O reitor da USP, Carlos Carlotti Junior, diz que a universidade vai "debater para corrigir e aprimorar" o processo de análise de estudantes que se declaram pretos e pardos para ingressar na instituição pelo sistema de cotas raciais. Uma das medidas: as entrevistas com todos eles devem ocorrer de forma presencial, e não mais virtual.
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Os candidatos hoje fazem uma autodeclaração na hora em que se inscrevem no processo seletivo. Posteriormente, para evitar fraudes, comissões da USP avaliam se a informação é verdadeira.
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Na semana passada, a Folha revelou que um estudante aprovado por cotas raciais na Faculdade de Direito da USP entrou com uma ação judicial contra a universidade após perder a vaga por não ter sido considerado pardo. Ele obteve liminar para reverter a decisão. O caso gerou intenso debate dentro e fora da universidade.
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Glauco Dalalio do Livramento, 17, se declarou pardo, mas três comissões da USP encarregadas de analisar a veracidade das informações prestadas discordaram.
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As duas primeiras avaliaram fotografias do candidato, e uma terceira, a comissão de heteroidentificação, conversou com ele em um encontro virtual. "O candidato tem pele clara, boca e lábios afilados, cabelos lisos, não apresentando o conjunto de características fenotípicas de pessoa negra", diz o parecer da comissão.
FACE A FACE
Carlotti afirma que uma das mudanças deve prever que os candidatos se encontrem presencialmente com os integrantes da comissão de heteroidentificação, e não mais por meio virtual _mesmo que isso gere um custo financeiro para a instituição.
FACE 2
"A ideia era facilitar a conversa com estudantes que moram longe de São Paulo", explica ele. O encontro face a face, no entanto, pode dar maior segurança tanto para o aluno quanto para a universidade.
BILHETE
A USP pagaria as passagens dos estudantes. "São cerca de 200 candidatos por ano nessa situação", afirma ele. "É mais barato arcar com o custo das viagens do que deixar qualquer dúvida no ar e expor a instituição", diz Carlotti.
RÉGUA
Um outro enorme desafio, diz ele, é "acertar as réguas" dos critérios usados pelos integrantes das comissões que precisam avaliar quem é negro, quem é pardo e, neste grupo, quem está mais próximo do negro e quem está mais próximo do branco.
RÉGUA 2
Integrantes de movimentos negros, por exemplo, defendem que os pardos com fenótipo mais próximos do dos africanos sejam priorizados. "São eles os mais penalizados pela discriminação, e o espírito da lei é fazer esse resgate", diz Douglas Belchior, professor de história e cofundador da Uneafro Brasil.
BALANÇA
Ele diz que a questão é difícil porque "para um problema complexo como o racismo, não há respostas simples".
BALANÇA 2
Belchior afirma, no entanto, que não se pode cair "em falsa polêmica. As comissões foram criadas para evitar fraudes de brancos se passando por pretos e pardos. E têm acertado em 99% dos casos".
À MESA
O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, foi prestigiado em um almoço realizado pelo Esfera Brasil em São Paulo, na semana passada, que reuniu nomes como o presidente da Febraban (Federação Brasileira de Bancos), Isaac Sidney, e o presidente do conselho do grupo, João Camargo. O presidente do TCU (Tribunal de Contas da União), Bruno Dantas, participou do evento. O presidente do grupo LVMH para a América Latina, Davide Marcovitch, e o CEO da Allos, Rafael Sales, estiveram lá.
com BIANKA VIEIRA, KARINA MATIAS e MANOELLA SMITH; colaborou LUANA LISBOA
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