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Mônica Bergamo é jornalista e colunista.

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Descrição de chapéu Folhajus congresso nacional

PT aciona STF contra Bolsonaro por suposta interferência no caso Milton Ribeiro

Senadores da legenda dizem que presidente tem histórico de ingerências para proteger pessoas próximas

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A bancada do PT no Senado apresentou uma notícia-crime junto ao STF (Supremo Tribunal Federal) contra o presidente Jair Bolsonaro (PL) pedindo que seja investigada a suposta interferência do chefe do Executivo na operação Acesso Pago da Polícia Federal. O inquérito resultou na prisão do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro na semana passada.

A revelação de interceptações telefônicas feitas pela PF levantou suspeitas sobre o suposto vazamento da operação e de suposta ingerência de Bolsonaro no caso. O material sugere que Milton Ribeiro passou a desconfiar de que seria alvo de busca e apreensão após uma conversa com o presidente.

O presidente Jair Bolsonaro e o então ministro da Educação, Milton Ribeiro, durante cerimônia de formatura dos alunos Instituto Rio Branco, no Palácio do Itamaraty - Pedro Ladeira - 22.out.2020/Folhapress

O telefonema interceptado ocorreu no início do mês, depois de a PF ter solicitado a prisão e as buscas contra ele e contra os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura, acusados de comandarem um balcão de negócios no Ministério da Educação (MEC).

Na notícia-crime, os senadores afirmam que essa não é a primeira vez em que Bolsonaro é acusado de interferir em um processo sigiloso, destacando que sua postura levou à queda do ex-ministro Sergio Moro (União Brasil) e a um inquérito da PF sobre o vazamento de dados sigilosos envolvendo o TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

"Há precedentes quanto ao seu modo de tutelar aos seus correligionários", dizem os parlamentares ao STF. A notícia-crime é assinada pelos senadores petistas Fabiano Contarato (ES), Humberto Costa (PE), Jaques Wagner (BA), Jean Paul Prates (RN), Paulo Paim (RS) e Paulo Rocha (PA) e pela senadora Zenaide Maia (Pros).

"A fala do ex-ministro, detectada em intercepção telefônica [...], traz um elemento de desvirtuamento de legalidade e de violação de princípios republicanos assentados na Constituição Federal que ensejam averiguação", afirmam.

Segundo os senadores, a manutenção do sigilo de processos judiciais e administrativos é essencial para a proteção do Estado de Direito e busca evitar a destruição de provas. Se confirmada a interferência de Bolsonaro, dizem, ele deve ser responsabilizado pela prática de crimes contra a administração pública.

Em ligação com sua filha no dia 9 de junho, Milton Ribeiro afirmou que o presidente Jair Bolsonaro teria dito estar com um "pressentimento" de que iriam atingi-lo por meio da investigação contra o ex-ministro.

"Hoje o presidente me ligou, ele está com pressentimento, novamente, que eles podem querer atingi-lo através de mim. É que tenho mandando versículos para ele", disse Ribeiro, na conversa revelada pela GloboNews e confirmada pela Folha. ​

Questionado pela filha sobre se Bolsonaro queria que o ministro parasse de enviar mensagens, Ribeiro negou e citou a suspeita levantada pelo presidente. "Não, não é isso. Ele acha que vão fazer uma busca e apreensão... em casa... sabe... é... é muito triste", afirmou.

Já em uma segunda interceptação realizada na última quarta-feira (22), dia em que Ribeiro foi preso, a esposa do ex-ministro, Myrian Ribeiro, relatou a um interlocutor que seu marido "não queria acreditar", mas "estava sabendo" do que ocorreria. "Para ter rumores do alto é porque o negócio estava certo", disse em telefonema.

O Ministério Público Federal (MPF) e a PF sustentam a versão de possível vazamento e interferência com base nas interceptações telefônicas feitas ao longo da investigação.

Segundo a PF, a ligação de Myrian registrada leva a "crer que Milton Ribeiro teria conhecimento de uma possível operação policial", fato que já estava na mira dos investigadores por causa de outras conversas do ex-ministro, entre elas uma "que teria tido com o presidente da República com este mesmo teor".

O MPF, por sua vez, apontou "indício de vazamento da operação policial e possível interferência ilícita por parte do presidente da República Jair Messias Bolsonaro nas investigações".

O advogado Frederick Wassef afirma que não houve conversa entre o presidente e o ex-ministro e que caberá a Ribeiro explicar o uso "indevido" do nome do chefe do Executivo. Wassef ainda reitera que Bolsonaro não interfere na Polícia Federal.

com BIANKA VIEIRA, KARINA MATIAS e MANOELLA SMITH

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