Mauricio Stycer

Jornalista e crítico de TV, autor de "Topa Tudo por Dinheiro". É mestre em sociologia pela USP.

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Descrição de chapéu jornalismo mídia Rússia

Guerra na Ucrânia tem cobertura inédita de jornais do mundo todo

As mortes, a destruição das cidades, o drama dos refugiados, enfim, todos os detalhes do conflito são exibidos

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Mostrando os destroços de um ataque russo em Kiev, o jornalista Roberto Cabrini observou: "Para um repórter é inevitável pronunciar a palavra destruição centenas de vezes. E os sinais de destruição estão aqui. Centenas".

O comentário foi feito no meio de uma reportagem exibida no Domingo Espetacular, na Record. Durante 25 minutos, Cabrini voltou a expor imagens que documentam os horrores causados pela invasão da Rússia na Ucrânia. Além de entrevistas com pessoas que tiveram perdas ou se feriram, entrou em prédios residenciais e mostrou detidamente o impacto das bombas.

Parte das imagens descritas pelo jornalista foi captada pelo repórter cinematográfico Edrien Esteves, que o acompanha nesta aventura. Muitas outras cenas da destruição da Ucrânia, e exibidas na reportagem de Cabrini, foram registradas por agências internacionais e já haviam sido vistas ao longo da semana em telejornais de outras emissoras também.

Morador de prédio atingido por ataque russo em Kiev carrega pertences que conseguiu resgatar
Morador de prédio atingido por ataque russo em Kiev carrega pertences que conseguiu resgatar - André Liohn/Folhapress

Uma das marcas dessa guerra é justamente a exposição permanente e até repetitiva dos detalhes da devastação. Nos canais de notícias 24 horas, há um mês, essa exibição ocorre de forma cíclica, a cada 30 minutos. Nas emissoras abertas, ocupa diariamente um ou dois blocos dos telejornais.

Os efeitos desoladores das bombas são notícia, claro. As mortes, a destruição de imóveis habitados por civis, o desespero dos sobreviventes, o drama dos refugiados, enfim, todos os detalhes brutais da guerra na Ucrânia exibidos obedecem aos critérios jornalísticos sobre o que é notícia.

A sensação de excesso ocorre, talvez, porque outras guerras recentes não mereceram cobertura tão extensa. Mossul (Iraque), Alepo (Síria), Afeganistão e tantos outros cenários de batalhas e destruição não apareciam nos telejornais por tantos minutos todos os dias.

O drama dos refugiados, igualmente, obedece ao que o pesquisador Jeff Crisp, entrevistado pela Folha, chamou de "duplo padrão". O tratamento dado aos ucranianos em fuga é claramente diferente do registro da movimentação experimentada por não europeus em outras guerras. A Globo, assim como emissoras de outros países, estacionou uma equipe na Polônia, na fronteira com a Ucrânia, há semanas e produz diariamente notícias sobre o fluxo de fugitivos.

Para os padrões jornalísticos ocidentais, uma guerra na Europa é mais notícia do que uma guerra em outros cantos do planeta. Essa exibição dos dramas dos ucranianos provoca angústia, tristeza e exaustão maiores porque, simplesmente, não fomos expostos a doses semelhantes de imagens da destruição em outras guerras.Que fique claro que isso não ocorre por falta de jornalistas. "Quando você chega aqui, você encontra os amigos. Tem muita gente conhecida. E esse universo é pequeno", me contou Yan Boechat, enviado da Band à Ucrânia. "Tem cara aqui que eu já encontrei em Gaza (Palestina), em Mossul (Iraque), na Armênia, no Egito, em um monte de lugar. Não é muita gente que faz."

Outra característica deste exército de correspondentes de guerra é a idade. Com 47 anos, Boechat é um jovem. "Tem um monte de velhinho aqui. O James Nachtwey (74 anos), o fotógrafo mais icônico, está aqui. Tem um monte com mais de 60 na batalha. É um dos poucos lugares que você não vê jornalista tão novo. Você vê muito jornalista velho. É um alento."

São jornalistas e fotógrafos fascinados por um tipo de cobertura jornalística essencial, mas que nem sempre encontra o espaço agora dedicado à guerra na Ucrânia.

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