Marina Izidro

É jornalista e vive em Londres. Cobriu seis Olimpíadas, Copa e Champions. Mestre e professora de jornalismo esportivo na St Mary’s University

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Pais e mães, levem suas filhas para jogar futebol

Da minha infância para a geração atual há avanços, mas a prática precisa ser mais popular

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"Por que quando eu era criança não joguei futebol?"

Fiz a pergunta para os meus pais esta semana e a resposta deles foi exatamente a que eu imaginava. Não aprendi a jogar porque, mesmo que eles tentassem procurar uma escolinha de futebol feminino, não achariam uma.

E olha que meu pai e minha mãe sempre me incentivaram a praticar atividade física, foram grandes responsáveis pelo meu amor por esportes e me deram liberdade para experimentar o que eu quisesse. Fiz natação, balé, ginástica rítmica, jazz, nado sincronizado, vôlei, vôlei de praia, handebol, surfe, capoeira, tênis. O futebol nunca esteve na lista. E isso não é uma surpresa. Eram outros tempos.

duas meninas vestem uniforme roxo e correm atrás de uma bola em campo de futebol
Crianças do time sub-11 do Centro Olímpico treinam em campo de piso sintético, em São Paulo (SP) - Danilo Verpa - 30.mai.2019/Folhapress

Na minha infância no Rio de Janeiro, nas décadas de 1980 e início de 1990, ele não era um esporte popular para meninas onde cresci. Era pouco praticado e visto com certa discriminação. As partidas não passavam na televisão, a Marta ainda não era referência, as escolinhas da época só tinham times para meninos. Na escola, eles, claro, jogavam. Nós, nem pensar. Era vôlei ou handebol.

Na adolescência, fui ao Maracanã com os amigos e acompanhava os campeonatos, sempre os dos homens. Ainda não via a popularidade do jogo feminino de fato mudar. Me formei em jornalismo e trabalhar com futebol virou a minha rotina, mas só aprendi a jogar (ainda mal) depois de adulta. E adorei.

Fico feliz de ver como esse cenário está mudando na geração atual. Na Inglaterra, aulas de futebol para meninas são algo comum. Elas são incentivadas a jogar, sem nenhum tipo de preconceito. Amigas que moram no Brasil e têm filhas crianças ou adolescentes me contam que, se elas quiserem aprender futebol, não é difícil encontrar uma escolinha.

Este ano, fui ao estádio do Arsenal assistir a uma partida da Women’s Super League, a primeira divisão inglesa no feminino. O Arsenal Women enfrentou as atuais campeãs, o time do Chelsea Women, e a experiência do público foi muito parecida com a de um jogo da Premier League e com ingresso a um preço bem mais acessível: torcedores uniformizados no metrô a caminho do estádio, loja oficial do clube aberta e onde era possível comprar os uniformes oficiais delas, bares cheios, assentos com lugar marcado.

Quem foi, não se decepcionou. Foram cinco gols e vitória do Arsenal por 3 a 2. Nove mil pessoas torceram e cantaram nas arquibancadas em um domingo à tarde –longe dos estádios lotados como no campeonato masculino, mas um avanço. O melhor foi ver que entre os milhares de espectadores havia pais que levaram filhos para ver um jogo de mulheres, cena infelizmente ainda impensável em alguns países.

Mesmo na Inglaterra, onde há investimento, há pontos a evoluir. Mas existe um caminho sendo traçado para aumentar o interesse das pessoas, popularizar ainda mais a prática e divulgar o esporte.

No Brasil, vejo cada vez mais meninas andando de skate (talvez seja também um efeito do sucesso nos Jogos Olímpicos de Tóquio) e jogando futebol, mas ainda falta uma mudança de mentalidade em partes da sociedade. Quanto mais professores e gestores criarem aulas para mulheres e deixarem o ambiente de escolinhas e clubes acolhedor para a participação delas, mais o esporte cresce e fica inclusivo.

Pais, que tal levarem suas filhas para aprender? Podem ter certeza: elas vão se divertir. E uma bola é sempre um belo presente de Natal.

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