Luís Francisco Carvalho Filho

Advogado criminal, é autor de "Newton" e "Nada mais foi dito nem perguntado"

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Luís Francisco Carvalho Filho

Forças de segurança seguem matando e iludindo

Um dos desafios da humanidade que persistem é domar as polícias

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Além da emergência climática e da fome, um dos desafios da humanidade ainda é domar as polícias.

O verbo domar parece rude porque normalmente se emprega para domesticar animais selvagens pela força bruta ou pelo treinamento e educação. Polícia sem freios, em qualquer canto do planeta, é invariavelmente corrupta e selvagem.

O noticiário da semana é ilustrativo.

O cerco a Danilo Cavalcante, condenado à prisão perpétua nos EUA, depois de 14 dias de perseguição pela polícia da Pensilvânia, sem um único disparo de arma de fogo, gera perplexidade, porque o normal, entre forças de segurança, é atirar para depois festejar o abate do criminoso.

Armado, Danilo Cavalcante desafiou os brios da polícia, que, em vez de embrutecer, como num thriller, realizou operação pautada pela inteligência, pela tecnologia e pela sorte, é claro.

Há simbologia política no acontecimento. O fugitivo não é eliminado. É devolvido ao cárcere. Vigora assim o império da lei. Agora é preciso atenção, porque o preso não pode ser submetido à vingança de agentes atingidos pela fuga, sob pena de não predominar mais o império da lei.

Mas polícias nos Estados Unidos são hostis, como são hostis as polícias no Brasil.

Danilo Cavalcante é preso pela polícia
Danilo Cavalcante é preso pela polícia da Pensilvânia - Polícia Estadual da Pensilvânia

O policial branco mata a tiros dois adolescentes negros após abordagem de suspeitos, em Syracuse, Nova York, um de 15, outro de 17 anos de idade. Ele não ativa a câmara acoplada ao uniforme. Prevalece sua versão, de que atirou por estar ameaçado. Aparece, depois, o vídeo do xerife atirando desnecessariamente. Não prevalece o império da lei.

Um ano depois de Genivaldo ter sido executado por agentes da Polícia Rodoviária Federal em Umbaúba, Sergipe, asfixiado por gás lacrimogênio no porta-malas da viatura, a União é condenada a indenizar o filho por danos morais: R$ 1 milhão, além de pensão mensal no valor de dois terços de um salário mínimo até completar 24 anos. A Advocacia-Geral da União avalia a possibilidade de entrar com recurso, informa a Folha.

Ação da Polícia Rodoviária Federal em Sergipe provoca a morte de Genivaldo de Jesus Santos
Agentes da Polícia Rodoviária Federal em Sergipe matam Genivaldo de Jesus Santos - Reprodução

Agente da mesma Polícia Rodoviária Federal desfere três tiros contra carro ocupado por uma família na Baixada Fluminense e atinge criança de três anos. Sem motivo. Ou melhor, o policial "disse que pensou ter ouvido disparos" e por isso reagiu.

Em 22 ocorrências com resultado morte na chamada Operação Escudo, desencadeada para retaliar o homicídio de policial militar no Guarujá, foram disparados 136 tiros. Em uma única ocorrência, no morro Santa Maria, em Santos, foram 37 disparos. Há registro de uso de câmera pelos policiais em uma única ocorrência.

Ao ser perguntado sobre o elevado índice de homicídios na Bahia, estado governado pelo PT desde 2007, o atual ministro da Casa Civil prefere contestar a credibilidade técnica do respeitável Anuário Brasileiro da Segurança Pública, que também situa a polícia baiana no topo do ranking da letalidade policial.

Em São Paulo, "o crime não compensa", alega o secretário de Segurança Pública, que cultiva a reputação de ter sido policial matador, ao postar nas redes sociais fotografias de pacote de maconha associada à imagem do presidente Lula e à mensagem eleitoral "faz o L". Por certo, o secretário adepto do confronto armado e da eliminação de suspeitos, normalmente jovens negros, não exibiria a foto do pacote de maconha associando a droga à imagem tão inspiradora, corrupta e golpista de Jair Bolsonaro.

As polícias seguem iludindo, ocultando e matando.

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