Mauricio Stycer

Jornalista e crítico de TV, autor de "Topa Tudo por Dinheiro". É mestre em sociologia pela USP.

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Série sobre talentos invisíveis da MPB é biscoito fino para a quarentena

'História Secreta do Pop Brasileiro' lança olhar respeitoso sobre artistas que sustentaram a indústria musical

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O título “História Secreta do Pop Brasileiro” promete algo um pouco diferente do que o conteúdo da série entrega. Em oito episódios, o documentário de André Barcinski resgata não tanto histórias proibidas, mas sagas de músicos que tiveram carreiras invisíveis ou subterrâneas ao longo de décadas.

Lançada em junho do ano passado no canal Travel Box Brazil, mas sem conseguir interessar aos principais serviços de streaming, a série vem percorrendo uma trajetória de pouca visibilidade, como a dos próprios personagens que retrata. Uma pena.

Agora em março, “História Secreta do Pop Brasileiro” entrou para o catálogo do Now, onde pode ser alugada ou adquirida (também está disponível nas plataformas Looke e Vivo). Em tempos de quarentena, é um biscoito fino.

O primeiro episódio, “Os Clones”, é o melhor cartão de visitas possível. Ele conta a história de três músicos que fizeram carreira no Brasil como imitadores do cantor Trini Lopez, da cantora Dee D. Jackson e do líder do grupo Genghis Khan.

“Dizem que a imitação é a forma mais sincera de elogio”, diz Arrigo Barnabé, o narrador da série, antes de apresentar os depoimentos dos produtores que tiveram a ideia de lançar os clones e dos artistas que toparam encarnar os tipos. Na pele de “Prini Lorez”, José Gagliardi Jr. gravou LPs nos anos 1960 e até hoje vive do personagem que encarnou.

O episódio dedicado à música infantil é também instrutivo do papel dos produtores musicais que transformaram Xuxa, Gugu Liberato e Balão Mágico, entre outros, em vendedores de milhões de discos.

O episódio “Os Falsos Gringos” presta tributo aos muitos músicos que toparam gravar em inglês, mesmo quando não entendiam as letras que cantavam, como Mark Davis (Fábio Jr.), Morris Albert (Mauricio Alberto) e o grupo Pholhas.

Destaco, ainda, o episódio sobre “discos fantasmas”, um rebotalho da indústria musical, como mostra a série. O artifício consistia na gravação de LPs com versões de músicas de sucesso sem identificação de quem as cantou, vendidos por pequenas gravadoras para atacadistas.

Um dos méritos da série é o olhar respeitoso (e até carinhoso) dedicado aos artistas e aos produtores que, sem maior visibilidade, deram sustentação a esses ramos da indústria musical. Barcinski deixa explícito o seu propósito no emocionante episódio dedicado a Os Carbonos, uma banda de estúdio que participou da gravação de milhares de discos e hoje só tem direito a um verbete de quatro linhas na Wikipedia.

A CNN Brasil não poderia ter estreado num momento melhor. Afinal, não há nada mais apropriado para um canal de notícias 24 horas do que a alta temperatura do noticiário.

Nestes primeiros cinco dias no ar, porém, a franquia brasileira parece ainda em ritmo de festa de inauguração e não tirou a roupa de gala. O excesso de reverência a autoridades e a fontes previsíveis, que reproduzem visões dominantes, como registrou Nelson de Sá aqui na Ilustrada, retira a urgência dos fatos e atenua o impacto que o canal poderia ter.

Na obsessão de parecer isento, o canal tem embarcado em situações teatrais, que beiram o cômico. No dia 18 de março, por exemplo, para falar de uma entrevista do presidente Jair Bolsonaro, promoveu um debate entre dois deputados, um de extrema direita e outro de direita. Ao final, o apresentador explicou que a intenção era mostrar que “existem dois lados distintos da direita”.

Como comentei no UOL, é precipitado tecer julgamentos conclusivos em tão pouco tempo de atividade, mas é impossível esconder a frustração com o que já foi mostrado.

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