Enquanto muitos negócios tiveram queda ou fecharam as portas durante a pandemia, o Brasil registrou um recorde na venda de produtos eróticos: só de março a maio de 2020 foram vendidos 1 milhão de vibradores, desde modelos simples de R$ 50 até os mais sofisticados de R$ 1.000.
Não é de hoje que as brasileiras compram vibradores. Em 1998, a série "Sex and the City" fez crescer as vendas do rabbit: um vibrador rosa, com cerca de 10 cm, para penetração e um coelhinho que estimula o clitóris. Em 2010, as vendas dos vibradores aumentaram com o sucesso do filme “De Pernas para o Ar”. Em 2017, a série "Grace e Frankie" mostrou duas amigas de 80 anos, as atrizes Jane Fonda e Lily Tomlin, criando um vibrador especial para mulheres mais velhas com dor crônica e artrite reumatoide.
Desde a minha pesquisa sobre “A Outra: a Identidade da Amante do Homem Casado”, em 1989, o vibrador apareceu como um item essencial para o prazer feminino. Todas as mulheres que pesquisei tinham um vibrador na mesinha de cabeceira, não apenas para usar nos momentos em que se sentiam solitárias e abandonadas mas também quando não conseguiam ter um o orgasmo com o amante.
Na minha pesquisa atual com mulheres de mais de 50 anos, 60% delas quase nunca –ou nunca– consegue chegar ao orgasmo com o parceiro. Cerca de 30% têm um vibrador para chamar de seu. Algumas revelaram que, antes do vibrador, nunca tiveram um orgasmo.
Muitas confessaram que fingem ter um orgasmo para que o parceiro se sinta satisfeito e durma logo. Elas fingem que gozam, e eles fingem que acreditam que elas gozam.
A atriz Ingrid Guimarães disse que o vibrador é um ótimo companheiro na quarentena: “Acho maravilhoso voltar a se falar muito de vibrador”. A atriz Ana Paula Tabalipa contou que “gostaria de terminar a vida com um companheiro ou companheira, não no sentido de transar com ela. Porque para isso eu tenho uma gaveta de vibradores. Entre joia e vibrador, prefiro vibrador que me dá mais prazer”. A atriz Fernanda Paes Leme confessou que já quebrou um vibrador: “de tanto eu usar, parou de funcionar”. Ele “tem me ajudado muito na quarentena. Na minha tomada fica o carregador do celular e do vibrador. Está tudo tão difícil, a gente já está sozinha, se não puder gozar, se não puder se masturbar –essa palavra tem que ser normalizada– vai ficar pior ainda”. A apresentadora Angélica revelou que ama usar vibrador. Sua declaração gerou uma grande repercussão nas redes sociais, com muitos questionamentos se Luciano Huck, seu marido, estava "deixando a desejar" na cama.
Talvez o vibrador assuste porque mostra que as brasileiras perderam o medo, a vergonha e a culpa de buscar o próprio prazer. Ele é um símbolo da independência, autonomia e liberdade das mulheres, como disse uma psicóloga.
“É ridículo achar que o vibrador vicia e pode substituir os homens. Não preciso de um homem para resolver meus problemas e pagar minhas contas, mas amo ter um companheiro para compartilhar a minha vida. Nenhum vibrador substitui o abraço aconchegante, a risada gostosa e a intimidade prazerosa que eu tenho com o meu amor.”
Recentemente, um jornalista me perguntou: “Afinal, o vibrador é um inimigo ou um aliado dos homens no sexo?” Ele mesmo encontrou a resposta:
“Quando descobri um vibrador na gaveta da minha mulher, tive ciúme e me senti traído. Me achei dispensável, incompetente, descartável, rejeitado, fracassado, impotente e brocha. Mas cheguei à conclusão de que o vibrador é o melhor amante de uma mulher. Que homem pode competir com um amante imbrochável e incansável? Parei de me comparar e passei a ter prazer com o prazer dela. Eu sempre me masturbo vendo vídeos pornô. Por que me sentir ameaçado com o prazer que ela pode ter com seu brinquedinho favorito?”
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