Mauricio Stycer

Jornalista e crítico de TV, autor de "Topa Tudo por Dinheiro". É mestre em sociologia pela USP.

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O reino e o poder

Livro revê trajetórias de Edir Macedo, da Record e da Igreja Universal

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A compra da Record por Edir Macedo, em novembro de 1989, foi um negócio que mudou o mapa da comunicação no Brasil, com reflexos, é claro, na política do país. Trinta anos depois, ainda há dúvidas sobre como se deu exatamente esta transação milionária.

Por ter envolvido dois vendedores, Silvio Santos e a família Machado de Carvalho, vários intermediários, dois prepostos do comprador, além de assessores das três partes, esta é uma história com muitas versões, confusa e, infelizmente, pouco transparente.

Com exceção do valor acertado entre as partes, US$ 45 milhões (cerca de R$ 188 milhões), quase tudo o mais que diz respeito a esta transação é motivo de discrepâncias.

No recém-lançado “O Reino – A História de Edir Macedo e uma Radiografia da Igreja Universal” (Companhia das Letras, 384 págs., R$ 59,90), o jornalista Gilberto Nascimento realça as conexões políticas do negócio.

 

Segundo o livro, Fernando Collor teve papel fundamental na história, ao pressionar Silvio Santos a ajudar Edir Macedo num momento-chave. Com dificuldades para honrar todas as parcelas acertadas com os vendedores, no final de 1989, o fundador da Igreja Universal recorreu ao então presidente eleito, que ligou para o dono do SBT.

 

“Silvio, quem está comprando a TV sou eu. É para mim que o Macedo está comprando”, teria dito Collor, segundo relato de um ex-bispo da Universal, transcrito pelo autor. “Presidente, por que o senhor não avisou antes?”, teria respondido Silvio.

“Não era verdade que Macedo comprara a emissora para Collor, mas havia a intenção de firmarem uma parceria”, escreve Nascimento. “Se antes da intervenção presidencial Silvio Santos agia como negociador duro, na sequência o clima mudou. Um acordo foi firmado no dia 23 de março de 1990.”

A trajetória de Macedo como dono da Record não difere muito da de Silvio e de muitos outros empresários do ramo num aspecto: ele apoiou todos os presidentes desde então, de Collor a Bolsonaro, passando por FHC, Lula e Dilma. Sobre o atual, observa o autor, a novidade é que “a Igreja nunca havia comemorado a vitória de um candidato tão identificado com sua linha de atuação e seus valores”.

Outro aspecto original neste percurso é o fato de Macedo ter um projeto político explicitamente definido. Para além da bajulação transparente, ele sempre entendeu que seria importante ter uma representação efetiva em todas as esferas de poder. Nascimento descreve os muitos movimentos que a Igreja Universal fez para eleger representantes no Legislativo e atuar no Executivo.

“O Reino” também faz extensa reconstituição sobre as fontes de arrecadação e os negócios da Igreja Universal em diferentes ramos. Alvo de inúmeros processos, Macedo nunca foi condenado. A investigação sobre a compra da Record foi arquivada após 24 anos.

O livro também lembra as tentativas de intimidação, por meio judicial, do trabalho de jornalistas que investigaram aspectos destas transações, em especial o caso da repórter Elvira Lobato, da Folha, que foi alvo de 111 ações judiciais quase idênticas, movidas por fiéis da igreja em pequenas cidades de todo o país.

Na direção oposta das quatro biografias oficiais de Macedo (“O Bispo” e os três volumes de “Nada a Perder”), “O Reino” apresenta uma visão multifacetada daquele que é apresentado como o “único brasileiro a controlar uma igreja, uma rede de TV, um partido político e a sociedade em um banco”.

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