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Mônica Bergamo é jornalista e colunista.

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Arte exige empatia, e Regina e Cássia Kis não podem ser chamadas de artistas, diz Emilio Dantas

Ator fala sobre papel de vilão em nova novela da Globo, compartilha aprendizados da paternidade e diz que passou a prestar atenção na política durante a pandemia

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O ator Emilio Dantas, que dará vida ao personagem Theo em "Vai na Fé", nova novela das sete da TV Globo João Miguel Júnior/Globo/Divulgação

Emilio Dantas teve um 2022 atarantado. A desaceleração da pandemia de Covid-19 permitiu que ele concluísse as gravações da minissérie "Fim", interrompidas justamente pela chegada do novo coronavírus, e começasse a encarnar Theo, o vilão de "Vai na Fé", novela de Rosane Svartman que estreia na segunda-feira (16) na TV Globo, na faixa das sete horas. Mas o que mais ocupou o seu tempo foram os gêmeos Roque e Raul, nascidos em janeiro passado, frutos de sua relação com a também atriz Fabiula Nascimento.

A agenda lotada fez com que a primeira parte desta entrevista fosse marcada para um de seus poucos horários disponíveis: a manhã de uma sexta-feira, 9 de dezembro, algumas horas antes do fatídico jogo do Brasil contra a Croácia na Copa do Qatar. Mas Emilio, que não é muito ligado em futebol, estava mais preocupado com a febre de um dos filhos.

"A gente já aprendeu que com gêmeos é assim", conta ele, por videoconferência. "O Roque teve febre na semana retrasada, e estávamos pensando em vacinar os dois. Mas a doutora falou para a gente esperar, porque o Raul também ia ter."

Os nomes dos bebês se referem, respectivamente, ao rock, um dos gêneros musicais favoritos do casal, e a Raul Seixas, um dos maiores nomes do rock brasileiro. "O próprio Raul já dizia que o nome dele é luar ao contrário. E Roque vem da pedra [rock, em inglês]. Então temos um filho no céu e outro no chão."

A atriz Fabiula Nascimento com o marido, o ator Emílio Dantas, e seus filhos, Roque e Raul - @fabiulaa no Instagram

Emilio diz que ri quando as pessoas perguntam se ele e Fabiula estão tendo muito trabalho cuidando de dois bebês —o casal conta com o apoio de uma funcionária, Rose, que trabalha com eles há muito tempo. "As pessoas sempre buscam uma intersecção com os demais pelo lado ‘desgracento’. Para nós, ter gêmeos é alegria em dobro."

Os meninos são univitelinos, praticamente idênticos. Mas os pais aprenderam rapidamente a diferenciar um do outro. "O Roque tem mais cabelo, e o Raul, o rosto mais fininho. Mas, em termos de personalidade, eles revezam muito. Um inventa alguma coisa, e o outro já está imitando."

Ele diz fazer questão de ser um pai bastante presente. "Acho importante passar o maior tempo possível com os meus bebês. É um investimento. Eu aprendo tanta coisa... Faço viagens na minha própria história, tiro conclusões e depois troco ideias com os meus pais."

Segundo de seis irmãos, Emilio cresceu tendo muito contato com crianças —segundo ele, "sempre estava nascendo um irmão". Sua irmã mais nova, filha do segundo casamento de seu pai, tem apenas 11 anos. O ator está com 40.

O ator Emilio Dantas, que dará vida ao personagem Theo em "Vai na Fé", nova novela das sete da TV Globo - João Miguel Júnior/Globo/Divulgação

A rotina na casa do Itanhangá, bairro carioca colado à Barra da Tijuca, onde mora, é completada por três cães com nomes de cortes de carne: Chã, Patinho e Lagarto. "O Chã é um pitbull macho, meu parceirão. A Patinho é uma vira-lata, mais ligada na Fabiula. E a Lagarto, também uma vira-lata, cuida das crianças."

O contrabandista Theo, do folhetim "Vai na Fé", não é o primeiro vilão de sua carreira. Essa honra cabe a Hermano, seu personagem no filme "Em Nome da Lei", de Sergio Resende, lançado em 2016.

Na mesma época, Emilio estreava na Globo com outro malvado, o Pedro, da novela "Além do Tempo". O papel que o destacou na emissora também era do mal: o traficante Rubinho, da novela "A Força do Querer", de 2017. "Mas o Rubinho era mais bandido por força das circunstâncias do que propriamente um vilão", defende Emilio Dantas.

