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Mônica Bergamo é jornalista e colunista.

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'Desejo que nosso país encontre um ponto de união', diz Murilo Rosa

Aos 51 anos, ator fala sobre os preparativos para a estreia de espetáculo da Broadway em São Paulo, revela planos para um documentário, comenta saída da Globo, diz que o cinema nacional é uma potência para o mundo e afirma apostar na chamada 'terceira via'

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O ator Murilo Rosa posa no Teatro Opus, em São Paulo Mathilde Missioneiro/Folhapress

Murilo Rosa resolveu comemorar seu quinquagésimo aniversário com um ano de atraso, plantando bananeira e andando sob uma corda bamba —literalmente. Ao menos é o que ele tem feito no último mês, de segunda a sábado, enquanto prepara seu retorno aos palcos após um ano e meio recluso por causa da epidemia de Covid-19.

As acrobacias integram a maratona de ensaios para a estreia do musical “Barnum: O Rei do Show”, espetáculo da Broadway que chega ao Teatro Opus, na capital paulista, no dia 1º de outubro deste ano. Murilo, que interpreta o showman Phineas Taylor Barnum (1810-1891), conduz uma trupe numerosa de 23 atores e sete músicos da orquestra.

O musical, inspirado em fatos reais, narra a história do fundador de um renomado circo dos Estados Unidos do século 19 que exibia animais exóticos e figuras como a da mulher barbada e acrobatas siameses. Considerado o pai do showbusiness moderno, Barnum foi vivido por Hugh Jackman nos cinemas em 2017.

“É um personagem dos sonhos, que imprime todas as dificuldades que um ator pode ter. Ele carrega na interpretação momentos leves, momentos profundos, momentos de alegria. É também uma comédia. E, fora isso, você tem coreografias geniais e músicas lindíssimas, que são originais do musical da Broadway”, afirma Murilo Rosa à coluna. “Um prato cheio para quem quer sair da zona de conforto e descobrir novos lugares.”

O ator Murilo Rosa posa no Teatro Opus, em São Paulo - Mathilde Missioneiro/Folhapress

A versão brasileira de “O Rei do Show” tem direção geral de Gustavo Barchilon, adaptação de Cláudio Botelho e direção musical de Thiago Gimenes. Anunciada em 2019, ela deveria ter vindo a público no ano passado. “Quando recebi o convite lá atrás, me veio a questão do desafio, de fazer uma coisa diferente, mas agora a missão é outra. A gente sabe que o espectador está sedento por alegria. É uma mão dupla: receber essa plateia é o nosso presente, e [o espetáculo é um presente para] essa plateia que está querendo sonhar.”

Aos domingos, quando folga do teatro, Murilo tem se dedicado à finalização do programa “The Bridge”, que chegará ao Brasil pela HBO Max depois de passar por Inglaterra e Espanha. A atração marcará a estreia do ator como apresentador de reality show. “É uma loucura. Tem que dormir bem, viu?”, diz, entre risos, sobre a sua mais nova rotina.

“The Bridge” é um reality que se passa na mata atlântica e tem como objetivo a construção de uma ponte de 300 metros de extensão. Finalizada, a plataforma permitirá a travessia dos participantes até uma ilha que abriga um baú com a premiação. “Essa ponte, na verdade, é uma metáfora para a ponte que você tem que construir na sua vida. Ali é um jogo de união, não de competição”, explica Murilo. “Só que eles vão descobrindo isso ao longo do jogo. E quem vai botando esses enigmas todos sou eu.”

Ao 51 anos, o ator diz ser difícil fazer um balanço sobre seus últimos meses. “Acho que essa pandemia foi preenchida de muitas fases”, diz. “Foi um ano difícil para todo mundo, mas, ao mesmo tempo, eu me sinto injusto em falar que pra mim foi extremamente difícil, sabendo que para a maioria da população brasileira foi ainda mais.”

“A gente ajudou quem podia ajudar, mas foi trágico, diante de tantas pessoas que partiram. Muitas pessoas amigas, colegas de profissão que morreram, pessoas da família. A gente ainda está vivendo essas situações, então volta e meia é surpreendido com pessoas contaminadas, que pegaram o vírus. Ainda não passou.”

“Vivi momentos incríveis com a família, e outros difíceis. De estar junto, que era gostoso, todo mundo ver um filminho juntinho ali”, diz sobre a convivência com sua esposa, a modelo Fernanda Tavares, e os filhos Lucas e Artur. “Mas também tiveram momentos de você ver um menino no quarto fazendo aula online, o outro na sala com a Fernanda, e aí o menino não quer mais aula online, vira uma bagunça.”

