Marcos de Vasconcellos

Jornalista, assessor de investimentos e fundador do Monitor do Mercado

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Inevitável regulação da IA pode frear ações de big techs

Empresas de tecnologia surfam em ferramenta e ações disparam, enquanto controle vira debate no mundo inteiro

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McDonald’s e Visa são as duas únicas empresas de fora do setor de tecnologia que estão entre as dez maiores marcas do mundo. Até a Coca-Cola, que tinha um lugar cativo no ranking até ano passado, perdeu o posto.

O retrato de como as big techs atropelaram a economia global saiu nesta semana, pelo relatório anual da Kantar Brandz, que coleta dados da área de marketing. A chegada de Nvidia, Facebook e Oracle ao topo da lista desbancou nomes como Louis Vuitton e Mastercard, além da Coca.

Pessoas se aglomeram ao redor de uma escultura dourada em formato de touro em frente à fachada da Bolsa de Valores de São Paulo, onde é possível ver um [B]³ escrito.
A B3, Bolsa de Valores brasileira - Danilo Verpa/16.nov.21/Folhapress

A Apple, pelo terceiro ano consecutivo, lidera o ranking —divulgado justamente na semana em que as ações da companhia dispararam, com investidores empolgados com sua entrada definitiva na corrida da inteligência artificial (IA). Caso você não tenha visto, a gigante da maçã anunciou a integração do seu sistema operacional (iOS) com o famoso ChatGPT, da OpenAI.

É justamente essa corrida pela IA que sustenta a sequência de recordes do índice Nasdaq, espécie de Ibovespa das ações de tecnologia. O indicador disparou praticamente 20% neste ano, mesmo com a taxa de juros nos EUA em patamares historicamente altos, entre 5,25% e 5,5%. Tradicionalmente, juros atrapalham empresas de tecnologia, que dependem de investimento e crescimento rápido.

O entusiasmo com a IA parece, até agora, imune às pressões macroeconômicas. A história da Nvidia, que cresceu 178% em valor de mercado graças à sua liderança em chips para a nova tecnologia, demonstra o impacto que a inovação pode ter no mundo dos investimentos. A rainha dos chips já vale mais de US$ 3 trilhões (cerca de R$ 16 trilhões).

Mas as ondas de otimismo trazem consigo a pulga que deve habitar as orelhas de todo jornalista e de todo investidor. E essa pulga tem o dever de nos lembrar que a regulação da nova tecnologia está em pauta no mundo inteiro.

A preocupação com os possíveis freios e contrapesos a serem impostos fez, por exemplo, a OpenAI aumentar seu exército de lobistas, de 3 para 35, em cerca de um ano, segundo o jornal Financial Times. O Brasil, aliás, é um dos oito países nos quais a equipe atua diretamente, conforme o texto.

Além dos políticos, dos lobistas e das ONGs, a necessidade de regulamentação da IA para evitar a criação de um "oligopólio tecnológico" já entrou no discurso do presidente da SEC, a xerife do mercado financeiro dos Estados Unidos.

A falta de regras gera certamente ganhos para as empresas que chegaram primeiro ao mercado da "bola da vez". Mas atuar na zona cinzenta da legislação permite que atividades vistas por alguns como antiéticas sejam vistas como oportunidades de lucro. O curioso caso da Adobe, que ocorreu nesta semana, ilustra bem a situação.

A empresa, dona do famoso Photoshop, enfrentou críticas nas redes sociais, de pessoas que viram em seus novos "termos de uso" a sugestão de que ela poderia usar artes dos seus usuários para treinar sua inteligência artificial. Investidores, por outro lado, acharam a mudança um bom sinal e as ações dispararam 15% em um dia.

Iluminar as zonas cinzentas tornou-se urgente, para evitar abusos e discrepâncias com o avanço da tecnologia. A regulação da IA é inevitável, mas seus contornos são incertos. A visível preocupação das empresas com o tema deixa claro que esse pode ser o freio para a escalada nos preços das ações do setor.

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