Michele Oliveira

Jornalista, já trabalhou nas áreas de esporte, política, cidades e design

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Michele Oliveira
Descrição de chapéu Copa do Mundo

Copa 10 x 0 rotina

O legado desta Copa deve ir além e é também por isso que ela merece ser vivida intensamente

São Paulo

Entramos na reta final da Copa e já temos duas certezas: enquanto a seleção evoluiu jogo a jogo, a ponto de já nos fazer imaginar o escudo com seis estrelas, grande parte dos brasileiros viu sumir a capacidade de prestar atenção em qualquer coisa que não tenha a ver com o Mundial. A audiência da TV, com 49% mais mulheres e 156% mais homens assistindo à Globo, dá uma ideia do cenário.

 

Eu sou parte desse percentual e há três semanas me esforço para conciliar a competição com os trabalhos, a maternidade e os demais dilemas da vida adulta, como ir ao supermercado e a festas infantis. Segundo pesquisa da Statista, mais de 64 horas dos jogos vão coincidir com o expediente convencional do Brasil --de segunda a sexta, entre 9h e 18h (fuso de Brasília). Estamos entre os países mais afetados.

Sou da turma que acumula tarefas antes e depois das partidas, mas a gravidade é que a Copa não acontece só durante 90 minutos. Tem a chegada do ônibus da seleção, a expectativa pelo cabelo do Neymar e o aquecimento com o Olodum no Pelourinho. Depois, é hora de rir dos memes, ler as análises e debater estatísticas. Como não comentar que a Espanha foi eliminada mesmo tendo 75% da posse de bola contra a Rússia?

Claro, há efeitos colaterais. A lista de afazeres nunca zera, decorei os nomes das novelas que estão no ar e soube de uma mãe que perdeu a dança da filha na festa junina da escola por motivos de França 4 x 3 Argentina.

Por outro lado, é por causa da Copa que estamos debatendo machismo (e o péssimo comportamento de torcedores), assédio (e a magnífica reação da repórter Júlia Guimarães), racismo (e grandes marcas em torno de um youtuber), imigração (80 atletas defendem países diferentes de onde nasceram), paternidade (seis dos titulares da seleção cresceram sem o pai biológico) e direitos dos LGBT (e a intolerância entre os russos). Tudo ao mesmo tempo e amplificado para fora dos nichos.

O legado desta Copa promete ir além do futebol e, fora as viradas emocionantes e os gols impossíveis, é também por isso que ela merece ser vivida intensamente. Em menos de 15 dias, voltaremos ao nosso tédio cotidiano e às mazelas brasilianas. E, aos que estão emburrados com a baixa produtividade, fica a dica: a Copa do Qatar vai acontecer de 21 de novembro a 18 de dezembro de 2022. Já pensaram na sequência Copa-Natal-Réveillon-Carnaval?

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