Engrosso o coro dos que acreditam que a inteligência artificial controlará a humanidade. No entanto, permitam-me discordar em um detalhe que faz toda a diferença: o pessimismo da coisa toda.
Podem me chamar de Poliana, mas vejo esse futuro distópico com otimismo e humor. No caso, humor vítreo, que é a substância gelatinosa que preenche nossas cavidades oculares. Porque do ponto de vista humano, tenho lugar de fala para admitir que estou exausta e aceito de bom grado que um robô assuma o controle do meu destino.
Não quero soar como uma pelega e ir contra as demandas de roteiristas e atores que estão lutando por nossos direitos, contra a precarização do trabalho pela substituição por IA. O inimigo, aqui, são os CEOs de grandes estúdios.
Uma pesquisa britânica sobre psicopatia funcional —que não leva as pessoas a cometerem assassinatos, mas as torna extremamente vaidosas, manipuladoras e frias emocionalmente— apontou que um dos principais cargos ocupados por quem tem esse transtorno mental são CEOs de grandes corporações. Para ser bem-sucedido na nossa sociedade é vantajoso não sentir empatia, ou melhor, não sentir absolutamente nada.
Ou seja, um robô tiraria de letra a função operacional de CEO, sem cobrar um salário astronômico por isso, resolvendo a crise financeira que assola o mercado audiovisual. Me parece óbvio que a IA é bem mais qualificada para gerir um negócio do que ocupar o posto de roteiristas e atores, que requer sensibilidade e trabalha, sobretudo, com a emoção.
Um ser humano que precisa de 20 anos de estudos para ocupar a maior autoridade na hierarquia de uma empresa; de tempo para necessidades básicas como comer, evacuar e dormir; de lazer para compensar o estresse de trabalhar nove horas por dia; que não consegue processar milhões de dados em alguns segundos, e ainda pode manchar a imagem da corporação com escândalos de assédio moral e/ou sexual, deveria estar no topo da lista para ser substituído por um robô, e não no topo do mundo.
Se o CEO é um visionário que transforma crises em oportunidades, que encare o desafio dos novos tempos e se torne mais humano. Caso contrário, a César o que é de César.
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