“A gente adotou uma cachorrinha no meio disso tudo, a Claire, e descobriu que a cachorra era mais bagunceira que os meninos”, conta, rindo. “Era pequenininha e foi crescendo. Roeu coisa que não podia roer, aquela cadeira importada bonita, que você gosta, sabe?”

Em agosto deste ano, Murilo se desligou da Globo depois 22 anos e de atuar em sucessos como “A Casa das Sete Mulheres” (2003), “América” (2005), “Salve Jorge” (2012) e “Salve-se Quem Puder” (2020).

“Foi uma transição super bonita e saudável, de uma empresa que sempre me tratou bem para uma outra empresa que está me recebendo com um coração gigantesco [HBO Max]. Eu não podia ser mais grato por tudo que aconteceu.”

O ator Murilo Rosa posa no Teatro Opus, em São Paulo - Mathilde Missioneiro/Folhapress

“A gente vive um momento também muito interessante, que é a chegada dessas grandes plataformas, dessas multinacionais. Eu acho que é um grande momento para andar na corda bamba”, brinca. O ator vai além de sua experiência pessoal e diz acreditar na capacidade das novas plataformas de streaming para catapultar o cinema nacional.

“O Brasil tem filmes absolutamente geniais que não tiveram mil pessoas no cinema. Se você tem uma plataforma hoje que pega esse produto e fala: ‘Me assiste aqui a hora que você quiser’, poxa, está ótimo”, segue. “Você tem isso agora amplificado por plataformas multinacionais, que precisam basicamente do assinante e de produtos de qualidade.”

Ele cita como exemplo a possibilidade de fazer um documentário sobre o espetáculo “Barnum: O Rei do Show”, projeto que já começa a ser pensado e que eventualmente pode ser oferecido a uma plataforma de streaming interessada.

“A gente tem que acreditar no produto nacional. O Brasil é um país com mais de 200 milhões de habitantes, isso aqui é uma potência para o mundo. O nosso cinema é de qualidade. Eu estou fazendo um musical da Broadway, é muito bom ter esse desafio, mas é muito bom também você fazer um ‘Se Correr o Bicho Pega, Se Ficar o Bicho Come’, do Ferreira Gullar e do Vianinha [Oduvaldo Vianna Filho].”

“Mas não adianta também falar: ‘Ah, a comédia está dando certo’. Dá pra dar certo tudo, é só você acreditar, como realizador. O cinema brasileiro teve lá a época do cangaço —era só filme de cangaço—, a época dos filmes de favela —só filme de favela—, aí tem a época das comédias —é só... Não pode ter tudo ao mesmo tempo? Um bom drama, uma boa comédia, um bom filme de terror pra gente experimentar um pouquinho de tudo?”

O ator Murilo Rosa posa no Teatro Opus, em São Paulo - Mathilde Missioneiro/Folhapress

Murilo Rosa se mostra cauteloso ao falar sobre o cenário político do país. “Meu pai me pediu para não falar de política. Eu postei um negócio esses dias, botei para quebrar, aí meu pai [disse]: ‘Meu filho, por favor, não poste mais isso’ —meu pai tem 78 anos—, ‘tem muita gente que gosta de você’. Eu falei: ‘Pai, eu preciso. Não tem como não falar. A pessoa que não fala hoje parece que está aceitando’. [É] Bonitinho, ele fica preocupado”, conta.

“Realmente o governo perdeu uma grande oportunidade de, diante de uma pandemia, fazer algo grandioso. E isso não tem mais volta, isso ficou para a história, isso está marcado. Nós tivemos a oportunidade de aprender com outros países. Estava lá, era só fazer o dever de casa. Por que que aqui foi tão absurdo?”, afirma Murilo. “A gente podia ter passado por isso com muito menos pessoas morrendo, se ajudando.”

O ator não cita nomes, mas afirma que o Brasil hoje carece de grandes opções para comandá-lo. Por outro lado, se diz confiante com a emergência de um representante da chamada “terceira via”, que se opõe tanto a Jair Bolsonaro (sem partido) quanto a Lula (PT). “Desejo que no nosso país a gente encontre um ponto de equilíbrio, de união, senão não vai dar em nada.”

“E eu quero que a gente saia logo desse lugar em que estamos. Que a gente passe por isso, que encontre todo mundo vacinado e esclarecido. Se tiver a terceira, quarta, quinta dose da vacina e tiver que tomar, vamos todos tomar.”​

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