Luciana Coelho

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

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Descrição de chapéu Maratona drogas

'Império da Dor' retrata crise dos opioides nos EUA com ares de absurdo

Série na Netflix traz Matthew Broderick como executivo farmacêutico por trás de epidemia

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Em 2017, o CDC, órgão do governo dos Estados Unidos responsável por diretrizes médicas e medicamentosas entre outras coisas, registrou a emissão de 58 prescrições de remédios com opioides para cada grupo de cem americanos. Naquele ano, as indicações para uso da droga para tratar a dor já estavam em declínio havia coisa de uma década.

Mesmo assim, naquele ano, 17.021 pessoas morreram no país em decorrência de overdoses causadas por esse tipo de substância, segundo dados oficiais.

O problema crônico do abuso de analgésicos com morfina, considerado epidêmico naquele país, é objeto de mais uma minissérie após a boa "Dopesick", exibida há dois anos pela Star+. A diferença de "Império da Dor", em cartaz na Netflix, é que ela aborda, mais do que outras produções, a responsabilidade da família Sackler e sua farmacêutica, a Purdue, na disseminação do OxyContin, até recentemente principal droga do tipo —hoje o fentanyl a supera em uso e estrago.

Homem de terno branco e de meia idade sorri para a câmera enquanto segura um frasco de comprimidos; atrás dele se vê pílulas e um céu azul
Matthew Broderick como Richard Sackler em arte de divulgação de 'Império da Dor', da Netflix - Divulgação

Por trás do projeto estão a dupla de roteiristas Micah Fitzerman-Blue e Noah Harpster (da ótima "Transparent"), que adaptou o livro homônimo de Barry Meier, e o ator e produtor Peter Berg ("Chicago Hope"), aqui como diretor.

Afora o prólogo com depoimentos reais que abre cada episódio, à la Manoel Carlos, em muitos momentos a direção e o roteiro evocam trabalhos de Adam McKay ou mesmo do genial Mel Brooks. Há exageros, decerto, mas é inegável que o uso do humor para escancarar o absurdo das situações é eficaz.

Ajuda muito um elenco encabeçado por Matthew Broderick —ele mesmo um dos protagonistas de uma das montagens mais conhecidas de Brooks, "Os Produtores"— no papel de Richard Sackler.

O homem que lançou a até então respeitada Purdue ao topo das vendas de medicamentos nos Estados Unidos e depois ao fundo de uma crise sanitária imensa, na qual se contabilizam até agora cerca de 300 mil mortes, é apresentado como um cínico que conversa com o fantasma de seu tio Arthur.

Foi o tio que alavancou a empresa e encravou o nome da família em alguns dos principais museus do mundo graças a polpudos patrocínios.

É uma interpretação de registro difícil, que arrisca o caricato, na qual Broderick faz malabarismo de carisma com cinismo e se sai muito bem.

O enredo é conduzido pela também excepcional Uzo Aduba ("Orange Is the New Black" e "In Treatment" —há uma piada com isso), que como uma das promotoras que investigou o caso faz as vezes de narradora. Como em "Oppenheimer", é péssimo haver um narrador encarregado de detalhar a história, mas que bom quando esse papel é entregue a alguém fora da curva.

A série ainda acompanha a ascensão e queda de um dependente, o mecânico Glenn (Taylor Kitsch, de "Friday Night Lights", em uma atuação bastante delicada) e de uma representante de vendas (West Duchovny, filha de David Duchovny e Tea Leoni, em seu primeiro grande papel).

São os dois personagens mais nuançados e ambíguos em uma série que avança num campo minado de maniqueísmo, mas que, quando nos deixa do outro lado, permanecerá na memória por dias.

Quem se interessar pelo tema pode ler mais sobre a crise americana nesta reportagem especial aqui.

Os seis episódios de 'Império da Dor' estão disponíveis na Netflix

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