Mauricio Stycer

Jornalista e crítico de TV, autor de "Topa Tudo por Dinheiro". É mestre em sociologia pela USP.

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A semana do presidente 2

Bolsonaro reza com Edir Macedo, vê jogo com Silvio Santos e ataca a Globo

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Na manhã do último domingo, por volta das 10h, o presidente Jair Bolsonaro se ajoelhou no púlpito do Templo de Salomão e, de costas para os cerca de 10 mil fiéis presentes, foi abençoado pelo bispo Edir Macedo. “Que Deus lhe dê sabedoria e coragem”, disse o fundador da Igreja Universal, com as duas mãos sobre a cabeça do presidente.

“Que ele tenha sabedoria, inteligência, coragem, ânimo, saúde, força, vigor para fazer deste país um novo Brasil, meu pai. Porque essa é a nossa fé”, pediu o bispo. Encerrada a oração, abraçou o presidente e disse: “Vai arrebentar! Vai arrebentar. Pode ter certeza”.

Macedo, que também é proprietário da TV Record, disse aos fiéis: “Vamos continuar orando pelo nosso presidente. A mídia toda é contra ele. E eu sei o que é isso. Porque nós vivenciamos o inferno da mídia, das pancadarias dela, porque ela é imprensa marrom”.

Saindo do culto, Bolsonaro seguiu para a residência de Silvio Santos. Chegou às 14h20 e, segundo foi divulgado, assistiu à partida entre Flamengo e Palmeiras (em algum canal do grupo Globo, detentor exclusivo dos direitos). O presidente deixou o local depois das 18h sem que tenha sido revelado o teor da conversa com o dono do SBT.

O presidente Jair Bolsonaro recebe o bispo Edir Macedo (esq.) e o apresentador Silvio Santos (dir.); encontro aconteceu na noite desta sexta (6), no Palácio da Alvorada
O presidente Jair Bolsonaro recebe o bispo Edir Macedo (esq.) e o apresentador Silvio Santos (dir.); encontro aconteceu na noite desta sexta (6), no Palácio da Alvorada - Twitter/@jairbolsonaro

À noite, no Fantástico, Bolsonaro foi objeto de várias piadas no quadro “Isso a Globo Não Mostra”. Um deles mostrou um personagem da novela “A Dona do Pedaço” ateando fogo criminosamente a uma fábrica de bolos com a legenda: “Como Bolsonaro acha que funciona uma ONG”.

O quadro também exibiu o presidente da França, Emmanuel Macron, dizendo: “Eu acho que as mulheres brasileiras estão envergonhadas com o que disse o presidente”. Em seguida, veio uma montagem de 11 trechos de diferentes novelas com personagens femininas falando a palavra “vergonha”.

Na terça, Bolsonaro convocou a população a comparecer às festividades do Sete de Setembro vestida de verde e amarelo. “Eu lembro lá atrás que um presidente disse isso e se deu mal. Mas não é o nosso caso. O nosso caso é o Brasil, não é para me defender ou defender quem quer que seja. É para mostrar ao mundo que aqui é o Brasil, que a Amazônia é nossa.”

 
 

Na mesma tarde, o SBT anunciou uma mudança na sua programação para este domingo. Após o programa de Silvio Santos, à 0h, a emissora vai exibir o filme “Independência ou Morte”, de Carlos Coimbra, atrasando em quase duas horas o programa normalmente apresentado nesta faixa, o policial “O Crime Não Compensa”. Apurei que foi uma determinação do próprio dono do SBT.

 

Lançado em 1972, ano do sesquicentenário da independência do Brasil, o filme de Coimbra foi apropriado pela ditadura militar (governo Médici) como um símbolo patriótico, ainda que o cineasta não tivesse a intenção de exaltar o regime com a obra.

Na quarta-feira, a Folha publicou entrevista com Bolsonaro, na qual ele anunciou a intenção de proibir, por meio de medida provisória, o chamado “bônus por volume”, a comissão paga a agências de publicidade por direcionar anunciantes.

“O alvo da medida é o Grupo Globo, segundo Bolsonaro”, registram os jornalistas Sérgio Dávila e Leandro Colon. Ciente da dificuldade de a MP ser convertida em lei pelo Congresso, o presidente ameaça reeditá-la a cada ano de seu governo.

Ao sair do Palácio da Alvorada, na manhã de quarta, o presidente foi questionado sobre os 50 anos do Jornal Nacional. Respondeu com o destempero habitual: “Como não tem mais teta, não estão mamando mais, não tem mais propaganda oficial do governo, o esporte agora é me atacar. Não vão conseguir, o 
couro aqui é grosso”.

Segue...

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