Mauricio Stycer

Jornalista e crítico de TV, autor de "Topa Tudo por Dinheiro". É mestre em sociologia pela USP.

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Flavio Cavalcanti sabia deixar seu espectador na ponta da cadeira

Livro do filho do apresentador resgata histórias de um homem que adorava polêmica e introduziu os jurados na TV

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Flavio Cavalcanti (1923-1986) foi um dos grandes apresentadores de programas de auditório da televisão brasileira entre as décadas de 1950 e 1980. Conseguiu conquistar muita fama e alguma fortuna na mesma época em que os dois maiores da história, Chacrinha e Silvio Santos, também brilhavam.

A biografia "Um Instante, Maestro!", de Léa Penteado, lançada em 1993 (e à espera de uma nova edição), reúne ótimas histórias e ajuda o leitor a ter uma ideia do impacto causado pelo apresentador no auge de sua carreira, na década de 1970.

O recém-lançado "Senhor TV: A Vida com Meu Pai, Flavio Cavalcanti" (Matrix, 200 págs., R$ 46), acrescenta novidades. Primeiro, o olhar de dentro, do filho que foi braço direito do pai, e o acompanhou em inúmeras aventuras, dentro e fora da TV, algumas delas malsucedidas.

Um dos grandes desafios de quem estuda a história da televisão ou simplesmente a acompanha como espectador é definir as qualidades necessárias para ser um bom apresentador de programa de auditório. Ao reconstituir a trajetória do pai, Cavalcanti Junior esboça algumas delas.

Flavio Cavalcanti entendia que era preciso manter o espectador em estado de alerta, sempre à espera de algo surpreendente ou polêmico. E ele tinha talento e faro para fazer isso.

Teatral, quebrava no ar os discos dos artistas que o desagradavam. Exibia reportagens de grande apelo, muitas vezes sensacionalistas. Promoveu concursos inusitados, como "a garota de óculos mais bonita do Brasil". Introduziu os jurados, que incorporavam personagens, com opiniões muito distintas.

O apresentador seguiu à risca a lição do americano Chuck Barris, que inventou o gongo musical e o namoro na TV: "Se você for capaz de mostrar alguma coisa que interrompa o garfo a meio caminho entre o prato e a boca uma vez a cada meia hora, você terá um programa de sucesso". Flavio dizia coisa parecida: "Quero que meu telespectador fique na ponta da cadeira vendo meus programas; ele não pode relaxar me assistindo, porque senão troca de canal ou dorme".

Assim como Carlos Lacerda, de quem era amigo e admirador, Flavio Cavalcanti apoiou o golpe militar de 1964, mas se decepcionou com os desdobramentos. O filho repele com veemência as acusações de que o pai liderou o empastelamento do jornal Última Hora e que tenha dedurado artistas de esquerda para a polícia política. Ao contrário, diz, protegeu e ajudou gente perseguida, como Erlon Chaves e Leila Diniz.

Na segunda parte do livro, Flavio Cavalcanti Junior conta histórias reveladoras dos períodos em que atuou como executivo e lobista em Brasília das empresas de Adolpho Bloch e Silvio Santos. Ele acompanhou de perto o processo que levou o general João Figueiredo, último presidente da ditadura, a conceder, em 1981, os canais de televisão que formaram as redes Manchete e SBT.

Com muita franqueza, o executivo descreve as idas e vindas pelos gabinetes ministeriais no esforço de influenciar esta decisão. Mostra como foi abortada a iniciativa de conceder alguns canais a Edevaldo Alves da Silva, então dono da Rádio Capital e próximo a Paulo Maluf.

Conta que Adolpho Bloch, ao saber que ganhou os canais, profetizou: "Nós todos estamos de parabéns, mas talvez hoje a Bloch tenha começado a quebrar". Descreve, ainda, como aproximou Silvio Santos de Tancredo Neves e ajudou o dono do SBT, já no governo Sarney, em 1985, a confirmar a concessão de um canal em Brasília dada por Figueiredo nos últimos meses de seu governo.

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