Luciana Coelho

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

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Luciana Coelho
Descrição de chapéu Maratona

'O Urso' oferece um banquete de angústias do nosso tempo na segunda temporada

Série do Star+ extrapola a cozinha e brilha com elenco fixo e convidados

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Às vezes "O Urso" é demais. Não no sentido de incrível (embora seja). Demasiado, mesmo.

Elementos múltiplos explodindo na tela, muita cena de comida, aquela trilha sonora magnífica e nervosa, diálogos rápidos, a fotografia saturada, Chicago pulsando e todos aqueles atores fantásticos fazendo participações especiais em meio a um elenco que já era excepcional.

O tempo urge até o ápice, a abertura do restaurante autoral que dá rumo a esta segunda temporada, que chegou na semana passada com um inexplicável atraso de um mês desde o lançamento americano. É, sobretudo, intenso.

Quando esses excessos se aquietam, porém, e conseguimos mergulhar nos tormentos e alegrias de cada um dos personagens, em sua relações e expectativas constantemente frustradas, "O Urso" produz seus melhores momentos.

Foi assim no monólogo de Carmy (Jeremy Allen White) no penúltimo episódio da temporada inicial, é assim nas conversas dele com Claire (Molly Gordon) e com seus irmãos, Sugar (Abby Elliott) e Michael (Jon Bernthal), nesta segunda leva de episódios.

É preciosa a cena em que o o protagonista, um chef de cozinha estrelado que retorna ao ambiente da infância para cuidar da lanchonete da família, se descreve como alguém cujos momentos de alegria nunca forram exercidos plenamente, pois alguma cobrança, necessidade ou expectativa sempre se interpôs.

Desde o início, esta série da Star+ se destacou por esmiuçar com destreza a constatação da maturidade, da responsabilidade. As dores de crescimento, literais e metafóricas, ainda que seus personagens tenham 30, 40, 50, 60 anos. Elas não se dissipam, embora Carmy pareça alguém que espere e se cobre por isso (alguém se identifica? Pois).

Melhor que nessa junção de elementos exista harmonia, propósito. Nisso, mais do que em qualquer outra coisa, o roteiro emula o que é uma boa refeição, reconfortante e surpreendente, reconhecível e criativa a um só tempo.

Sim, mais do que no ritmo caótico de uma cozinha profissional, é desse todo que sai algo memorável, algo que alimentará nossas divagações.

A segunda temporada derruba as paredes do pequeno restaurante em Chicago para avançar na vida dos personagens, presente e passado.

Há pinceladas de lembranças dolorosas e o vislumbre de futuro brilhante, além de cenários mais diversos, com incursões por outras cozinhas na busca de Sydney (Ayo Edebiri) por conselhos e inspirações, e até por Copenhague.

É para a capital da Dinamarca que Marcus (Lyonel Boyce, cuja atuação se destaca entre as tantas excelentes da série) é enviado a fim de aprimorar sua confeitaria, no que representa um salto de ambição também para os roteiristas.

É muito raro uma série (ou livro, ou peça, ou filme) traduzir com tanta habilidade as angústias de seu tempo, aquelas mais universais. Christopher Storer, o criador de "O Urso", está muito perto disso, e tanto o público quanto a crítica —vide as 13 indicações ao Emmy— se mostram a seu lado.

Que bonito quando acontece.


As duas temporadas de 'O Urso' estão disponíveis no Star+

Erramos: o texto foi alterado

O nome do roteirista Christopher Storer foi grafado incorretamente em versão anterior do texto.

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