Mônica Bergamo

Mônica Bergamo é jornalista e colunista.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Mônica Bergamo

'O que ocorreu comigo não pode acontecer com profissional nenhum', diz roteirista demitido do 'Vai que Cola'

Em publicação em suas redes sociais, André Gabeh agradece roteiristas do programa que divulgaram carta em apoio a ele

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

O ex-BBB André Gabeh, que foi demitido da equipe que escreve o humorístico "Vai que Cola" (Multishow) no início deste mês, decidiu se manifestar após a divulgação de uma carta em que roteiristas do programa expõem uma crise nos bastidores da atração.

O estopim para a carta foi justamente a saída de Gabeh. Os profissionais alegam que atores pediram a demissão do roteirista e ex-BBB. "A implicância ou perseguição, por parte do elenco, com o autor não é de hoje", diz a carta.

Elenco do humorístico Vai que Cola no cenário do programa
Parte do elenco do "Vai que Cola", do Multishow - @marcelomédici no Instagram

Em longa mensagem publicada nas suas redes sociais, Gabeh agradece os roteiristas pelo posicionamento e fala sobre injustiças que sofreu no período em que trabalhou no humorístico.

"Hoje, quem ler o que eles escreveram, vai saber que eu não exagerei quando falei sobre a injustiça que sofri, sobre a maldade que me fizeram e que tive que pisar em ovos para expor, porque o lado mais fraco da corda sempre tem que tomar cuidado pra nunca mais ser chamado pra trabalhar ou virar chacota diante do fandom de pessoas com muito mais visibilidade", diz o ex-BBB.

"A gente sofre três vezes: na hora em que te cometem a violência, na hora que te dizem 'quem é você pra falar de fulano' e na hora que te falam 'esquece', 'deixa pra lá', 'você é melhor do que isso'... Mas essa conversa teremos mais pra frente", prossegue.

Em outro trecho, Gabeh diz: "O que aconteceu comigo não pode acontecer com PROFISSIONAL NENHUM, com pessoa nenhuma, mas dessa vez eu tive a voz de mestres me defendendo e se defendendo."

"Estamos falando dos roteiristas que produzem material para o —atualmente— maior programa de humor do Brasil. Pessoas premiadas, respeitadas, talentosas e muito competentes", acrescenta ele.

Gabeh também afirmou que nunca escreveu "nada político ou militante em nenhum texto" do "Vai que Cola"

"Mesmo se eu surtasse e escrevesse algo desse tipo, os meus supervisores tirariam do texto. E como somos orientados a não falar nada nesse sentido, aí sim eu teria uma demissão justa. Mas repito: NUNCA ESCREVI UMA LINHA POLÍTICA OU MILITANTE para o programa", enfatiza.

Anteriormente, em 7 de agosto, ao falar sobre a demissão, Gabeh disse que, embora recebesse elogios pelo seu trabalho, o "elenco do programa não estava satisfeito" com o que ele escrevia.

"Eles têm todo direito de não gostar e em uma relação profissional as coisas, para dar certo, tem que funcionar para todos. Só estou contando porque vocês iriam me perguntar", disse.

A carta dos roteiristas é assinada por pelo menos seis escritores da fase em gravação atualmente. Sem citar nomes, eles dizem que aceitam críticas construtivas, mas que o desagrado acima do tom sobre o que era escrito por André Gabeh não era necessário. Eles também afirmam que executivos da Globo e da produtora A Fábrica, que cuida da parte técnica do programa, elogiavam o colega.

"Atualmente a atmosfera de trabalho é de apreensão e medo, pois os roteiros recebem diversas críticas infundadas e abstratas. Críticas estas que dizem respeito, na maior parte dos casos, aos gostos pessoais e não à técnica e podem ter consequências desastrosas como a recente demissão do roteirista André Gabeh", afirma a carta.

Entre as revelações, os roteiristas afirmam que parte do elenco não lê o roteiro antes de gravações, o que causa mudanças de última hora. Sem citar exemplos, os escritores comentam que existe uma divisão até mesmo entre os atores, que não concordam com os estrelismos de algumas figuras.

Em nota, o Multishow e a Globo disseram que está acompanhando o caso.

"Desde que tomaram conhecimento da situação, a produtora Fábrica, responsável pela produção, e as equipes da Globo responsáveis pelo conteúdo deram início a um processo de escuta com as lideranças criativas do programa, com o elenco e com os profissionais que relataram supostas situações de abuso. O Código de Ética da Globo estabelece que situações de discriminação e assédio não são toleradas. Quando denúncias desta natureza chegam ao conhecimento do canal, elas são devidamente apuradas e, conforme o caso, são feitos ajustes de processos e outras medidas corretivas", afirmaram as empresas.

