Mariliz Pereira Jorge

Jornalista e roteirista de TV.

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Homens estão um capítulo atrasados sobre assédio

Por que é tão difícil para muitos entender que flerte e paquera é uma coisa e assédio sexual é outra bem diferente?

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Por que ainda é tão difícil para muitos homens entender que flerte, paquera, brincadeira é uma coisa e assédio sexual é outra bem diferente? Sempre que me deparo com uma denúncia, tenho me perguntado qual é a parte de todas as mensagens, de todas as mudanças em leis, de todas as discussões sobre o assunto os assediadores não entenderam?

E não se trata apenas dos trogloditas que acham que a discussão é mimimi de feminista. Homens que se dizem progressistas ainda se comportam como na era pré-me too e usam o mesmo argumento furado de que não absorveram as mudanças de uma sociedade transformada, onde “os limites foram redesenhados”, como disse Andrew Cuomo.

O agora ex-governador de Nova York, que levantou bandeiras feministas em seus mandatos, disse que talvez não fosse o aliado das causas que imaginava ser. Sim, passou de aliado a assediador. Renunciou diante das acusações de quase uma dúzia de mulheres, que resultaram num relatório de 165 páginas.

O então governador de Nova York Andrew Cuomo anuncia a sua renúncia em um vídeo divulgado por seu gabinete
O então governador de Nova York Andrew Cuomo anuncia a sua renúncia em um vídeo divulgado por seu gabinete - Gabinete do Governador Andrew M. Cuomo - 10.ago.21/Reuters

Cuomo não era considerado um partidário do feminismo à toa. Sua vida pública foi marcada por atos que beneficiaram a agenda, como uma lei que ampliava o direito ao aborto, lançou um pacote de medidas para combater a desigualdade salarial, a discriminação no ambiente de trabalho, a violência doméstica. Nas redes sociais, se posicionava contra o assédio sexual e em várias ocasiões lançou o argumento de ser pais de três mulheres para chancelar o seu compromisso com as pautas de igualdade de gênero.

Não deixa de ser surpreendente constatar que os homens estão um capítulo atrasados na questão do assédio. Sim, os limites foram redesenhados, mas mesmo os que têm informação suficiente sobre o assunto não revisam seu próprio comportamento ao mesmo tempo que condenam o de outros. Não conseguem se identificar como assediadores e continuam agindo de forma predadora, fazendo novas vítimas.

Escolaridade, cultura, informação também não podem servir de álibi nos dias de hoje. Um caso emblemático do descompasso sobre a consciência do que é abuso numa relação foi o relatado por uma funcionária de uma empresa de telefonia, trancada dentro de uma sala e assediada por dois colegas de trabalho. Assim como ela sabia que havia sido vítima de um crime e o denunciou, não é possível que os homens achassem que se tratava apenas de uma brincadeira ou que ela apenas estivesse se fazendo de difícil. Mas o assediador se sente tão confortável que normaliza qualquer tipo de violência.

Não pode abraçar, beijar, se insinuar, mandar mensagens ou convites insistentes, fazer gestos com conotação sexual, pedidos obscenos quando não há reciprocidade da coleguinha ou do coleguinha. Infelizmente, o discurso decorado e que está na ponta da língua de muito homens se revela vazio na prática. Coleciono histórias minhas, de amigas e de conhecidas que já estiveram em apuros justamente com homens muito bem-informados, que estão nas redes socais falando de retrocessos, de perda de liberdades, de ameaça fascista, de machismo, de assédio, mas que na primeira oportunidade pedem para funcionária pegar em seu pau.

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