Liga dos Campeões em Londres, jogo de volta das quartas de final. Arsenal contra Bayern de Munique no Emirates. Com dois gols em sete minutos, o time da casa garantiu a classificação e enfrenta o Wolfsburg na semifinal. Em uma noite chuvosa, na última quarta-feira (29), o técnico Mikel Arteta estava entre os mais de 21 mil presentes, mas na arquibancada, torcendo. A partida era da Champions feminina.
Depois do jogo, o treinador do Arsenal feminino, o sueco Jonas Eidevall, disse que o clima no clube é tão positivo e há tanto apoio que ele acredita que mandar todos os jogos no Emirates no futuro pode virar realidade. Hoje, o estádio de 60 mil lugares é a casa do masculino, líder da Premier League. A equipe feminina normalmente joga em um estádio de 4.500 lugares que pertence a um clube da 5ª divisão.
Na noite de quinta-feira (30), em Stamford Bridge, Chelsea contra as supercampeãs do Lyon teve todos os elementos de um jogo dramático e emocionante. O gol do time da casa nos últimos segundos da prorrogação deixou o placar agregado empatado e levou para os pênaltis a decisão da vaga na outra semifinal. O Chelsea venceu e eliminou a equipe francesa, que tem oito títulos de Champions e dominou o futebol europeu feminino na última década. Agora as inglesas disputam um lugar na final contra o Barcelona.
Os confrontos foram mais uma amostra do alto nível da Liga dos Campeões feminina, com todos os jogos das quartas de final nos estádios principais de seus clubes: Allianz Arena, Camp Nou, Parc des Princes...
A possibilidade de uma final com times ingleses não é à toa: são anos de investimento no futebol feminino, que foi repaginado e ao longo dos anos ganhou patrocínio e exposição na TV. A Women’s Super League (WSL) –primeira divisão– existe neste formato desde 2011. Tem 12 equipes totalmente profissionais e nesta temporada a disputa do título entre Manchester United e Manchester City está tão acirrada que ele pode ser decidido no critério de desempate de diferença de gols.
No ano passado, Arsenal e Tottenham pela WSL teve impressionantes 47.367 torcedores no Emirates. Há cada vez mais público assistindo ao futebol feminino e isso estimula o debate. Na semana passada, o United feminino venceu o West Ham em Old Trafford diante de quase 28 mil pessoas. Lucy Parker, jogadora do West Ham e da seleção inglesa, questionou por que o clube dela não deixa a equipe feminina jogar no mesmo estádio dos homens.
É até surreal pensar que durante 50 anos, até 1971, o futebol feminino foi banido em estádios na Inglaterra pela federação de futebol do país, por ser considerado "inadequado para mulheres."
Na semana que vem, a seleção brasileira feminina joga em Wembley contra a Inglaterra na Finalíssima, confronto entre as campeãs da Copa América e da Eurocopa. Em julho, disputa a Copa do Mundo na Austrália e Nova Zelândia.
A realidade do rico futebol inglês pode parecer distante para a maioria dos países, inclusive o Brasil, mas isso não significa que resta aos dirigentes brasileiros apenas admirar de longe.
Quais boas práticas podem servir de exemplo? O que pode ser adaptado do que se faz na Europa em termos de infraestrutura em relação ao que já existe para o time masculino? Se as portas se abrirem para o futebol feminino, torcedores e patrocinadores vão entrar.
O momento é positivo e oportuno. É preciso aproveitá-lo.
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