pelo porta-voz da igreja por exagerar as tintas em prol do drama.

Fundada nos anos 1820 por Joseph Smith, no nordeste dos Estados Unidos, com a premissa de restabelecer o que seriam os verdadeiros ensinamentos de Jesus, a religião tem uma história de perseguição pelo establishment e raiz profunda no ethos americano.

Ao ganhar evidência nos últimos 50 anos, quando passou de 3 milhões para mais de 16 milhões de adeptos no mundo (quase 10% deles no Brasil, que tem o terceiro maior contingente de fieis atrás de EUA e México), seus líderes se viram levados a revisar parte de um passado controverso e cheio de atritos com a lei.

Lance Black é ele mesmo um ex-mórmon, e talvez por isso "Em Nome do Céu" tenha a delicadeza de apresentar a religião em suas muitas nuances, ciente dos preconceitos ao redor. O resultado é uma gama rica de personagens, da progressista Brenda a seus reacionários algozes, entre os quais o detetive de

Garfield paira, cheio de perguntas, ao lado do espectador.

"Em Nome do Céu" está disponível no Star+; "Pela Bandeira do Paraíso" foi publicado pela Companhia das Letras

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