Luiz Felipe Pondé

Escritor e ensaísta, autor de "Notas sobre a Esperança e o Desespero" e “A Era do Niilismo”. É doutor em filosofia pela USP.

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Luiz Felipe Pondé

Os inteligentinhos venceram

Esse tipo é como bando de crianças que reduzem o mundo ao seu ursinho

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Os inteligentinhos venceram. E o sinal está fechado para quem não lamber seus sapatinhos. Eles estão em toda parte. Escolas —onde são fabricados em série por professores inteligentinhos—, nas universidades —um dos seus habitats naturais—, na mídia —aos montes—, na política —podem ser corruptos e inteligentinhos—, na arte —quase ninguém escapa—, no marketing.

Engana-se você se pensa que os inteligentinhos são um nicho homogêneo. Podem vir burrinhos, com doutorado, tendo publicado livros, gostosa —no feminino mesmo—, rico, pobre, falando inglês, ator, engenheiro, jornalista, filósofo, cis, trans, hetero, gay.

Conceitos como masculinidade tóxica têm a credencial epistemológica igual à dos átomos e suas partículas. Qual a causa dos ataques às escolas? Masculinidade tóxica e misoginia —modinhas que explicam tudo. Infelizmente, temo, nunca saberemos as causas desses ataques.

O patriarcalismo, claro, está no mesmo nível da física newtoniana, explicando porque aviões caem e porque só as mulheres sofrem as dores de parto. O feminismo, por sua vez, está provado, é o verdadeiro livro do Gênesis, sem ele, coitados de nós, nada entendemos a nossa volta. Inteligentinhas só confiam em médicas.

Título: Os inteligentinhos venceram. A ilustração figurativa de Ricardo Cammarota foi executada em técnica manual, pastel seco sobre papel branco, em tons cinzas e grafite, com contornos em lápis carvão. A imagem, em linguagem cartoon com traços soltos e marcas da textura do carvão e fundo texturizados, mostra um ursinho de estimação em tamanho de uma figura humana, deitado num divã, dentro de um consultório de psicanálise. Atrás dele, a poltrona do psicanalista está vazia, e uma folha branca com uma caneta estão no assento. A decoração segue padrão, com 3 quadros de certificados, abajur rococó, quadro de psicanalista, estante com livros, tapete decorado, vaso com planta e, da janela com persianas, avista-se prédios.
Ricardo Cammarota

A teoria da interseccionalidade ocupou o lugar do materialismo dialético, só não explicando como um homem branco, europeu, heterossexual, cis, predador sexual, pode ser tão iluminado. De quem estou falando?

Os inteligentinhos são como crianças birrentas que reduzem a complexidade do mundo ao seu ursinho —portanto, nunca abandonaram seu objeto transicional. Falam com ele, culpam ele, beijam ele, se masturbam com ele.

Grande parte dos chamados "especialistas" hoje são dessa categoria. Abraçam livremente argumentos ridículos a favor da sua ontologia fóbica —se você não usa a palavra "fobia" ou derivados hoje em dia quase ninguém entende o que você está falando. Homofóbico, transfóbico, gordofóbico, cristofóbico, islamofóbico.

Nem Freud imaginou um dia que a ideia de fobia se transformaria num mantra político. A sociologia manca sob o peso do lobby que se dedica as formas contemporâneas de fobias sociais.

Os inteligentinhos têm mesmo sua parte de responsabilidade na criação dessa aberração chamada extrema direita, uma espécie de doença autoimune que se espalha pelo globo. Sim, eles falam muitas línguas e muitos são cosmopolitas.

Perguntam-me muito se não acho que o discurso de ódio e o culto a violência sejam mais perigosos que a epidemia inteligentinha. De forma imediata, claro. O risco da epidemia de inteligentinhos é de outra natureza: ela atinge o cérebro da pessoa e da sociedade, como Alzheimer. Perdemos a cognição com a realidade.

As novelas, os filmes, as peças de teatro são realizados, na sua imensa maioria, por eles. Hollywood acabou nas mãos dos inteligentinhos e hoje é uma indústria cultural para retardados.

Inteligentinhos creem firmemente que podemos "stop oil". Os aviões continuarão a voar, os produtos continuarão a chegar na sua geladeira, o lixo continuará a desaparecer das ruas, os hospitais continuarão a funcionar. Inteligentinhos falam frases do tipo "nós temos que reconstruir tudo que vocês destruíram". Incrível: uma geração que nem sabe se é menino ou menina salvará o mundo da sua eterna miséria.

Mesmo a polarização pode ser entendida como uma briga entre idiotas e inteligentinhos. Uma diferença importante entre os dois grupos é que o segundo sabe fingir bem que é a favor da democracia, enquanto o primeiro fala e age abertamente contra ela.

A agressividade inteligentinha é do tipo passivo-agressiva. Apesar de constantemente ter ataques histéricos, nossos doces revolucionários com iPhones têm uma afetividade dada a lágrimas diante da própria sublime bondade e da sua pureza de intenções.

Afinal, de onde vieram eles? Nunca saberemos por que a inteligência acadêmica e pública é na sua imensa maioria inteligentinha. A academia é um caso perdido.

Enfim, o mundo se afoga na baba dos inteligentinhos. Que todos comprem babadores e regridam aos seus ursinhos.

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