LEIA A CARTA NA ÍNTEGRA:

"Nós, roteiristas do programa 'Vai Que Cola" - Temporada 11', escrevemos esta carta para nos solidarizarmos com o roteirista André Gabeh, demitido arbitrariamente a pedido de parte do elenco da série. Queremos deixar claro que somos uma equipe que tem amor pelo "Vai que Cola" e por cada profissional que faz essa série acontecer, por isso, esta é uma carta com afeto, sem intenção de gerar conflito.

André Gabeh é um artista sério, competente, comprometido e que vinha sendo muito elogiado tecnicamente por toda a equipe, produtora Fábrica, Multishow e Globo, ao longo da temporada. São mais de 50 profissionais que acompanham o processo de criação e leitura dos textos. Os roteiros de André Gabeh sempre foram muito elogiados e aprovados com mérito, além de muitas vezes servirem como referência para nós.

André Gabeh é também um escritor preto, gay e periférico, o que é importante ressaltar dentro de um contexto em que "a corda sempre arrebenta do lado mais frágil".Perdemos um roteirista brilhante, um dos poucos suburbanos escrevendo para personagens suburbanos.

A implicância ou perseguição, por parte do elenco, com o autor não é de hoje. Desde o ano passado, André Gabeh vem sendo melindrado e diminuído. E mesmo assim, seguia exercendo seu trabalho com empenho e competência. Recebemos com consternação a notícia de que ele havia sido demitido faltando menos de um mês para encerrarmos a sala de roteiro. Nosso trabalho é feito em equipe e uma perda dessas, além de injusta, pois o mesmo nunca deixou de cumprir prazos e realizar seu trabalho com excelência, abala a todos. Somos profissionais, mas antes de tudo, seres humanos.

Como artistas, respeitamos todos os talentos que fazem do "Vai que Cola" o maior programa de humor do país. Infelizmente o respeito não é recíproco. A maioria dos roteiristas deste programa trabalha há anos no mercado, e já fez parte deste e de outros projetos muito bem-sucedidos e premiados. Temos certeza de que entregamos roteiros com qualidade, mesmo levando em conta as difíceis exigências impostas para a feitura das sinopses, escaletas e roteiros, tais como: prazos apertados, ausência de personagens importantes, indisponibilidade do elenco para gravação etc.

Atualmente a atmosfera de trabalho é de apreensão e medo, pois os roteiros recebem diversas críticas infundadas e abstratas. Críticas estas que dizem respeito, na maior parte dos casos, aos gostos pessoais e não à técnica e podem ter consequências desastrosas como a recente demissão do roteirista André Gabeh.

Gostaríamos de deixar bem claro que não somos contra as críticas construtivas que são sempre acatadas, sem discussão, quando é o caso do enriquecimento e melhoria do resultado final do roteiro. Acreditamos também que é muito saudável ter uma troca com os atores, desde que essa troca seja respeitosa de ambos os lados. Sempre estivemos abertos a fazer adaptações de maneira que cada ator ou atriz brilhe em cena e fique feliz com seu personagem. Contudo, o que vem acontecendo é uma violência psicológica.

A falta de respeito com o programa e com os roteiristas pode ser exemplificada com o fato de que parte do elenco não lê o texto antecipadamente, e não lê o roteiro em sua integridade (apenas as falas de seus próprios personagens), o que naturalmente dificulta o entendimento geral da trama de cada episódio. Pensamos que escrever um programa de comédia deve ser prazeroso, afinal, estamos levando alegria para milhões de brasileiros. Em sua maioria, trabalhadores (como André Gabeh) que fazem este país girar, que precisam rir e se distrair de suas duras realidades.

Amamos escrever para o "Vai que Cola", mas prezamos muito pela nossa saúde mental e abrir mão dela é inegociável.

Esperamos mudanças para que o "Vai que Cola" se torne um lugar saudável e acolhedor não apenas para nós, mas para todos os roteiristas que virão depois e para todos os profissionais envolvidos nessa engrenagem. Não queremos de forma alguma que este momento seja interpretado como uma "guerra de bastidores entre elenco e roteiristas", mas sim como um pedido de paz e respeito.

Gostaríamos também de ressaltar que existem pessoas no elenco que nada têm a ver com isso, cumprindo suas funções com brilhantismo, profissionalismo e cordialidade.

Aguardamos retorno com uma proposta de ação concreta.

Atenciosamente,

Equipe Roteiro "Vai que Cola" - 2023."

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.