Mauricio Stycer

Jornalista e crítico de TV, autor de "Topa Tudo por Dinheiro". É mestre em sociologia pela USP.

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Descrição de chapéu WhatsApp

Livro mostra impacto da polarização política na comunicação de massa

Meios de alcançar o eleitor foram transformados pela revolução digital

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Dividido desde 2018 entre eleitores de Lula e Bolsonaro, o Brasil já não vive mais um processo de polarização partidária, mas de "calcificação". Ou seja, "as opiniões políticas passaram por um processo de engessamento e se transformaram em parte da identidade de cada eleitor".

Em um livro recém-publicado, o cientista político Felipe Nunes e o jornalista Thomas Traumann adotam este conceito para descrever uma situação que afeta as pessoas em diferentes níveis, das relações familiares aos ambientes profissionais, e contamina tudo ao redor, comprometendo o futuro do país.

Não por acaso, o diagnóstico de "Biografia do Abismo" (Harper Collins, 240 pág.) começa pela influência e o impacto exercidos pelo campo da comunicação de massa na política.

Antes limitados ao rádio e a televisão, os meios de alcançar o eleitor foram transformados pela revolução digital. Os autores lembram que, em 2010, com apenas um minuto e meio de tempo na propaganda eleitoral obrigatória, Marina Silva baseou sua campanha presidencial na internet (blog, redes sociais, YouTube). Com 19,3% dos votos válidos, ela obteve o melhor resultado de um terceiro colocado na história.

Em 2018, o potencial da internet ficou evidente. Bolsonaro tinha oito segundos de tempo na propaganda eleitoral. Com mensagens polarizadoras e ofensivas nas redes sociais e uso extensivo do WhatsApp (120 milhões de usuários no Brasil, contra 45 milhões quatro anos antes), o candidato demonstrou que a televisão não tinha mais o mesmo poder.

Eleito presidente, buscou se comunicar diretamente com os seus eleitores e fãs, via redes sociais e YouTube, frequentemente deixando em segundo plano a mídia tradicional. Foi, nas palavras dos autores, "o primeiro 'presidente digital’ da nossa história".

Nunes e Traumann observam que graças a esse novo ecossistema de comunicação Bolsonaro manteve "razoavelmente estáveis" as taxas de aprovação ao seu governo. "Foi o primeiro presidente a sobreviver a três anos seguidos de uma oposição dura de veículos do Grupo Globo".

Pesquisas da Genial/Quaest constatam como, com o tempo, a TV deixou de ser a principal fonte de informação dos entrevistados. O índice foi de 57% em agosto de 2021 até 37% em junho de 2023.

Em abril de 2023, os eleitores de Bolsonaro diziam se informar em primeiro lugar pelas redes sociais (37%), deixando a TV em segundo lugar (29%). Já os eleitores de Lula preferiam a TV (47%), seguido pelas redes sociais (22%).

Não deixa de ser irônico que, ao questionar quais emissoras eram as principais fontes de informação, os eleitores de Lula citaram majoritariamente (61%) a Globo e a GloboNews. Já os eleitores de Bolsonaro disseram preferir Record (22%), Globo (19%) e Jovem Pan (16%).

Neste novo mundo, os eleitores recusam as informações que contrariam as suas crenças e buscam as que reforçam as suas visões de mundo. Espalhar fake news se torna uma espécie de teste de lealdade para militantes políticos, dizem os autores. "Parece ser um ato messiânico", registram.

Como solucionar isso? Como escapar do abismo? Nunes e Traumann não têm soluções objetivas para oferecer e frustram ao pouco falar de mídia no capítulo final.

Mencionam a importância em reconhecer que a intolerância existe e está transbordando, e em impor limites quando isso ocorre. Apelam aos políticos, que devem enfrentar pautas de apelo geral, não partidário, e pedem responsabilidade aos empresários, que financiam a difusão de fake news. "O remédio para a democracia é mais democracia", dizem.

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