As cenas dos últimos dias de incêndios em ilhas gregas e turistas desesperados são trágicas, mas não chocam. E quem dera o único problema fosse a interrupção das férias.
Há anos cientistas alertam que eventos climáticos extremos se tornariam mais frequentes e intensos se nada fosse feito para limitar o aquecimento do planeta, causado pela emissão de gases poluentes vindos de combustíveis fósseis como o carvão e por atividades como a pecuária. Essa hora macabra chegou. Vai piorar.
Ondas de calor mortais atingiram Europa, China, Estados Unidos. Deve ser o mês de julho mais quente da história. O secretário-geral da ONU, António Guterres, disse que, em vez de aquecimento global, "é a era da fervura global". Os maiores especialistas do mundo e inúmeros estudos provam que a culpa é da ação do homem. O planeta não aguenta mais tanto consumo e tanta exploração desenfreada de recursos naturais.
Na cobertura in loco de duas conferências do clima da ONU, as COPs, foi de partir o coração presenciar o testemunho de quem vive em ilhas que estão desaparecendo, submergidas pelo mar, ou em países africanos onde já é impossível plantar por causa das secas, enquanto os maiores poluidores do planeta, em um misto de ganância e ignorância, fingem não escutar. Os pobres sofrem mais, como os que moram em áreas de risco no Brasil e perdem casas e vidas depois de tempestades e enchentes.
Na COP de 2021, escrevi uma coluna intitulada: "O que as mudanças climáticas têm a ver com o esporte que você pratica". O aquecimento global aumenta o risco de morte causado pelo calor e pela poluição. Inundações, furacões e incêndios destroem campos, quadras, estádios.
Nesta semana, a campeã mundial de vôlei de praia Melissa Humana-Paredes foi questionada sobre como lidava com o calor intenso e a possível extinção de modalidades ao ar livre. "Se você gosta de esportes –futebol, vôlei de praia, tênis, esqui, esportes aquáticos, atletismo–, espero que isso o inspire a se importar e a fazer algo pela ação climática", pediu a canadense.
Se você ama a natureza, mas se sente impotente diante do problema, saiba que dá para fazer muito. Primeiro, mudando hábitos. Mas não adianta querer emagrecer cortando carboidrato por uma semana e depois devorar uma pizza. Tem que virar rotina. Levar a própria sacola na hora das compras, recusar o uso de plásticos no restaurante, apagar as luzes em casa, não deixar a torneira sempre ligada na hora do banho ou de lavar a louça. Não consumir marcas que destroem o meio ambiente –nosso poder como consumidores é maior do que imaginamos.
E duas ações muito eficientes: uma é diminuir ou interromper o consumo de carnes. O metano liberado pelo gado é um dos grandes responsáveis pelo aquecimento global, fora a barbárie da tortura animal. Não como carne vermelha ou de aves há sete anos, é possível! Quem sabe um dia consiga parar de comer peixe.
Sinto-me mais saudável e com a consciência tranquila. Acredite, seu corpo vai agradecer. A outra é votar em lideranças que se preocupem com a emergência climática (cuidado com falsas promessas, o "greenwashing") e invistam em políticas públicas para que você respire um ar menos poluído e possa usar transporte público eficiente, em vez do carro.
Cobre, não se acomode. Se não for por você ou pelo esporte que ama, que seja por seus filhos e netos. São eles que vão sofrer as piores consequências de um mundo que está, cada vez mais, tornando-se inabitável.
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