Até mesmo o seu único protagonista em novelas até hoje, o Beto Falcão de "Segundo Sol", de 2017 —um cantor de axé que forjava a própria morte— não era 100% correto. Hoje, Emilio se arrepende de ter aceitado o papel, que, segundo ele, deveria ter sido interpretado por um ator negro.

Mas Beto Falcão deu a ele a oportunidade de exibir na TV um pouco de seu talento musical. Emilio já havia participado de "Rock in Rio – O Musical", em 2013, e explodiu como o protagonista de "Cazuza – Pro Dia Nascer Feliz", entre 2013 e 2015. Além de cantar, ele também toca violão, gaita e saxofone, e estuda piano e harmonia desde 2018.

"Passo pelo menos duas horas por dia em frente ao teclado. No violão você tira a mesma nota de maneiras diferentes, no piano é uma só. Estudo teoria tonal ocidental, ressonância, frequência, aqueles papos de maluco da música. Já perdi muitos amigos por causa disso", conta, rindo.

A segunda parte desta entrevista ocorreu na semana passada, após a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas antes da depredação das sedes dos Três Poderes, em Brasília, por vândalos bolsonaristas. No dia anterior, sites que cobrem a vida de celebridades haviam publicado fotos de Emilio e Fabiula passeando com os filhos num shopping carioca. À coluna, ele fala sobre como lida com esse tipo de invasão à privacidade de sua família.

"Depende do dia. Tem vezes em que eu estou de bom humor, então tudo bem. Penso muito no fotógrafo, que precisa ganhar algum [dinheiro]. Mas tem dias que não dá. Certa vez, fomos almoçar num restaurante que a gente adora, nesse mesmo shopping. Quando saímos do carro no estacionamento, o porta-malas quebrou. Problema de dobradiça, não fechava mais. Fiquei uns 20 minutos ligando para seguro, reboque, essas coisas."

"Almoçamos meio corridos, e o paparazzi veio fazer fotos quando íamos embora. Aí não deu para estar numa boa. Estávamos sujos, suados, pegando as crianças e tentando entender o que fazer para voltar para casa, chamando um carro de aplicativo. Você está no meio dessa tensão, e o cara ali, te fotografando. Foi chato."

O próprio Emilio compartilha momentos de sua família publicamente —mas só um pouco, de maneira controlada. À primeira vista, seu perfil no Instagram é bizarro: muitas imagens em branco, com umas poucas fotos do casal com os filhos. Mas os quadros vazios, na verdade, formam molduras em torno dessas fotos.

"Eu tinha conta no Instagram desde 2010, era tipo um álbum da minha vida. Uma exposição totalmente inocente, sem pretensão de parcerias comerciais, sem buscar novos seguidores. Quando eu vi que a ferramenta tinha virado outra coisa, apaguei tudo."

"Mas aí a Fabiula ficou grávida, e o pessoal começou a cobrar fotinhos das crianças. Então, passei a postar dez fotos por mês, sempre no dia 9, que é o ‘mesversário’ deles."

O ator Emilio Dantas, que dará vida ao personagem Theo em "Vai na Fé", nova novela das sete da TV Globo - João Miguel Júnior/Globo/Divulgação

Também existem perfis dedicados a ele no Instagram, mantidos por fãs. Emilio não se incomoda: ao contrário, até gosta. "Eu agradeço muito, porque são pessoas que estão dedicando o tempo delas para, de alguma forma, me ajudar. Ao mesmo tempo, elas também tiram essa demanda de eu ter que ficar postando coisas minhas. É ótimo, porque elas já filtram tudo. E eu recebo muito mais recados num perfil desses, de fã clube, do que no meu próprio."

Emilio votou em Ciro Gomes (PDT) no primeiro turno das eleições presidenciais de 2018. No pleito passado, votou em Lula nos dois turnos. Para o novo governo, sua expectativa é cautelosamente otimista.

"Não serão anos fáceis. Mas agora a gente tem alguém que já solucionou a questão da miséria uma vez, já solucionou a questão da fome —e depois viu tudo isso ser destruído. Eu me sinto muito mais seguro [com Lula] do que com qualquer outra das possibilidades que foram apresentadas para nós."

Emilio admite que sua posição política mudou com o tempo. "Eu nunca fui um cara muito ligado na política. Mas o que o governo fez nessa pandemia me deu vontade de lutar contra algo que eu achava muito errado. Comecei a prestar mais atenção. Hoje, eu me vejo como alguém completamente de esquerda."

"Os anos [de Jair] Bolsonaro [à frente da Presidência da República] foram tenebrosos. Não existem palavras para explicar o que aconteceu", afirma.

