Mariliz Pereira Jorge

Jornalista e roteirista de TV.

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Cadê as feministas?

Por que não se fala sobre o caso de violência doméstica do filho de Lula?

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Não é exagero dizer que se um filho do ex-presidente Jair Bolsonaro tivesse sido acusado de assédio ou de qualquer tipo de violência, a internet teria parado. Era texto de feminista de portal, de feminista de Twitter, do TikTok. Parlamentares de esquerda estariam na tribuna da Câmara falando sobre como o bolsonarismo é machista, misógino, tóxico, violento. E é mesmo. Não há nenhum motivo para achar o contrário.

O que tivemos agora sobre a acusação de violência que pesa contra Luís Claudio, filho do presidente Lula, foi um vácuo de posicionamentos. A reticência constrangedora deixada é usada pela extrema direita para manipular a narrativa. Lamento ver feministas em cima do muro para proteger homens por razões políticas. Lamento sobretudo que deem de bandeja motivos para que os verdadeiros propósitos do feminismo sejam questionados.

Cadê as feministas?

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Luís Cláudio Lula da Silva, filho do presidente Lula - Edmar Barros/Folhapress

É uma cobrança justa, ainda que seja apenas política. De um lado, adversários do presidente nas redes sociais exigem que manifestações das feministas. Do outro lado, a resposta também é movida pela mesma razão. O mais completo silêncio por parte de ativistas, de artistas, de parlamentares e do próprio governo.

Todo mundo errado nessa história. Essa direita espalhafatosa está pouco se lixando para a denúncia, não está nem um pouco preocupada com a vítima ou com as estatísticas sobre violência. Mas estão erradas as feministas que se calam, os artistas que somem na hora de que mostrar para valer que "mexeu com uma mexeu com todas", os parlamentares de esquerda que tratam do assunto como se fosse seu monopólio, mas que desaparecem quando as críticas respingam em aliados políticos.

O filho do presidente Lula, Luís Cláudio foi acusado de violência física, moral e psicológica, pela ex-mulher, que registrou um boletim de ocorrência. A Justiça de São Paulo aceitou um pedido de medida protetiva, o que significa que Luís Cláudio está proibido de ficar a menos de 200 metros da mulher e ele deve sair da casa onde moram juntos. Ele também não pode contatar a ex-companheira por telefone e redes sociais; ou frequentar os locais de trabalho e estudo dela. A defesa diz que a denúncia é "inverídica" e "fantasiosa". Ele tem todo direito a se defender, isso está garantido pela Constituição.

O episódio poderia ser um exemplo para discutir como a violência contra mulher é uma endemia no país. Deveria ser uma pauta sem ideologia, um compromisso de toda a sociedade de abraçar políticas que melhorem a condição do Brasil nas estatísticas.

No entanto, a primeira regra do feminismo sobre questões de violência está sendo desrespeitada. A vítima não tem sempre razão? Acolher, ouvir e dar voz é o que deve ser feito. No episódio do filho de Lula, o que não faltam são alegações de que houve todo tipo de violência, física, moral e psicológica.

Natália Schincariol contou à polícia que chegou a ser agredida fisicamente com uma cotovelada na barriga durante uma briga. Ela disse que violência verbal, psicológica e moral se intensificaram ao longo do tempo, que ficou afastada do trabalho por um mês devido ao trauma causado pelas agressões e chegou a ser hospitalizada com crises de ansiedade. Teria sido chamada de doente mental, vagabunda, louca. Pois é, homem não consegue ser nem criativo na hora de agredir uma mulher. Natália também disse que Luís Claudio alegou ser filho do presidente, que tinha influência para se safar das acusações e que o pai o defenderia. Ele teria dito: "Ninguém vai acreditar em você, eu tenho poder e você não tem nada".

Se não pelas acusações de violência, isso já seria o suficiente para que Lula se manifestasse, deixando clara a posição de não interferir para que sejam apuradas as denúncias contra seu filho. O presidente perde a oportunidade de mostrar seu comprometimento com todas as mulheres do país e se colocar fortemente como um aliado dessa causa. É bastante revelador que Janja não tenha se pronunciado.

Lamento muito o silêncio de colegas feministas neste episódio, em especial parlamentares. O feminismo não é um clube em que as associadas firmam um pacto de defender só as pessoas de quem gostam. O feminismo é um movimento social que luta por interesses coletivos —ao menos é como deveria ser.

Espero que as denúncias sejam investigadas e, se houver culpado, que seja punido. Pode ser de direita, de esquerda, pode ser jogador de futebol, de truco, pode ser filho da rainha, filho do presidente. Não dá pra ficar em cima do muro.

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