Luciana Coelho

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

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Sangue domina segunda temporada de 'A Casa do Dragão'

Produção da HBO mantém o nível, mas arrisca empatia do espectador com árvore genealógica bizarra

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Em suas muitas e longas guerras, os militares norte-americanos costumam chamar de "baixas colaterais" ou "danos colaterais" a morte de civis que não são alvo primário do conflito. Estavam perto de onde a bomba explodiu, houve erro técnico, às vezes um sádico age sem pudores.

Pois são muitas as baixas colaterais nesta segunda temporada de "A Casa do Dragão", que estreia no próximo dia 16 na HBO. Nenhuma, claro, a ser relatada aqui —ninguém quer estragar o prazer do leitor-espectador. Dá para dizer, no entanto, que são esses danos colaterais o novo impulso à história, ao menos nos dois primeiros episódios (foi tudo que a HBO liberou para jornalistas até agora).

A morte é banal na série que conta parte do prólogo de "Game of Thrones", a ponto de criar expectativa. Ainda assim, a espiral de carnificina intrafamiliar traz um quê de "Succession" à trama fantástica de inspiração medieval calcada nos livros de George R.R Martin. Há sangue derramado por alguém do mesmo sangue, e também há traições aos borbotões.

A geopolítica que dominou a primeira temporada entra em segundo plano, ofuscadas por questões mais comezinhas e pessoais dos personagens. Diferentemente de "Game of Thrones", aqui as definições de bem e mal são mais turvas, o que também dificulta a torcida por uma das casas e, por conseguinte, a empatia com os Targaryen e companhia.

Não que esses não sejam interessantes. A densidade das personagens femininas se contrapõe ao tratamento de segunda classe que elas receberam na série anterior, em contraposição aos masculinos, desta vez movidos por impulsos básicos ou mesmo infantis, certos de sua capacidade de manipular quem está ao redor.

A questão da maternidade, já presente na temporada anterior, assume papel central, sem contudo reduzir a simplismos o caráter das protagonistas.

Em grande parte o que viabiliza tantas nuances é a interpretação de Emma D'Arcy, que dá vida à rainha Rhaenyra, abalada por uma perda tristíssima no fim da primeira temporada.

Com desempenho superior ao restante do elenco (o único páreo é com o veterano Rhys Ifans, como o calculista Otto Hightower), é ela que carrega a alta voltagem dramática das cenas que, de outra forma, seriam só sangue. Olivia Cooke também torna palpável, quase compreensível a pusilânime Alicent, cujos planos esbarram na competência dos próprios filhos.

Para além das duas, o elenco é em geral competente; algo, porém, se perde pelos intrincados cruzamentos de laços familiares, numa árvore genealógica mais retorcida do que a dos Buendía de Gabriel García Márquez. Depois de um ano e meio de intervalo entre as duas temporadas, é difícil lembrar quem é filho de quem e irmão de quem (não raro, da própria esposa) e a série não tenta ajudar, priorizando a ação.

É uma escolha razoável, mas arrisca perder a empatia do espectador, limitado a esperar pela próxima baixa colateral.

A segunda temporada de "A Casa do Dragão" estreia na HBO dia 16, com novos episódios todos os domingos.

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