"É mais fácil fazer as contas pelos fatos. A quantidade de gente que morreu de Covid, o descaso, a violência absurda, o enaltecimento às armas. Eu fiquei muito triste. Juntou tudo, pandemia e política, e cheguei a perder 12 quilos trancado em casa."

"Não vou nem falar em família, mas você vê pessoas [que apoiam o ex-presidente] que pareciam ser uma coisa e, de repente, descobre uma questão ali no âmago do caráter delas. O que falta para perceberem [o que ocorreu no governo Bolsonaro]? Um meteoro, uma guerra civil?"

Questionado sobre o que acha do posicionamento de artistas como Regina Duarte e Cássia Kis, Emilio interrompe. "Eu acho errado chamar [apoiadores de Bolsonaro] de artistas", diz. "Eles podem ser atores, atrizes, apresentadores, empresários, enfim. Podem ser setorizados. Agora, artistas? Não tem como. É completamente inviável um artista concordar com qualquer coisa que tenha vindo desse tipo de ideologia. Isso não tem a ver com arte. Arte exige empatia."

"Para mim é muito nítido que essas pessoas têm questões próprias. Elas colocaram essa paixão e essa veemência na política porque são impulsionadas por frustrações, por questões muito íntimas."

"No caso da Regina, acho que é uma questão de orgulho, de não querer admitir que errou. A passagem pela Secretaria da Cultura foi uma derrota na carreira dela. O ponto de vista dela é completamente equivocado, e ela continua defendendo. O que falta para a Regina enxergar a realidade? O Bolsonaro arrancar o braço de alguém?"

"Eu acho que a Cássia Kis cai no mesmo lugar da Regina Duarte. Acho que são problemas ultra pessoais, ultra particulares, que tomam a frente dessa questão. E tem também a postura do Bolsonaro, né? A forma como ele construiu essa figura política, muito galgada no paternalismo. [Como se ele fosse] o cara que vai resolver todos os problemas, o grande herói. Que sabe gritar e latir, mas não sabe o motivo."

"Tem pessoas que precisam dessa figura que autoriza o que elas têm vontade de fazer. Qualquer bolsonarista que você trouxer à tona, se mexer um pouquinho, descobre uma frustração ali."

Regina Duarte deixou o governo de Jair Bolsonaro (PL) em 2020, após um intenso processo de fritura e sob a promessa de que chefiaria a Cinemateca Brasileira —o que não ocorreu. A atriz havia rompido um contrato de 50 anos com a TV Globo para assumir a Secretaria Especial da Cultura, onde ficou por apenas dois meses.

A atriz Cássia Kis, por sua vez, se tornou alvo de críticas e até mesmo de processos judiciais por falas homofóbicas. Ela também aderiu a manifestações bolsonaristas de teor golpista nos últimos meses. Atualmente, Kis é associada ao Centro Dom Bosco, grupo católico e conservador que se alinhou a bandeiras defendidas por Jair Bolsonaro nos últimos anos.

Perguntado se acredita em Deus, Emilio responde que acredita em deuses. "Eu acredito e desacredito de muitas coisas. No quesito religião, nós somos eternos pesquisadores. Eu me vejo sempre buscando, e então descubro que esse lado aqui do candomblé faz mais sentido que o catolicismo. Esse lado da Igreja Batista me faz sentir melhor do que o espiritismo, e por aí vai."

O ator Emilio Dantas, que dará vida ao personagem Theo em "Vai na Fé", nova novela das sete da TV Globo - João Miguel Júnior/Globo/Divulgação

"Minha família não tem nenhum vínculo religioso muito forte. Eu me lembro que, sempre que a minha mãe passava na frente da igreja, ela fazia o sinal da cruz e dizia ‘o Senhor é meu pastor e nada me faltará’. Para mim, parecia, simplesmente bater cartão. Quer dizer que Deus só olha pra gente quando passamos na frente nesse pedacinho de chão, e que temos que falar uma senha para ganhar essa graça?"

Emilio e Fabiula não são casados no civil nem no religioso, mas andam pensando em oficializar a união, diz o ator. "Casar não é só uma visão romântica. A gente também tem que preservar os nossos filhos. Eu tenho que preservar os direitos da Fabiula se acontecer algo comigo, e vice-versa. O casamento no papel é uma garantia de que a sua família pode perdurar sem a sua presença."

Perguntado se o casamento será realizado em breve, Emilio ri. "O nosso problema é a falta de tempo. Se o papel viesse até nós, seria maravilhoso."

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